MATRIMÔNIO

Sem pressa para o matrimônio, casais optam por serem ‘eternos namorados’

Cada vez mais, pessoas escolhem manter relacionamentos longos sem planos de casamento, desafiando convenções sociais e mostrando que o amor pode ser duradouro e pleno sem vínculos formais

Cibele Vieira
12/06/2024 às 07:37.
Atualizado em 12/06/2024 às 07:37
Gilberto Leone da Silva e Tailaina Beatriz Moreira de Godoi estão há 15 anos juntos e felizes, sem planos para casamento em curto prazo (Arquivo Pessoal)

Gilberto Leone da Silva e Tailaina Beatriz Moreira de Godoi estão há 15 anos juntos e felizes, sem planos para casamento em curto prazo (Arquivo Pessoal)

Os namoros que duram anos – apenas pelo prazer de namorar, sem planos de casamento ou de estabelecer uma união estável – são mais comuns do que se pensa. Basta perguntar por aí que todos conhecem algum casal que convive com a piada (ou cobrança) pronta, como “quando sai o noivado?”, “deixa de enrolar” e outras menos elegantes. Mas para o casal Tailana e Gilberto, que namora há 15 anos, isso nunca foi problema, pois eles estão bem na relação e levam na brincadeira as eventuais cobranças que aparecem. O psicólogo campineiro especializado em terapia de casais, Vinicius D’Ottaviano, pontua que a opção desse tipo de relacionamento, sem vínculos legais, vem crescendo no Brasil. Ele cita o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020, que indica o crescimento de 29% para 37,5% de uniões consensuais no país. A união consensual é aquela que não tem formalização legal e independe do casal morar junto ou não.

“Mas o importante, independente do gênero ou do estado civil, é o sentimento entre as pessoas, pois o amor eterno existe e só tem um segredo: sentir verdadeira empatia pelo outro sempre e para sempre”, afirma o especialista. D’Ottaviano comenta que a opção de ficar sozinho ou não casar se dá pela decisão de não formar família. “Não significa que o casal não se ame ou que a relação não será duradoura. Apenas estão praticando seu livre-arbítrio sem se preocupar com as cobranças que geralmente estão ligadas a fatores sociais, religiosos ou políticos.”

SEM BRIGAS, SEM PLANOS

Tudo começou em uma festa junina, lá no ano de 2009, em que a família de Tailaina Beatriz Moreira de Godoi, redatora de 37 anos, estava presente em peso. Também estavam por lá os amigos e irmãos de Gilberto Leone da Silva, músico de 38 anos. Ambos se viram, gostaram do visual e a paquera não passou despercebida. Tanto que amigos e familiares enviaram correios elegantes anônimos e eles acabaram indo parar, juntos, na cadeia da festa. “Acho que estavam querendo nos desencalhar”, brinca Tailaina. O papo rolou, sentiram a sintonia e o tempo passou. Já faz 15 anos que eles mantêm o namoro firme e com muita curtição, sem nenhuma briga mais séria capaz de os afastar.

Durante a pandemia, quando os irmãos de Gilberto voltaram para Muzambinho, em Minas Gerais, sua terra natal, e ele ficou sozinho no apartamento em Campinas, o casal aproveitou para passar um tempo junto. “A gente viu que dá certo! E isso é bom. Mas casar vai muito além de juntar com outra pessoa. Tem gastos, rotina de uma casa, precisa ser muito bem pensado”, diz Tailaina. Ela mora com os pais no Distrito de Sousas. A redatora também avalia que a profissão de músico do namorado tem uma certa instabilidade financeira, o que dificulta planejar o futuro junto. “Se está dando certo, continua assim. Namorar faz bem”, garante.

MATURIDADE

Em 2015, João Victor Lovato, auxiliar administrativo de 25 anos, ainda estava na escola jogando bola e precisava de alguém que cuidasse de seus sapatos durante o jogo. E foi para a menina bonita que assistia que ele jogou seus calçados. A reação de Giovanna Grignoli, jornalista de 23 anos, foi de indignação, pois mesmo achando o garoto bonito, ela entendeu que foi “muito cara de pau com essa atitude”. No entanto, depois do jogo, vieram as apresentações e ambos se apaixonaram. Ele, pela “maneira gentil e de bom coração” dela, enquanto ela se encantou “pela pessoa educada e divertida” que ele se revelou.

A amizade cresceu e no ano seguinte os dois começaram a namorar, situação que permanece até hoje, oito anos depois. Questionados sobre o motivo de não darem um passo adiante, a resposta vem pronta. “Acredito que nós dois ainda temos coisas a resolver individualmente”, diz João Victor. “No momento, estamos juntando dinheiro, temos planos de morar juntos primeiro e só depois casarmos”, completa Giovanna. Hoje, ambos moram com suas famílias e concordam que o relacionamento do casal é bom e maduro, com diálogo, se sentem bem juntos e revelam estar felizes por tudo que construíram. Giovanna avalia que o fato de terem iniciado o relacionamento ainda muito jovens, fez com que eles passassem por muitas fases de amadurecimento. Agora, seguem se tornando "melhores a cada dia".

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