Muro que desabou não foi ainda reconstruído e mato toma conta do local
Muro que desabou no dia 30 de março deste ano permanece com apenas um tapume cobrindo a lateral do cemitério na Avenida Engenheiro Antônio de Paula Souza (Gustavo Tilio)
Apesar do Cemitério da Saudade estar descrito no site da Serviços Técnicos Gerais (Setec) como um verdadeiro museu a céu aberto, de incontestável valor histórico, artístico e arquitetônico, a percepção de quem está no local é outra. Além de túmulos quebrados e abandonados, a vegetação toma conta de parte da área e até mesmo o muro que desabou por falta de manutenção em março deste ano continua apenas com um tapume na frente e não há prazo de quando será reconstruído.
Em 30 de março deste ano, parte do muro do Cemitério da Saudade desabou. O rombo que abriu fica na lateral voltada para a Avenida Engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza. Segundo as testemunhas, a construção caiu sem que houvesse qualquer interferência externa. Na época, a Setec informou que as possíveis causas da queda foram desgaste dos materiais e drenagem insuficiente. A autarquia sinalizou o local e colocou tapumes, que eram para ser provisórios, mas estão no local há mais de seis meses.
Para o professor de Educação Física, Antônio Miranda Gonçalves Júnior, 54 anos, a atual aparência do local é uma falta de respeito com quem vai até lá prestar uma homenagem para um parente querido. "A situação é a pior possível, um abandono total. Entre os caminhos dos túmulos há muito mato, é uma falta de educação com as famílias", afirmou.
Reflexo da falta de manutenção, a vegetação já praticamente fechou alguns dos corredores de passagem entre as sepulturas. Algumas delas chegam a ser escondidas pelo matagal. "Eu acho que isso é uma falta de respeito com os nossos falecidos. O cemitério está abandonado. Se continuar assim, daqui há alguns dias, não vamos mais conseguir andar pelo local", afirma o comerciante Gilberto Alves.
O funcionário público Maurício de Oliveira, de 41 anos, entende não ser possível culpar somente a passagem do tempo pelo desgaste dos túmulo e do local, mas principalmente a ação humana — ou a falta dela. "A destruição que existe lá não é só do tempo, é da mão do homem. Quem destrói, eu não sei, mas muitos túmulos estão quebrados no pé, aí começa a infiltrar, o túmulo começa a cair e tem que ser reformado. A Setec deveria fiscalizar mais para evitar esse serviço ruim", disse.
O Cemitério da Saúde é o primeiro cemitério público do País e incorporou em 1881, ano de sua inauguração, os quatro cemitérios então existentes na cidade, todos propriedades particulares. Foi o campineiro Ferreira Penteado quem doou parte de suas terras para a construção do novo campo. O local lista um acervo de pequenas e grandes obras, expressivas das representações que a arte produziu, durante uma década, como ideal religioso em torno da morte.
O aposentado Geraldo Almeida, de 68 anos, contou que passava pelo local e, como fazia tempo que não andava pelo cemitério, resolveu entrar, mas se surpreendeu com o tamanho do abandono que encontrou.
"O cemitério sempre teve um probleminha ou outro, mas agora parece que aumentou. Voltando hoje aqui, vi que estava bem abandonado. Tem muito mato alto e gavetas semiabertas. Os túmulos estão abertos, os pisos quebrados, sem contar o matagal", disse.
Procurada, a Setec informou que, em parceria com a Secretaria de Serviços Públicos, fez um estudo para reformar o muro do Cemitério da Saudade e submeteu à análise e aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), já que o Cemitério da Saudade é tombado como patrimônio cultural da cidade. O próximo passo é a abertura da licitação.
"A manutenção dos cemitérios é feita regularmente. Nesta época do ano, por causa das chuvas, o mato cresce mais rapidamente e as roçagens são mais frequentes. Os cuidados com os túmulos são de responsabilidade das famílias. Quando detectado algum problema, a Setec entra em contato e solicita a manutenção", informou a nota.
Ouros casos
O Cemitério da Saudade de Campinas também passou por outros problemas. Entre dezembro de 2021 e fevereiro deste ano, 12 gatos e 11 saruês foram atacados e mortos dentro do local. O ocorrido fez com que a Setec adotasse medidas para evitar a entrada de cães sem tutores no local. Grades de ferro foram instaladas nas passagens de escoamento de água do cemitério. Os muros do local foram inspecionados para verificar a existência de possíveis buracos utilizados pelos animais.
As outras duas medidas foram a instalação de novas câmeras de monitoramento no local e a intensificação da vigilância. A Setec afirmou que aumentou a vigilância interna e obteve resultados satisfatórios, já que não houve registro de ataques depois disso.