EM VIRACOPOS E RODOVIÁRIA DE CAMPINAS

Setores de achados e perdidos guardam inúmeras surpresa

Já foram encontrados fogão, prótese mecânica, dentaduras e até óvulo para fertilização

Henrique Oliveira/ [email protected]
11/11/2022 às 09:22.
Atualizado em 11/11/2022 às 09:22
Assistente administrativa Nádia Bueno trabalha no setor de achados e perdidos de Viracopos, cujo depósito fica na sala ao lado da sede da Polícia Federal, no piso térreo do aeroporto (Gustavo Tilio)

Assistente administrativa Nádia Bueno trabalha no setor de achados e perdidos de Viracopos, cujo depósito fica na sala ao lado da sede da Polícia Federal, no piso térreo do aeroporto (Gustavo Tilio)

Pranchas de surfe, fogão, botijão de gás, próteses mecânicas, dentaduras e até óvulo para fertilização são somente alguns dos objetos já localizados pelas equipes do setor de achados e perdidos do Aeroporto Internacional de Viracopos e do Terminal Rodoviário de Campinas. São cerca de 600 produtos encontrados por mês que geram às equipes do aeroporto campineiro o desafio de catalogar todos os itens e tentar identificar seus proprietários.

A assistente administrativa Nádia Bueno é a responsável pelo acondicionamento, registro e devolução dos itens achados no aeroporto. Três vezes por dia, ela faz rondas pelos terminais de embarque, desembarque, saguão e sanitários para localizar objetos que passageiros, por ventura, tenham deixado para trás.

O depósito de achados e perdidos na sala ao lado da sede da Polícia Federal, no piso térreo do aeroporto, é repleto de surpresas. Monitorada por câmeras de vigilância, o local tem acesso restrito. Com autorização, a equipe do Correio Popular verificou a grande quantidade de objetos esquecidos por passageiros, que são vistoriados, registrados e recebem uma etiqueta de acordo com o sistema do aeroporto. Tudo é separado por mês. Os objetos são submetidos à vistoria em aparelhos de raio-x, para identificar eventuais esconderijos de drogas e explosivos.

Os documentos pessoais são os recordistas entre os objetos encontrados. As prateleiras da sala estão lotadas de apoios para pescoços, geralmente utilizados por passageiros em longas viagens.

Objetos inusitados

Os objetos esquecidos no aeroporto variam de curiosos e inusitados. Há nove anos trabalhando no setor, Nádia conta que, no saguão, foi encontrada uma caixa térmica especial, dentro da qual havia um óvulo humano. Ela relata que rapidamente o dono foi encontrado — era funcionário de um laboratório médico. Antes desse episódio, ela conta que também foi encontrada outra caixa térmica com recipientes provenientes de exames de 'Papanicolau'. A caixa tinha a identificação do laboratório e, assim, foi devolvida ao responsável com auxílio da companhia aérea. 

Outra bagagem deixou surpresos os funcionários do aeroporto. Uma pequena mochila amarela, que estava embaixo de um banco do saguão continha materiais que aparentemente são utilizados em rituais religiosos: velas de diversas cores, um recipiente com corações de galinha e farofa, além de anotações. Ninguém reclamou da perda do objeto no setor do aeroporto.

Em outro episódio, Nádia lembra de uma mala, com ilustrações infantis. Dentro, foram achadas ferramentas de construção civil, como pás e marretas. Porém, ao vasculhar minuciosamente a bagagem, foram encontrados artigos de sex-shop enrolados em jornais. Todo esse material foi descartado. 

Ainda dentro do quesito inusitado, Nádia conta que muletas, bengalas e até cadeira de rodas são deixados para trás por passageiros. Para viajar com sua cadeira de rodas, o passageiro tem de despachar bagagem, tanto nos voos domésticos como nos internacionais. 

E mais incomum ainda: os funcionários do setor disseram que uma passageira relatou ter perdido sua prótese de mão. Ela alegou que retirou a prótese para realizar alguma manutenção ou limpeza e que não mais a encontrou. O objeto não foi localizado. 

Nádia conta ainda que recebeu a ligação de uma pessoa perguntando se foi encontrada uma dentadura no aeroporto. E realmente havia sido localizada. Diante disso, na ligação, a pessoa pediu para a funcionária contar o número de dentes do objeto. Como o objeto condizia com as especificações, o homem foi até o setor e acreditou que aquela era realmente sua dentadura, e foi embora. Porém, logo retornou à sala de achados e perdidos para devolver o objeto. Disse que ao experimentá-la, constatou que 'não se encaixava em sua boca'. 

Até mesmo um gato já foi encontrado pelos agentes no estacionamento do aeroporto. A Vigilância Agropecuária foi acionada para adotar as providências adequadas. 

Objetos de valor

Em uma caixa grande de plástico estão os telefones celulares, aos montes, embalados em pequenos sacos e etiquetados. Na mesma caixa, há dois notebooks, relógios e óculos de grau e Sol.

Até dinheiro em espécie — de vários países do mundo — já foi achado, comumente dentro de pochetes ou pequenas embalagens. Os valores chegaram a R$7 mil. "Quando há um documento, nós entramos em contato, mas na maioria das vezes, são os passageiros que ligam para saber se os itens foram localizados", diz Nádia, lembrando que o aeroporto não disponibiliza um serviço de devolução por meio de Correios ou empresa do gênero. "Nas buscas pelos donos de dinheiro, temos o auxílio das companhias aéreas e da Polícia", cita Nádia.

Famosos 'esquecidinhos'

Sem citar nomes, por questão de ética, Nádia conta que famosos também já foram buscar objetos perdidos em Viracopos, como artistas sertanejos, músicos, atores de filmes e novelas. "Entre os famosos, o mais comum é perderem celulares", pontua Nádia. 

Jaca, fogão e botijão de gás

No Terminal Rodoviário de Campinas, também há os 'esquecidinhos'. O fluxo de passageiros no único terminal de ônibus interestaduais de Campinas é grande durante todos os dias, o que facilita a perda de objetos. O terminal também possui um setor de achados e perdidos, e ali objetos inusitados também são encontrados: dentadura, botijão de gás, prancha de surfe, tanquinho de lavar roupas, fogão, cadeira de balanço, muleta, etc.

Os objetos mais comuns achados são roupas, guarda-chuvas e documentos. 

Atenção com a bagagem

Ao caminhar pela Rodoviária de Campinas, é comum flagrar pessoas que deixam, mesmo que por um momento, bagagens ou pertences descuidados. Este foi o caso da garçonete Rayssa Antônio Silva, que estava a caminho de sua cidade, Birigui (SP), na companhia do filho Alex Lourenço, de 5 meses.

Por um momento, Rayssa saiu de perto de sua bagagem para se dirigir até o ponto de carregamento de bateria de celulares, distante apenas 20 metros. Ela alegou que do local do carregador conseguia vigiar sua bagagem. "De lá estava de olho na bagagem. Fico sempre atenta às movimentações do local", se defende. 

A história da técnica de enfermagem Elisângela Santos é um pouco diferente. Por desatenção, ela deixou uma de suas bagagens na esteira do Aeroporto de Congonhas em São Paulo (SP) e viajou de ônibus para Campinas. "Eu estava com mais 11 pessoas vindo de Belém para o casamento de meu filho, em Hortolândia. Ao pegar duas malas e um isopor com açaí e cupuaçu, eu deixei a mala na esteira. Agora, vou lá buscar a mala, pois nela está o presente de casamento de meu filho", conta, rindo do ocorrido. Então, estava quinta-feira na Rodoviária, aguardando o ônibus para voltar ao aeroporto em SP. 

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