CULTURA

Segue o impasse sobre o prédio do Museu da Cidade de Campinas

Proprietária do edifício quer vendê-lo por R$ 3,5 milhões, mas a Prefeitura, que administra o museu e quer a posse definitiva, não tem verba para comprar: reforma empacada

Maria Teresa Costa
28/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:09
Edifício da antiga indústria Lidgerwood, onde funciona o Museu da Cidade de Campinas (  Cedoc/RAC)

Edifício da antiga indústria Lidgerwood, onde funciona o Museu da Cidade de Campinas ( Cedoc/RAC)

A Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), empresa do governo estadual e proprietária do edifício da antiga indústria Lidgerwood, onde funciona o Museu da Cidade, quer vender o prédio histórico por R$ 3,5 milhões, mas a Prefeitura, que administra o museu e quer a posse definitiva do prédio, não tem verba para comprar. Nesse impasse, a recuperação do prédio que tem sérios problemas de infraestrutura e está fechado para exposições, fica cada vez mais distante. O secretário de Cultura, Ney Carrasco, disse na quarta-feira (27) que vai tentar viabilizar os recursos de forma indireta - com troca por outro imóvel municipal que não esteja tombado ou mesmo abatimento de eventuais dívidas de impostos que a companhia tenha com a Prefeitura."O importante é que começamos uma negociação, porque até agora não sabíamos o valor que a empresa queria", afirmou Carrasco, que na segunda-feira se reuniu com a direção da companhia para discutir formas de a Prefeitura conseguir a posse. Até hoje o Museu da Cidade - que está sem seu acervo e usa o espaço para atividades de divulgação da cultura imaterial -- ocupa aquelas instalações por um termo de cessão provisória obtido no ano passado e válido por dois anos.Os recursos necessários para a reforma, restauro e a adequação da edificação ao projeto museológico que nunca foi implantado virá da venda do potencial construtivo do imóvel - mas para utilizar esse mecanismo urbanístico, a Prefeitura precisará, primeiro, adquirir o prédio. O fato é que a posse precária impede investimentos na recuperação. As goteiras ao longo dos anos provocou sérios danos no acervo. O descaso com aquele espaço cheio de infiltrações e goteiras e problemas no sistema elétrico, se arrasta há mais de dez anos pondo em risco um rico acervo de mais de 7 mil peças, sem que haja intervenção para a recuperação de um dos patrimônios mais importantes do município. O Museu da Cidade foi criado em 1992, a partir da fusão do acervo de três museus existentes no Bosque dos Jequitibás: Museu Histórico, Museu do Folclore e Museu do Índio. Seu objetivo é a preservação e discussão da memória e da história da cidade e de seus diversos agentes sociais, resgatando as camadas populares como agentes da história. Isso porque na antiga concepção, os objetos históricos eram os objetos pertencentes às elites, enquanto os objetos das camadas populares pertenciam ao folclore ou ao indígena. O Museu da Cidade tem em seu acervo cestaria e arte plumária, objetos e quadros do século 19. Há importantes peças do século 18, um tronco de escravos, liteiras, coleções de aquarelas de José de Castro Mendes que mostram a evolução da cidade. Uma parceria com o Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) permitiu, com apoio de Rosaelena Scarpeline, o treinamento de pessoa que esta se dedicando à preservação das peças, com limpeza, catalogação e acondicionamento do material. Sem uma reserva técnica no prédio, o acervo está sendo embalado depois de tratado e guardado em uma das salas da Estação Cultural. Só voltará ao museu quando o prédio tiver condições de abrigar o materialEntre os objetos que foram tratados estão liteiras, objetos mais antigos, do século XIX que compõe o acervo do museu. Elas são representativas deste trabalho, estavam embaixo de goteiras e por isso o couro e a madeira foram danificados, houve um processo de higienização e hidratação pela equipe do museu. Um termo de comodato com o Museu Universitário da PUC-Campinas vai permitir que as peças fiquem em exposição, com previsão de captação de recursos para seu restauro em parceria com o museu universitário. LIDGERWOOD O prédio que pertenceu a antiga indústria importadora de equipamentos agrícolas e industriais, fica em frente a Estação Ferroviária. A Lidgerwood funcionou em Campinas até 1922, mas uma década depois de implantada já começava a enfrentar problemas em decorrência da instabilidade econômica provocados pela febre amarela e pela concorrência de outra empresa, a MacHardy.Em 1928 o prédio passou a pertencer a Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Nessa adaptação do edifício para amplos espaços de armazéns e depósitos, o projeto original descaracterizou-se; foram removidos os andares e a chaminé e fechadas várias aberturas.Nos anos 80, o prédio seria demolido para abrir caminho para o segundo túnel que ligaria o Centro à Vila Industrial. Muitos protestos foram realizados, comandados pela entidade preservacionista Febre Amarela, que tinha a frente o prefeito assassinado de Campinas, Antônio da Costa Santos, e o projeto do túnel acabou sendo modificado para poder preservar o edifício.

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