INVESTIGAÇÃO INTERNA

Sindicância da Emdec não vê favorecimento à Altercamp

Empresa descartou existência de pagamento de propina para fiscalização frouxa contra veículos da cooperativa; Comissão analisou 918 páginas de documentos

Alenita Ramirez/ [email protected]
20/09/2023 às 08:29.
Atualizado em 20/09/2023 às 08:29
Emdec esclareceu que suspendeu a permissão dos três investigados e que acompanha as investigações, colaborando quando solicitada (Rodrigo Zanotto)

Emdec esclareceu que suspendeu a permissão dos três investigados e que acompanha as investigações, colaborando quando solicitada (Rodrigo Zanotto)

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) concluiu que não houve favorecimento ou pagamento de propina para fiscalização menos rigorosa em veículos da Cooperativa Altercamp, alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP). A sindicância interna foi concluída na última sexta-feira e o resultado divulgado na noite de na segunda-feira (18).

A apuração durou 68 dias e teve o prazo prorrogado por duas vezes. Segundo a Emdec, a análise envolveu 21 funcionários que avaliaram 918 folhas de documentos das áreas de inspeção, fiscalização, cadastro, atendimento, remuneração/tarifas e programação do sistema de transporte.

De acordo com o parecer da empresa, na comparação dos dados operacionais com as demais cooperativas e empresas do sistema, a comissão observou que eles não se sobressaem e “que qualquer possível ação de favorecimento a qualquer permissionário, seja com ou sem bônus financeiro, envolveria parte substancial de áreas e colaboradores da Emdec”. O documento final redigido pela Comissão de Sindicância Interna utiliza como exemplo as aprovações documentais, monitoramento e fiscalização (garagem, terminais e itinerários) dos permissionários.

Ainda conforme a Emdec, desde o início da operação feita pelo MP, a empresa presta todas as informações solicitadas e também suspendeu as permissões dos três investigados. “A Emdec acompanha os desdobramentos das investigações e fornece todas as informações que são solicitadas pelo MP”, frisou em nota.

Também por meio de uma nota, a advogada da cooperativa, Daniela Giungi Waldhuetter, disse que o resultado era esperado, uma vez que não houve favorecimento a ninguém. “Nosso compromisso é com o trabalho, com o transporte. Todos os nossos funcionários e diretores trabalham todos os dias visando apenas a continuidade do transporte, cumprindo as premissas do nosso estatuto. O que os permissionários fazem do portão para fora e suas escolhas pessoais não nos dizem respeito”, frisou.

A reportagem tentou falar com um dos promotores públicos envolvidos na investigação, mas até 15h de terça-feira (19) não foi possível. O MP também foi procurado, mas informou que o promotor público que cuida do caso está de férias e retorna no início de outubro.

INVESTIGAÇÃO

No começou de julho deste ano, após prender um grupo de 23 pessoas temporariamente na Operação Sumidouro, o MP-SP constatou que três linhas do transporte público alternativo de Campinas eram usadas para lavagem de dinheiro de uma associação criminosa que trafica drogas usando, inclusive, a tubulação de águas pluviais na Vila Formosa, em Campinas. No caso da cooperativa, segundo a promotoria, três linhas de ônibus eram administradas por membros da organização e em nome de "laranjas".

Os promotores concluíram que a organização lavou cerca de R$ 2,2 milhões com a permissão de três linhas do transporte público alternativo. O montante apurado se referia aos valores recebidos pelos permissionários no período de 2018 e 2019. Deste total, aproximadamente R$ 870 mil foram recebidos pelos criminosos por meio de subsídios pagos pela Emdec.

Os permissionários investigados atuavam com os veículos de prefixos 093, 095 e 351 que atendiam as linhas 249 (Jd. Flamboyant/Parque dos Eucaliptos), 341 (Jd. São Gabriel), 349 (Vila Formosa) e 368 (Jd. Itatiaia), inclusive uma das linhas atende ao bairro que o MP e a Polícia Militar (PM) descobriram o tráfico subterrâneo.

TRÁFICO NA TUBULAÇÃO

As investigações sobre o tráfico praticado por essa associação criminosa tiveram início em abril de 2022. O avanço da apuração culminou em uma operação em dezembro do ano passado, em Jaguariúna e Campinas, com a prisão de um traficante apontado como líder do grupo. Na ocasião, foram apreendidos R$ 306 mil em espécie em dois endereços do suspeito. Ao longo das investigações, a Polícia Militar apreendeu mais de quatro mil pinos de cocaína em uma tubulação na Vila Formosa.

A partir desta prisão, o MP e a PM, através do 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep), deflagraram a Operação Sumidouro, que constatou a participação, nessa associação, de ao menos 26 pessoas que atuavam em pontos de tráfico na cidade, em cargos de gerência, intermediação de venda de quantidades maiores, olheiros, vendedores de pequenas quantidades e também na linha de produção, que eram os responsáveis pela embalagem das drogas em casas onde funcionam refinarias.

Até uma empresa de fabricação de produtos farmacêuticos legalizada estava envolvida com a organização, já que ela era a responsável pelo produção e fornecimento dos eppendorfs usados no comércio ilegal de drogas. Na época, os policiais militares apreenderam nesta empresa, em Campinas, cinco milhões de eppendorfs. Na casa da proprietária, em Sumaré, foi encontrada uma quantia de R$ 138,4 mil.

Nas operações, os mandados de busca, apreensão e prisão foram cumpridos em Campinas, Paulínia, Hortolândia, Itatiba, Sumaré e Presidente Prudente. Em Campinas, os mandados foram cumpridos nos bairros São Fernando, Jardim Itatiaia, Jardim Samambaia, Vila Formosa e Jardim Paranapanema. Também foram apreendidos, na época, documentos, aparelhos celulares e drogas.

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