A cidade totalizou mais de 425 mil devedores em julho, 10% a mais que 2021
O maior número de dívidas refere-se a cartões de crédito e bancos; o levantamento aponta que 34% dos inadimplentes usam o cartão de crédito para cobrir despesas fixas, como contas de água, luz e gás (Gustavo Tilio)
Diante de novo recorde de inadimplência, a Serasa Experian lançou uma força-tarefa de renegociação de dívidas com maior prazo de pagamento para tentar reduzir o volume de débitos. Em Campinas, o número de devedores chegou a 425.102 pessoas em julho, de acordo com a empresa de análise de crédito, o que representa alta de 10,21% em comparação aos 385.706 do mesmo mês do ano passado. Foi o décimo mês consecutivo de alta, com a sequência iniciada em outubro de 2021, quando o total de consumidores com dívidas era de 400.107.
Em julho, o crescimento foi de 0,79% em relação aos 421.748 inadimplentes do mês anterior. Segundo a empresa de análise de crédito, a força-tarefa de renegociação oferece até 90% de desconto nos juros e multa, com possibilidade de parcelamento em até 36 vezes também sem juros. No ano passado, o prazo máximo era de 12 parcelas. "Quando um inadimplente renegocia o débito, a dívida sai de seu nome logo após pagar a primeira parcela, o que o auxilia a retomar o crédito", explica a gerente do Serasa Limpa Nome, Aline Maciel.
A negociação é feita por telefone, aplicativo, site, WhatsApp ou agências dos Correios.
De acordo com a Serasa, o montante de inadimplência em Campinas gira em torno de R$ 2,2 bilhões, que também é recorde. Isso representa uma dívida média de R$ 5.195,00 entre os devedores.
Segundo a empresa, o setor de bancos e cartões é o que registra o maior número de dívidas (28,6% do total), seguido pelo de utilities, o que inclui contas básicas com água, energia elétrica e gás (22,2%). Depois, aparecem as financeiras (13,7%), varejo (12,4%), serviços (10,1%), telefonia (6,8%) e securitizadoras (2,1%).
O levantamento estima ainda que 41,8% da população adulta no Brasil esteja inadimplente e a maior parte das pessoas com nomes negativados tenha entre 26 e 60 anos, representando 47,2% do total.
Em todo o País, o número de devedores chega a 67,6 milhões, com o Estado de São Paulo ocupando o primeiro lugar no ranking, com 16 milhões de pessoas. Em segundo lugar, aparece o Rio de Janeiro, com 6,8 milhões de inadimplentes, com Minas Gerais na terceira colocação, 6,4 milhões.
Sempre no vermelho
Antonia da Silva Pessoa diz que a aposentadoria não é suficiente para manter em dia o pagamento das contas, com os atrasos sendo constantes. "Eu sempre faço empréstimo para cobrir as contas", afirma. Ontem, ela estava em uma financeira no Centro em busca de um novo crédito para limpar o nome.
As empresas de crédito anunciam várias formas de liberação de financiamento, que incluem ajuda na liberação de parcela do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), negociação sem consulta aos serviços de proteção ao crédito, financiamento de veículos e concessão de empréstimos consignados para aposentados, pensionistas e funcionários públicos. O saque extraordinário de R$ 1 mil do FGTS teve início em março passado para cerca de 42 milhões de trabalhadores brasileiros.
Para o economista Luiz Rabi, "os recordes consecutivos da inadimplência no País refletem a alta da taxa básica de juros e a inflação ainda elevada, que impactam a realidade financeira dos brasileiros", diminuindo o poder de compra dos consumidores. Para ele, o cenário deverá levar algum tempo para se estabilizar, com a inadimplência devendo seguir em alta nos próximos meses.
Fonte das dívidas
O levantamento inédito "Comportamento Financeiro das Classes CDE", realizado em parceria pela Nath Finanças e Opinion Box, empresa de pesquisa online, mostra que 71% dos consumidores dessas classes sociais estão recorrendo ao cartão de crédito para comprar alimentos, um item básico de sobrevivência. O índice chega a 75% quando se fala exclusivamente da classe C, a chamada classe média. "Isso mostra que as pessoas estão dispostas a correr o risco de endividamento para manter o seu nível de consumo para comer", explica o head de Marketing do Opinion Box, Dani Schermann.
O levantamento foi feito de forma online com 2.072 pessoas de todo o País, com as classes CDE representando 80% da população brasileira. O estudo mostra ainda que 34% dos participantes do levantamento utilizam o cartão de crédito para cobrir despesas fixas, como as contas de água, luz e gás. "A falsa segurança que o crédito dá pode colocar muita gente em uma enrascada. Meu conselho é usar o cartão para emergências e compras que sejam muito caras para pagar à vista", afirma a orientadora financeira Nathália Rodrigues.
O aumento dos gastos por causa da inflação é apontado por 46% dos entrevistados como o principal fator para o comprometimento de renda, com maior impacto entre as pessoas da classe C (56%). A diminuição de renda afeta 20% dos entrevistados, com as classes D e E sendo as que mais sofrem com a redução dos salários, 32%. "Pessoas economicamente vulneráveis são as mais impactadas", diz Nathália.
Mais da metade dos entrevistados do levantamento é dessas faixas da sociedade, com a maioria sendo mulheres (52%). O estudo aponta que 19% dos participantes dizem que o que ganham é insuficiente para cobrir todas as contas do mês. A saída buscada por três em cada 10 pessoas é recorrer a empréstimos para pagar dívidas. Porém, o cartão de crédito se mostra como a principal opção para conseguir cobrir todas as despesas. "69% relatam usá-lo por necessidade e não por capricho", diz Schermann.
Segundo o levantamento, 40% dos entrevistados disseram ter limite de crédito de até R$ 5 mil, enquanto 37% da classe C afirmou ter acesso a cartões com limite superior a R$ 10 mil. O estudo aponta ainda que 71% das pessoas dizem não atrasar a fatura mensal para evitar a cobrança de juros. Os cartões têm a taxa mais alta do mercado no caso do crédito rotativo, que é cobrado quando o usuário paga apenas parte da fatura, com a taxa mensal variando entre 11,37% e 15,41%, dependendo da instituição financeira. Com isso, os juros acumulados no ano podem chegar a 364%.
Alternativas
Para o economista Eduardo Moreira, a renegociação é uma forma de reduzir os débitos, com muitas empresas e bancos oferecendo descontos. "O ideal é que só seja feito um acordo que realmente seja capaz de pagar, seja com parcelas mensais ou quitação total. Isso porque fazer uma negociação e não pagar pode gerar mais taxas e menores chances de novos acordos", afirma. Para isso, é necessário que as pessoas tenham controle dos gastos, evitando despesas desnecessárias que comprometam a renda.
"É essencial que as pessoas realmente reduzam os seus gastos e não façam novas dívidas. Em outras palavras, é preciso cortar o uso de cartões de crédito ou carnês e optar por economizar e pagar aquilo que precisa à vista", afirma. No caso de quem fez financiamento e está inadimplente, uma opção é fazer a migração do empréstimo para uma instituição que tenha juros mensais menores e permita um prazo maior de pagamento. Com isso, uma parcela menor e o alongamento do prazo de pagamento podem se adequar melhor ao orçamento do devedor, facilitando o pagamento.