Setor de serviços puxa crescimento nos empregos

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou a criação de 3.913 postos de trabalho em setembro, alta de 15,83% em comparação aos 3.430 de igual mês de 2022. O resultado é mostrado pela pesquisa mensal de emprego realizado pelo Observatório PUCCampinas com base nos dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. O aumento foi mais uma vez puxado pelo setor de serviços, que gerou quase sete em cada dez novas vagas com Carteira de Trabalho assinada.

O setor foi responsável pela geração de 2.683 postos na RMC em setembro, o equivalente a 68,57% do total, porém todas as áreas registraram resultado positivo, com o número de admissões superando o de demissões. O segundo setor a gerar mais vagas foi o comércio, com 490 novas oportunidades, seguido pela construção civil (379), indústria (190) e agropecuária (171). A RMC fechou setembro com o estoque de 1,04 milhão de empregos. Para a economista Eliane Navarro Rosandiski, responsável pelo estudo, o desempenho do emprego “é um sinal positivo, mas poderia estar melhor”. De acordo com ela, que também é professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, o resultado é reflexo dos indicadores do segundo semestre deste ano, que apontam para uma retomada econômica.

A especialista elenca alguns fatores principais que contribuem para essa retomada. O primeiro é a inflação sob controle, especialmente em relação aos alimentos básicos, e a tendência de queda da taxa básica de juros, a Selic. Na reunião do dia 1º passado, o Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central definiu o índice em 12,25% ao ano, a terceira redução seguida desde agosto, com o acumulado de 1,5 ponto percentual. Até julho, a taxa era de 13,75%.

A pesquisadora do Observatório PUC-Campinas também cita o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um pacote de obras apresentado pelo governo federal para gerar empregos, a política de valorização dos programas sociais de distribuição de renda e a aprovação da reforma fiscal na Câmara Federal, que agora tramita no Senado. “Tudo isso aponta para um ambiente econômico mais favorável neste final de ano e no começo de 2024, que não deve ser tão tenso quando este”, afirmou. Ela apontou que apenas fatores externos, entre elas as guerras, como a de Israel, podem prejudicar essa tendência.

RESULTADO

A inauguração de um novo restaurante fast-food no Cambuí, em Campinas, o terceiro da rede na cidade, contribuiu para a geração de vagas. Os empresários Juliano Zorzetto, Léo Oliveira e André Nini investiram R$ 3,5 milhões na unidade de 281 metros quadrados que abriu 25 empregos diretos. Ela é a primeira unidade do país a contar com serviço de drive-thru, com os clientes podendo fazer e retirar o pedido sem sair do carro.

“Estamos apostando em um formato de unidade que traz muita agilidade para toda a operação e para os clientes que acessam essa avenida movimentada de Campinas”, disse Juliano Zorzetto. A rede atende cerca de 40 milhões de pessoas por semana, contando com 8 mil restaurantes espalhados por 32 países. No Brasil, são 30 unidades localizadas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Das 20 cidades que compõem a RMC, 16 tiveram saldo positivo de empregos em setembro. Campinas liderou a criação de novos empregos, com 1.723 com carteira assinada. O ranking das cinco cidades com maior número de postos gerados ainda tem Paulínia (438), Santa Bárbara d'Oeste (414), Jaguariúna (239) e Sumaré (223). Por outro lado, os quatro municípios que tiveram desempenho negativo foram Cosmópolis (-47), Santo Antônio de Posse (-41), Engenheiro Coelho (-13) e Hortolândia (-39).

No acumulado dos nove primeiros meses deste ano, a RMC registrou a criação de 33.990 empregos, queda de 34,93% em relação aos 52.234 de janeiro a setembro de 2022. No entanto, a economista Eliane Navarro Rosandisky observou que a comparação é desproporcional, uma vez que no ano passado a economia ainda estava num período de recuperação pela crise gerada pela pandemia de covid-19. Para ela, a Região Metropolitana e o país estão com base que pode ser considerada normal neste ano.

QUALIDADE

Em setembro, as mulheres lideraram as contratações, com participação de 56,66% do total. Elas ocuparam 2.217 dos postos criados, contra 1.676 pelos homens. De acordo com o estudo do Observatório PUCCampinas, entre as vagas abertas, 2.733 foram para pessoas com Ensino Médio completo, com média salarial de R$ 2.017, valor ligeiramente inferior aos R$ 2.078 pagos aos trabalhadores demitidos no mês com o mesmo nível de escolaridade.

O salário médio de todos admitidos ficou em R$ 2.162, que também é inferior à média regional de R$ 2.250. O valor é puxado para baixo principalmente porque as contratações se concentram entre trabalhadores de 18 a 24 anos (2.132 vagas), com a remuneração nessa faixa etária girando em torno de R$ 1.870. A economista Eliane Rosandiski avalia que a análise das vagas criadas em setembro mostra que elas são principalmente temporárias e também evidencia a terceirização das atividades-fim de produção, solução encontrada pelas empresas para redução dos custos e à espera de um quadro econômico mais sólido.

“É positiva a sequência de aumento de emprego, que mostra uma reação da economia, mas as vagas criadas ainda não têm a qualidade que se espera”, explicou a professora da PUC-Campinas. Para ela, essa é uma estratégia válida para esse momento da economia, que deve ser modificada com a efetivação de um cenário mais positivo no futuro. 

REFLEXO

O crescimento na oferta de emprego levou o Centro Público de Apoio ao Trabalhador de Campinas (CPAT) a atingir em outubro o acumulado de 7.769 vagas oferecidas em 2023, ultrapassando as 7.086 de todo ao ano de 2022. O órgão da prefeitura registrou no mês passado o novo recorde mensal de vagas, com o total de 1.168. Foi o terceiro mês de 2023 que superou a marca de mil empregos ofertados mensalmente. Julho, com 1.094 vagas, e setembro, com 1.109, foram os outros dois meses.

Para o secretário de Trabalho e Renda, Gustavo Tella, os números de outubro refletem a consolidação da retomada econômica no pós-pandemia, da melhoria do atendimento e do aumento da adesão dos empregadores aos serviços do CPAT. “Aliados a essa retomada econômica que se consolida a cada dia, trabalhamos na diversificação do atendimento com o chat e sempre com foco em trazer mais vagas para o CPAT”, afirmou.

O crescimento do emprego na RMC atrai até trabalhadores de outros Estados. Desempregado há seis meses, o eletricista Jefferson Figueiredo Trindad chegou há oito dias da Bahia para tentar uma vaga em Campinas, onde a irmã mora há nove anos. “Aqui é mais fácil para quem não tem curso superior conseguir um emprego”, disse o eletricista que esteve na segunda-feira (6) no CPAT e saiu de lá com indicação para entrevista para uma vaga.

“Emprego não falta, mas as empresas estão mais exigentes na seleção”, disse, por sua vez, o operador de empilhadeira Leandro Oliveira. Ele também conseguiu uma indicação de emprego e espera ser aprovado dessa vez. O operador está há seis meses sem carteira registrada e o segurodesemprego vai somente até dezembro.

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