violência no dérbi

'Sempre foi um menino amoroso'

Por volta do meio-dia, recebeu a ligação do Hospital Ouro Verde informando que seu filho estava morto. Assassinado a tiros. Ela nem sabia, mas Leonardo saiu escondido, um pouco depois dela ter deixado sua casa, e foi para o bairro São Bernardo junto de alguns amigos que fez na Torcida Jovem Amor Maior, principal organizada da Ponte Preta, a qual se filiou há um ano. Foram brigar com integrantes da Fúria Independente, a uniformizada do Guarani

Renato Piovesan
09/05/2018 às 08:31.
Atualizado em 22/04/2022 às 03:43
Anna Cláudia segura foto do filho que foi assassinado após confronto entre organizadas de Ponte e Guarani: caso está sendo investigado pela polícia (Dominique Torquato)

Anna Cláudia segura foto do filho que foi assassinado após confronto entre organizadas de Ponte e Guarani: caso está sendo investigado pela polícia (Dominique Torquato)

Se pudesse voltar no tempo, Anna Cláudia Bernardes não teria saído de casa na manhã do último sábado. Mãe de dois filhos, a operadora de caixa de 48 anos foi ao cabelereiro e, antes de sair de sua residência, no Jardim São José, passou pelo quarto de seu caçula para ver se ele já tinha acordado. Estava dormindo. Foi a última vez que ela viu Leonardo Bernardes, de 18 anos, vivo.  Por volta do meio-dia, recebeu a ligação do Hospital Ouro Verde informando que seu filho estava morto. Assassinado a tiros. Ela nem sabia, mas Leonardo saiu escondido, um pouco depois dela ter deixado sua casa, e foi para o bairro São Bernardo junto de alguns amigos que fez na Torcida Jovem Amor Maior, principal organizada da Ponte Preta, a qual se filiou há um ano. Foram brigar com integrantes da Fúria Independente, a uniformizada do Guarani. Levou a pior. “Ele sempre me respeitava muito, só fazia o que eu deixava. Como estava sem trabalhar no momento, todo dinheiro que eu dava para ele eu sabia o que ele ia fazer”, relatou a mãe, em entrevista ao Correio Popular. “Eu só sabia que ele ia para a sede da torcida às 17h para assistir o jogo, não tinha falado nada que ia sair de manhã. Ele só saiu de casa naquela hora porque eu não estava lá” , disse. A última postagem de Leonardo Bernardes no Facebook gerou uma onda de insultos depois dele ser morto. A mensagem “Dia de derby vai ser assim, se eu ‘tromba’ galinha (apelido pejorativo dado pelos pontepretanos aos bugrinos) vai ser o seu fim” foi entendida por rivais como uma provocação ou ameaça. A mãe alega desconhecer qualquer tipo de postura violenta de seu filho. “Foi a primeira vez que ele se envolveu em briga, ele não era pessoa de briga. Ele gostava muito de futebol, não perdia um jogo da Ponte, mas não ia pra essas brigas. Tem muitos comentários maldosos no Facebook que tem nos deixado muito chateados, porque ele sempre foi um menino muito amoroso e carinhoso com todos” , defendeu Anna Cláudia. Torcedor fanático da Ponte, o garoto tinha o sonho de ser jogador de futebol e até era destaque dos times de futsal e futebol amador de seu bairro. Jogava como zagueiro. Carreira de atleta Por ironia do destino, Leonardo calçou as chuteiras pela primeira vez na vida justamente para jogar nas escolinhas do Guarani, o Projeto Bugrinho. Pouco tempo depois, fez testes nas categorias de base da Ponte, mas não chegou a dar sequência na carreira de atleta. Questionada se perdoaria quem matou seu filho, Anna Cláudia abre o coração: “Não quero nem saber quem foi, só quero que Deus perdoe ele e que a mãe dele não passe pelo que estou passando. Eu nunca esperava passar por essa dor. Nada vai trazer meu filho de volta agora”.

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