Criminoso preso em 2012 usou o nome do seu filho para registrar boletim de ocorrência e desde então o adolescente é convocado para depor no fórum
Iriene de Moraes, em frente ao primeiro DP de Campinas, tentar provar para a Justiça que filho de 16 anos é inocente (Alenita Ramírez)
A servidora pública Iriene de Moraes, de 38 anos, tenta provar para a Justiça que o filho, um adolescente de 16 anos, é inocente e nunca foi preso. O drama da servidora começou em 2014, quando o filho, na época com 14 anos, foi intimado a comparecer no Fórum de Sumaré para responder a um processo criminal. “Entramos em pânico. Meu filho é estudioso, não é envolvido com nada”, contou Iriene. Ao ir no fórum, Iriene descobriu que um bandido maior de idade havia cometido um furto a um comércio e, na hora do flagrante, em Campinas, usou o nome do menino para se identificar. O crime aconteceu em dezembro de 2012, quando o adolescente tinha 13 anos. Na época, o ladrão deu o nome e o endereço do estudante, mas apresentou a data de nascimento e o nome da mãe dele mesmo. “Falei que meu filho era menor e apresentei todos os documentos. A partir de então passaram a tratar o caso como de sigilo. Não tive acesso aos autos. Me mandaram contratar um advogado, mas eu não tenho condições. Já apresentei todo tipo de documentação para a Justiça, mas continuam intimando o meu filho”, falou. “Já tentei fazer boletim de ocorrência (BO) para garantir a integridade do meu filho, mas se recusam. Eu só quero provar que meu filho é inocente e não se trata da mesma pessoa”, frisou. Recentemente, o adolescente foi intimado para prestar esclarecimento no 1º Distrito Policial (DP) de Campinas, onde foi registrado o flagrante em 2012. Depois que a Justiça foi informada do equívoco, encaminhou ofício para o DP pedindo apurações. O flagrante foi feito por um delegado plantonista. Na época, o ladrão foi preso após furtar 80 maços de cigarro e outros objetos. O suspeito estava sem documento e se apresentou com o nome do adolescente. Ele forneceu data de nascimento e o nome da mãe dele. No ato de prisão, foi tirada a impressão digital do suspeito e encaminhada para o Instituto de Identificação “Ricardo Gumbleton Daunt” (IIRGD). O resultado ficou pronto em 30 dias e apontou que “não havia condição de pesquisa”, ou seja, não tinha como confirmar quem era realmente o preso. O processo seguiu o curso, usando o nome do adolescente. “Como era uma pessoa que vivia em situação de rua e viciada em crack, há um desgaste das digitais. O dedo fica encardido e a ponta queimada. Isso dificulta a identificação”, comentou um policial civil. Na época, ao ser preso, o suspeito não quis fornecer o telefone e nem que a família fosse comunicada. “Respeitamos esse pedido até porque é um direito do preso e consta em lei”, frisou o policial. “Acreditamos que o preso fez esse pedido na época, de caso pensado e conhecia o dono do nome”. Até ontem, a identidade do preso era um mistério tanto para a polícia como para a servidora pública. Ao comparecer no cartório para prestar esclarecimentos, a escrivã apresentou a foto do preso que usou o nome do adolescente e a mulher suspeita que se trata de um sobrinho, desaparecido há anos. Com medo de fazer falsa acusação, Iriene se recusou a reconhecer o sobrinho como autor do crime e deixou a delegacia indignada. “Vou levar meu filho para fazer exame grafotécnico e provar que ele é inocente. Não sei até que ponto o acusado é meu sobrinho ou não. Quero que a polícia descubra isso. Houve um erro, e quem errou tem que consertar. Meu filho está revoltado e já não vive mais em paz”, disse. Iriene promete ir no Ministério Público (MP) quinta-feira para buscar ajuda e provar que o filho é inocente.