Campinas, Americana, Cosmópolis, Indaiatuba, Itatiba e Sumaré estão na lista
Termômetro marca 35º no Centro de Campinas; altas temperaturas demandam cuidados extras com a saúde, recomendando-se evitar exposição prolongada e direta à radiação solar entre as 10h e as 16h (Alessandro Torres)
Seis municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC), onde residem aproximadamente 2,1 milhões de pessoas, estão inseridos no grupo de cidades mundiais que enfrentarão temperaturas extremamente altas a partir de 2050, aumentando significativamente o risco de problemas de saúde. Campinas, Americana, Cosmópolis, Indaiatuba, Itatiba e Sumaré figuram em um estudo internacional conduzido pela CarbonPlan, uma organização sem fins lucrativos especializada em pesquisas climáticas. Esse estudo analisou dados para prever condições climáticas em quase 15.500 cidades em um futuro próximo, bem como nas próximas décadas.
De acordo com o estudo, no ano 2000, a RMC não apresentava nenhum dia com risco à saúde relacionado às condições climáticas. No entanto, as projeções apontam que, no futuro, Americana será a cidade da RMC com o maior número de dias por ano com risco de situações climáticas extremas, totalizando seis dias, enquanto Campinas terá três. Importante destacar que esse levantamento não se baseia apenas na temperatura registrada, mas também considera outros fatores que afetam o conforto térmico, como umidade, vento e radiação solar. O cálculo é realizado por meio do índice Wet Bulb Globe Temperature (WBGT), amplamente utilizado por atletas e militares, e identifica riscos à saúde humana a partir de uma temperatura de 32,2ºC.
O meteorologista Bruno Kabke Bainy, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), observa que, em comparação com outras cidades do Estado de São Paulo e do país, o aumento das temperaturas em Campinas não foi tão acentuado. Ele explica que, geralmente, os dias mais quentes do ano ocorrem durante a transição do inverno para a primavera, quando a umidade relativa do ar se encontra relativamente baixa. Essas condições favorecem a transpiração, o que, juntamente com outros fatores climáticos, resulta em um cenário térmico com um risco reduzido para a saúde, apesar dos desconfortos que possam surgir.
O meteorologista destaca como exemplo as temperaturas de 33ºC registradas pelo Cepagri na terça-feira (19), que, quando consideramos o índice WBGT, resultaram em uma sensação térmica de 24ºC à sombra e 29ºC sob a exposição direta ao sol. No entanto, Bainy enfatiza que isso não deve ser interpretado como minimização dos impactos do aquecimento global e das mudanças climáticas causadas pela atividade humana.
"Em geral, os estudos mais conclusivos estão relacionados às ondas de calor. Podemos afirmar com certeza que as ondas de calor mais intensas e frequentes são resultado das mudanças climáticas. Outros fenômenos, como secas e furacões, ainda não dispõem de dados tão definitivos que nos permitam fazer afirmações categóricas. São necessárias mais pesquisas nesse sentido", ressaltou o meteorologista.
IMPACTOS
De acordo com o estudo conduzido pela CarbonPlan, as regiões do planeta mais afetadas por temperaturas extremas que representam riscos para a saúde estão localizadas na linha do Equador, abrangendo regiões já naturalmente quentes, como o Sul da Ásia e a África Subsaariana. No Brasil, as três cidades mais vulneráveis a essa situação são Manaus (AM), com 258 dias críticos; Belém (PA), com 222; e Porto Velho (RO), com 218, devido à sua proximidade com a linha do Equador. Em outras palavras, essas localidades enfrentarão temperaturas extremas durante aproximadamente 7,2 a 8,3 meses por ano. Além disso, no Estado de São Paulo, várias outras cidades estão previstas para enfrentar temperaturas preocupantes, superando até mesmo a Região Metropolitana de Campinas. São José do Rio Preto terá 43 dias críticos, Presidente Prudente 32, Santos 20 e Ribeirão Preto 11.
O levantamento também revelou que o município de São Paulo não enfrentará nenhum dia com condições climáticas extremas. Segundo a CarbonPlan, a cidade com o maior número de dias por ano com altas temperaturas e riscos à saúde é Pekanbaru, na Indonésia, com um total de 344 dias, o que representa 94,25% do ano. O estudo ainda aponta que em 2000, aproximadamente 100 milhões de pessoas em todo o mundo estavam expostas a esses riscos, um número que aumentará para 500 milhões até 2030 e chegará a 1,3 bilhão em 2050. Um estudo publicado na revista científica Lancet Planetary Health atribui 500 mil mortes anuais em todo o mundo devido ao calor.
As condições climáticas extremas aumentam significativamente o risco de uma série de problemas de saúde, afetando principalmente idosos, pessoas com doenças cardíacas, indivíduos com problemas de circulação sanguínea, diabéticos, aqueles com condições respiratórias e crianças. O calor intensifica a probabilidade de ataques cardíacos e derrames devido ao esforço que o organismo faz para manter a temperatura corporal estável. "Quando a umidade está alta, nossa capacidade de transpirar é prejudicada, o que aumenta o desconforto", explica o fisiologista George Havenith. Além disso, a elevação da temperatura reduz a pressão arterial, o que pode levar à exaustão causada pelo calor. Os sintomas incluem tontura, náusea, desmaios, câimbras, dores de cabeça e sudorese excessiva.
ONDA DE CALOR
O Brasil enfrenta esta semana uma intensa onda de calor, com temperaturas que podem atingir até 40 graus em cidades das regiões Norte e Nordeste, representando um sério risco à saúde, conforme alerta meteorológico especial emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A Climatempo prevê que as temperaturas em Campinas continuem em elevação, podendo alcançar os 38ºC no próximo domingo, com alternância entre períodos de sol predominante e momentos ocasionais de céu parcialmente nublado nos próximos dias.
Na quarta-feira (20), às 15h20, o Cepagri registrou 31,5ºC em Campinas. As altas temperaturas demandam cuidados extras com a saúde e o bem-estar de pessoas e animais, recomendando-se evitar exposição prolongada e direta à radiação solar entre as 10h e as 16h, bem como atividades físicas extenuantes. A hidratação constante é fundamental, assim como a adoção de medidas para aliviar o calor, como o uso de ventiladores, condicionadores de ar e roupas leves, entre outras precauções. O cardiologista José Eduardo Dottoviano enfatiza que, em temperaturas extremas, a desidratação pode afetar qualquer pessoa, mesmo sem comorbidades.
As altas temperaturas levaram a prefeitura a tomar medidas para mitigar potenciais problemas. A Secretaria Municipal de Educação orientou os professores de Educação Física a evitar a realização de aulas ao ar livre. Além disso, a Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, em parceria com a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), iniciou a Operação Altas Temperaturas, que inclui a distribuição de copos de água para a população em situação de rua.
"Isso é de grande ajuda. A água fornecida é fresca, o que é essencial em dias quentes", comentou Osvaldo Celestino da Silva Júnior. Ele também expressou a necessidade de instalações de banheiros masculinos e femininos no Centro, uma vez que bares e lojas muitas vezes negam o acesso aos banheiros. Outra moradora em situação de rua, Ísis Reyy, destacou a importância da água distribuída para aliviar a sede. A Sanasa está fornecendo 1,2 mil copos para distribuição diária.
Segundo informações da prefeitura, o movimento nas piscinas públicas aumentou significativamente, registrando um aumento de 20% nos últimos dias devido ao forte calor. Essas piscinas estão localizadas em praças esportivas e foram reabertas no dia 13 deste mês. Elas estão disponíveis para uso da comunidade de quarta-feira a domingo, das 8h30 às 11h30 e das 14h às 16h45.
A população, em busca de alívio para o calor intenso, tem adotado diversas medidas. "O calor está insuportável, parece que estamos dentro de um forno", relata Jenifer Eller de Andrade, manicure, enquanto caminhava pelo Centro e aproveitava um sorvete para se refrescar. Ela acrescenta que as noites quentes tornam o sono difícil, e, para melhorar a umidade do quarto e evitar problemas respiratórios, recorre ao uso de uma bacia com água ou a um umidificador. Seu filho, Lucas Eller, que sofre de bronquite, dorme com o ventilador ligado.
A comerciante Grazielle Lavanholli, por sua vez, enfrenta problemas de pressão devido ao calor intenso. Ela relata: "Ontem, tive que sentar porque, de repente, tudo ficou turvo", chegando quase a desmaiar. "Nesse calor, precisamos recorrer a tudo o que é gelado", acrescenta, enquanto saboreia um açaí.