LUTA DIÁRIA CONTRA A DOENÇA

Sete bairros da região do Carlos Lourenço recebem mutirão contra a dengue

Mobilização de combate aos criadouros do Aedes aegypti contou com a presença de 150 servidores e setenta voluntários

Daniel Rocha/ [email protected]
07/04/2024 às 10:47.
Atualizado em 07/04/2024 às 10:47
Agentes de saúde da Prefeitura de Campinas e voluntários vistoriam as condições de um terreno abandonado no bairro Santa Eudóxia, na região do Jardim Carlos Lourenço, em busca de possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue e outras doenças (Kamá Ribeiro)

Agentes de saúde da Prefeitura de Campinas e voluntários vistoriam as condições de um terreno abandonado no bairro Santa Eudóxia, na região do Jardim Carlos Lourenço, em busca de possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue e outras doenças (Kamá Ribeiro)

Agentes de saúde, voluntários e trabalhadores de uma empresa terceirizada de controle de pragas percorreram sete bairros da região Sul de Campinas neste sábado, 6 de abril, em uma ação coordenada para inspecionar imóveis e orientar a população sobre a prevenção contra o mosquito Aedes aegypti, vetor dos vírus da dengue, chikungunya, zika e febre amarela urbana. Este foi o décimo mutirão realizado este ano e cobriu a última área pendente de vistoria. O balanço das atividades será divulgado na segunda-feira, dia 8.

No último relatório do Painel de Monitoramento de Arboviroses de Campinas, foi registrado um total de 42.390 casos de dengue, com oito óbitos, até a data de sábado (6). Com esses números, a cidade está próxima de superar sua segunda maior epidemia da doença desde o início da série histórica em 1998. O recorde em número de casos continua sendo do ano de 2015, quando ocorreram 22 mortes e a cidade enfrentou sua pior epidemia, com um total de 65.754 casos.

A ação deste sábado contra a dengue mobilizou 150 servidores da Secretaria Municipal de Saúde, incluindo agentes de saúde, além de pelo menos setenta voluntários. Eles contaram com o apoio de quinze equipamentos, incluindo caminhões e máquinas, para auxiliar nos trabalhos. A expectativa é de que aproximadamente 400 toneladas de entulho sejam recolhidas ao final da mobilização, somando-se às outras 600 toneladas já coletadas ao longo da semana.

A ação, de natureza multissetorial, contou com o respaldo de profissionais das secretarias de Serviços Públicos, Habitação, Educação, Assistência Social e Trabalho e Renda, além da participação da Guarda Municipal, Defesa Civil, Sanasa e Emdec. O ponto de concentração das equipes foi no Centro Educacional Integrado (CEI) Maria Antonina Mendonça de Barros, situado no Jardim Santa Eudóxia. Além deste local, os agentes e voluntários também percorreram os seguintes bairros: Jardim Andorinha, Jardim Itatiaia, Jardim Carlos Lourenço, Jardim New York, Jardim São Fernando e Vila Orozimbo Maia.

Segundo Fausto Marinho, coordenador do Programa de Arboviroses da Prefeitura de Campinas, a escolha dos locais para realização dos mutirões leva em consideração questões técnicas, como o número de casos de dengue, a necessidade de remoção de resíduos, muitas vezes devido ao descarte irregular de lixo, e a demanda por assistência à população. Ele acrescenta que, em diversos casos, durante os mutirões, são empregados recursos de drones para a inspeção de imóveis abandonados ou desocupados que possam servir como criadouros do mosquito Aedes aegypti.

É frequente que a Prefeitura já tenha conhecimento desses imóveis por meio de denúncias prévias, ressaltando que a entrada de agentes em locais abandonados ou desocupados geralmente não ocorre durante os mutirões, mas sim em fases subsequentes. "Identificamos a situação, usamos drones para confirmar se há necessidade de intervenção direta e, posteriormente, realizamos a incursão. Seguimos um protocolo específico: tentamos inicialmente contatar o proprietário e, somente em último caso, se necessário, adentramos o imóvel com o auxílio de um chaveiro para controlar possíveis focos de mosquitos", esclarece Marinho, coordenador do Programa de Arboviroses.

Marinho destaca que todos os participantes do mutirão estão conectados através de um grupo no WhatsApp. Assim que situações de risco são identificadas, fotos são enviadas junto com as informações das ruas afetadas, permitindo que as medidas necessárias sejam tomadas para resolver o problema.

A agente de saúde Rosalva de Andrade Mendonça, com vinte anos de experiência na área, destaca a recusa dos moradores como uma das maiores dificuldades encontradas durante as visitas domiciliares para combater a dengue. No entanto, ela relata que neste sábado as atividades transcorreram sem contratempos. "Nós percorremos um quarteirão bastante extenso e apenas duas recusas foram registradas. Muitas pessoas se sentem invadidas em sua privacidade ao permitir nossa entrada. No entanto, mesmo diante dessas situações, realizamos orientações através da entrega de folhetos e diálogo sobre a dengue e suas formas de prevenção", explica Rosalva.

Jéssica Felipe, residente do Jardim Santa Eudóxia, recebeu os agentes durante o mutirão e enfatiza a importância de abrir as portas de casa para eles. Segundo Jéssica, a presença dos agentes é crucial, pois sem adentrar as residências, a chance de identificar focos do mosquito da dengue é praticamente nula. "É importante que eles nos instruam, porque apesar de informações sobre o assunto estarem amplamente divulgadas na mídia, muitas pessoas ainda não sabem como agir. A presença da equipe de combate à dengue possibilita essa conscientização", afirma Jéssica.

A advogada Aparecida Barbosa, também moradora do mesmo bairro, ressalta a importância do trabalho dos profissionais do mutirão, especialmente porque "às vezes, em nossas próprias residências, há recipientes ou plantas com água parada, onde larvas do mosquito podem proliferar sem que percebamos. As pessoas deveriam colaborar mais com os agentes, afinal, eles chegam devidamente identificados e a ação não leva mais do que cinco minutos. Esse olhar especializado deles é importante", conclui Aparecida.

Voluntariado

José Fernando Pereira Costa foi um dos voluntários que se engajaram na ação deste sábado. Ele relata ter participado de quatro mutirões este ano e enfatiza seu voluntariado não apenas como uma forma de auxílio, mas como uma atividade pela qual tem genuíno apreço. "Poder conscientizar a população sobre a importância da limpeza de suas residências para evitar a proliferação do mosquito transmissor da dengue é crucial. Temos encontrado muito entulho nas calçadas e, em algumas casas, diversos problemas relacionados aos pratos que ficam sob os vasos. Sinto-me bem em contribuir, informando a comunidade sobre como prevenir os focos de reprodução", explica Costa.

Para Tânia Silva Hortêncio Pirani, o voluntariado é uma questão de cidadania. Participante pela primeira vez, ela destaca que, embora a população em geral seja receptiva, há também uma certa resistência. "Alguns nos atenderam pela janela, por exemplo. No entanto, com um pouco de conversa, as pessoas vão se mostrando receptivas e acatam nossas orientações. Algumas até nos convidaram para entrar e verificar se está tudo em ordem. No geral, fomos muito bem acolhidos", relata ela.

ESTADO DE EMERGÊNCIA

O prefeito Dário Saadi (Republicanos) decretou estado de emergência em Campinas em 7 de março devido ao alto número de casos de dengue na cidade. Essa medida tem possibilitado a implementação de ações necessárias para conter o aumento de casos da doença com maior flexibilidade, dispensando a necessidade de licitação.

Entre as ações estão o redirecionamento de recursos financeiros e a agilidade na aquisição de insumos, soro e materiais para nebulização, além do pagamento de horas extras e a eventual contratação de pessoal para reforçar a assistência. O decreto também viabiliza o recebimento de apoio financeiro do Ministério da Saúde para auxiliar nas ações de prevenção e combate à doença.

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