Resíduos como alimentos, metais, vidros, galhos e entulhos são integralmente aproveitados; toda água consumida também é tratada e destinada ao reúso
A estação de tratamento de esgoto do centro comercial tem capacidade para produzir 22,5 mil metros cúbicos de água de reúso por mês, a maior parte destinada à irrigação e limpeza (Alessandro Torres)
O Parque D. Pedro Shopping, outrora considerado o maior centro de compras da América Latina, atualmente o maior da região, consolidou seu projeto de sustentabilidade e chegou a 100% de reciclagem de seus resíduos. Isso significa que o empreendimento, que recebe cerca de 1,6 milhão de visitantes por mês e gera cerca de 6 mil empregos diretos, reutiliza integralmente restos de alimentos, materiais recicláveis, dejetos de construção civil, óleos e podas de seus jardins. Além disso, o shopping também atingiu 100% de reúso de toda a água consumida em suas dependências.
Autossuficiência sustentável, entretanto, não aconteceu do dia para a noite. Para chegar ao patamar atual, todo um sistema operacional, que compreende desde a conscientização dos funcionários à fiscalização da emissão de resíduos, precisou ser trabalhado ao longo de 21 de atividades. Nesse período, uma das iniciativas tidas como importantes foi firmar parcerias com empresas licenciadas que cuidam de maneira segregada de todo o material descartado.
A média mensal de resíduos é de 420 toneladas. O maior volume é de lixo orgânico, composto por sobras de comida da praça de alimentação e dos restaurantes: 140 toneladas. Em seguida estão os resquícios de jardinagem, com cerca de 100 toneladas. O terceiro lugar é ocupado pelos papéis e papelão, com volume de 75 toneladas. Por fim, o ranking é ocupado por lodo (60 toneladas), plástico (25 toneladas), metal (9 toneladas), madeira e paletes (6 toneladas), vidro (5 toneladas), óleo de fritura (600 kg) e bitucas de cigarro, que correspondem a 2,8 quilos. Há ainda os resíduos de construção civil, que somam em média 10 toneladas, embora haja variação no volume a depender da quantidade de obras realizadas no shopping durante o mês.
O esquema sustentável do shopping destina cada tipo de resíduo para um parceiro, geralmente especialista no segmento. Papel e papelão, por exemplo, são entregues a uma indústria de celulose, que fabrica novas caixas de papelão. O plástico é destinado a cooperativas que o reciclam, promovendo seu retorno à cadeia produtiva do material. O mesmo acontece com o metal.
O vidro é encaminhado para empresas que realizam novos utensílios com o material. A madeira e os paletes são reutilizados na fabricação de novos paletes, que são muito usados pelo setor de logística, que tem grande atuação no centro de compras em razão do abastecimento das lojas.
Os materiais orgânicos são destinados à compostagem ou fabricação de ração animal. Os restos de jardinagem e o lodo também são levados à compostagem. As bitucas de cigarro, material que geralmente vai parar em bueiros e contribui para a ocorrência de enchentes, é reutilizado pela indústria de papel. Óleo de fritura é utilizado na fabricação de sabão e biodiesel. Por fim, os materiais provenientes da construção civil são enviados para outros processos como reformas, reparos de pavimentação e terraplanagem.
O superintendente do Parque D. Pedro, Marcelo Zaffalon, explica que o sistema de reutilização dos materiais só foi possível após um percurso traçado religiosamente pelo empreendimento. Entre as ações estão a contratação de empresa que cuide da segregação resíduos, conscientização dos funcionários e alinhamento com lojistas.
"Este é um resultado fantástico, que só conseguimos alcançar com o apoio de todos: equipe de operações e, especialmente, os lojistas, nossos parceiros, e seus colaboradores. Desde novembro do ano passado, os rejeitos são direcionados a uma empresa que faz uma nova segregação, e os materiais que não são aproveitados para reciclagem são direcionados para coprocessamento. Esse processo transforma os materiais considerados não reutilizáveis em combustível derivado de resíduos, utilizado para substituir combustíveis fósseis, principalmente na fabricação de cimento. Essa é uma forma ambientalmente adequada de aproveitar a energia gerada pela queima desses materiais", explica.
No rol de ações há ainda uma série de detalhes que contribuem para o êxito das ações sustentáveis. As lixeiras dos corredores, por exemplo, são separadas para diferentes tipos de resíduos. Há também uma empresa que atua no gerenciamento das coletas, pegando o material e fazendo o trabalho logístico até cada empresa específica o receba. "Nós já trabalhávamos com a coleta seletiva, mas somente com essas parcerias conseguimos dar o destino adequado para cerca de 15% dos rejeitos, que antes eram enviados ao aterro sanitário", informa a assessoria de comunicação do Parque D. Pedro.
ECOSSISTEMA
Além da reciclagem, o shopping também tem trabalhado para o consumo consciente de água e energia. Desde 2002 há o reúso de água e, atualmente, 100% do volume descartado é tratado em uma estação própria, que tem capacidade mensal de 22,5 mil m³, suficiente para abastecer uma população de 2,5 mil habitantes durante dias.Da água tratada, 90% são utilizados para uso não potável, como irrigação e limpeza de piso externo.
Outro exemplo é o uso para abastecimento da rede de resfriamento do shopping. "A água tratada para reúso é primordial para as torres de resfriamento, que geram o ar-condicionado que atende todo o shopping", explica Zaffalon.
A iniciativa conferiu ao Parque D. Pedro, em 2022, o Prêmio Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) de sustentabilidade em políticas de reuso de água. A eficiência energética também recebe atenção contínua. Em 2022, o empreendimento conseguiu manter o consumo igual ao de 2021, quando o shopping passou por um período fechado, em razão da pandemia de covid-19. Essa conquista, segundo o superintendente, é resultado de atualização de equipamentos, manutenção preventiva e orientação para consumo consciente, além do aproveitamento da iluminação natural.
"Desde a nossa construção até o atual momento, na revitalização do shopping, o Parque D. Pedro sempre se preocupou com a sustentabilidade. É um novo olhar sobre a proposta original: ser um parque com relevância da luz natural e ter áreas verdes com implementação de novo paisagismo para receber os visitantes", afirma Zaffalon, que lembra que essas ações levaram o shopping a também conquistar, em 2018, o primeiro lugar no Prêmio Abrasce na categoria Newton Rique de Sustentabilidade.