VISITA A CAMPINAS

Secretário Jorge Lima aposta na criação de cadeias produtivas regionais

Titular da Pasta de Desenvolvimento Econômico do Estado quer aumentar a oferta de trabalho e renda explorando as principais vocações econômicas de cada município ou região

Manuel Alves Filho; Bruno Luporini/[email protected]
18/06/2025 às 10:52.
Atualizado em 18/06/2025 às 11:33
"Na Itália, o turista não visita apenas a cidade de Florença, ele também vai para as do entorno. Aqui em Campinas nós temos esse potencial, pois estamos muito próximos dos circuitos das Águas e das Frutas", analisou o secretário de Desenvolvimento Econômico, Jorge Luiz Lima (Rodrigo Zanotto)

"Na Itália, o turista não visita apenas a cidade de Florença, ele também vai para as do entorno. Aqui em Campinas nós temos esse potencial, pois estamos muito próximos dos circuitos das Águas e das Frutas", analisou o secretário de Desenvolvimento Econômico, Jorge Luiz Lima (Rodrigo Zanotto)

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Luiz Lima, tem percorrido as cidades paulistas com o objetivo de implementar projetos de desenvolvimento econômico. Uma das apostas de Jorge Lima é na criação e desenvolvimento de cadeias produtivas regionais a partir das vocações econômicas de cada município ou região, com o objetivo de aumentar a oferta de trabalho e renda. Uma das formas de fomentar esse processo é a consolidação dos circuitos paulistas, como as rotas do queijo, vinho, cerveja, cachaça, além de locais muito conectados com o tema religião e cidades que promovem rodeios.

O secretário destacou a vocação da cidade de Campinas para o desenvolvimento de serviços, especialmente os de alto grau de tecnologia e inovação. Lima considerou que a cidade já é um importante centro logístico e entende que ela pode ser o próximo hub hoteleiro do Estado, ressaltando que há potencial para o turismo de negócio e a proximidade com cidades com vocação turística, como os municípios dos circuitos das Águas e das Frutas.

Jorge Luiz Lima contou essas e outras novidades em entrevista exclusiva, concedida na sede do Correio Popular, a convite do presidente executivo Ítalo Hamilton Barioni. Confira.

Como estão os investimentos intermediados hoje pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico?

Nós visitamos as cidades e fazemos esse meio de campo entre os investidores e os potenciais de cada cidade para que elas se desenvolvam. A minha meta era trazer R$ 400 bilhões para o Estado em investimentos privados no período de quatro anos. Já estamos na casa de R$ 515 bilhões. Tínhamos também a meta de gerar um milhão de empregos em quatro anos, estamos chegando a um milhão e duzentos mil. Esse orçamento todo nós distribuímos para as cidades. O foco é injetar dinheiro no empreendedorismo.

Imagino que para a Pasta de Desenvolvimento Econômico ser bem-sucedida o senhor tenha que percorrer muitas cidades do Estado de São Paulo. Como funciona esse trabalho?

O Estado de São Paulo tem 645 municípios. São 35 milhões de habitantes em 142 deles, que são os que possuem mais de 50 mil pessoas. Entre 20 mil e 50 mil habitantes há outras 117 cidades. Em todas elas eu já fui. As 386 restantes têm menos de 20 mil habitantes. Dessas, 115 têm menos de cinco mil. Então é complexo visitar todas, mas esse é o trabalho, para que os prefeitos possam participar de nossos eventos de qualificação. Neles nós estudamos qual é a vocação de cada cidade e região para que possamos desenvolver trabalho e renda. Existem prefeitos talentosíssimos que trabalham com a gente.

Com isso o senhor aproveita as vocações de cada cidade, mas existem alguns eixos que podem ser mais desenvolvidos?

Existem três tipos de vocações muito claras no Estado. A primeira vocação é a indústria que nós estamos recuperando. O setor corresponde a R$ 513 bilhões, R$ 45 bilhões são da indústria automobilística. Eu morei oito meses no Japão e entendi o modelo deles, que é esse que estamos aplicando aqui, que é o modelo de copiar o que dá certo e depois aperfeiçoar. Após a Segunda Guerra Mundial a estratégia foi montar uma grande empresa a cada 50 quilômetros, pois isso facilita a logística e o desenvolvimento das pequenas cidades. Também vemos esse modelo na Holanda, onde o desenvolvimento é feito nas cidades no entorno da mais desenvolvida, para que todos possam crescer sem superlotar a cidade central. Como aqui em Campinas, que temos muitos investimentos em Sumaré, Cosmópolis e Jaguariúna, por exemplo.

Quais são as outras vocações que o senhor considera importantes para o desenvolvimento das cidades?

As outras vocações que eu defendo são agricultura e turismo, pois as cidades não ganham dinheiro com IPTU ou INSS. Elas vão ganhar dinheiro desenvolvendo a renda, movendo as cadeias de produção. É desenvolver uma cadeia produtiva do local. Por exemplo, o Vale do Ribeira, que é diferente de Campinas, não tem vocação para a logística e instalação de fábricas. Lá, por conta das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e pelo clima, a vocação é o ecoturismo. Outro detalhe é que temos no Estado cerca de 4,5 milhões de hectares sem plantio. A lógica é fazer com que produtores cooperados plantem e consigam vender seus produtos em um raio de 50 quilômetros. Essa estrutura de cooperativas é a primeira que estamos montando nesse sentido. Outro movimento que estamos fazendo é o seguinte: onde a pessoa tem um negócio, eu quero montar uma microempresa. Por exemplo, na região de Presidente Prudente o forte é o amendoim, logo, temos que criar empresas de pasta de amendoim, de paçoca, empresas menores que possam aproveitar esse potencial.

Para que esses processos sejam bem-sucedidos, imagino que um dos principais objetivos seja qualificar o produto que é vendido, correto?

Exatamente. Eu não quero que a pessoa venda a semente de café, eu quero que ela faça um branding, venda a cápsula do café. Para fazer essa cápsula, eu tenho que montar uma fábrica de plástico menor para atender a essa demanda. Assim, vamos agregar valor nessa cadeia produtiva. É um modelo americano no qual nos grandes centros você tem as grandes marcas, mas mais para o interior você encontra mais os produtos locais. Também temos que pensar na profissionalização das empresas familiares, porque se você tem uma fábrica muito importante para uma cidade, o dono morre e a família não quer o negócio, você pode matar a cidade. Então temos que cuidar dessa administração para continuarmos financiando e a fábrica continuar produzindo.

O setor do turismo pode desempenhar um papel fundamental para esse processo de qualificação econômica?

Temos sim que potencializar o setor do turismo, é um pilar econômico que eu acredito muito. Veja o exemplo da Disney. As pessoas não vão para Miami, para Orlando, elas vão para a Disney. Então estamos criando as cadeias do turismo no Estado de São Paulo. Nós temos 267 vinícolas, por volta de cinquenta têm condições de receber visitantes, mas, para receber bem, você precisa de um menu gastronômico com um padrão de comidas e de boas hospedagens. Quando entrei no governo, a cidade de Espírito Santo do Pinhal tinha sete vinícolas e agora estão chegando a 15. Quando eu sair do governo, quero deixar vinte e cinco. Será a nova Mendoza (cidade da Argentina). Já levamos dois hotéis e vários restaurantes. Essa é a rota do vinho, a próxima será a da cachaça, do queijo e da cerveja. Outra que queremos desenvolver é a rota do rodeio. Já temos as grandes festas de Barretos, Jaguariúna e Americana, mas existem muitos outros pelo interior. Estamos avançando para a consolidação dessas rotas. O objetivo é esse, é criar movimentos nas cidades que fazem os turistas circularem.

Com relação à cidade de Campinas, qual é a principal vocação que o senhor considera para o município?

O segredo de Campinas para mim está em investir no setor de serviços de alta tecnologia, porque aqui nós temos várias vantagens, como a presença de grandes universidades, uma renda per capita alta, um bom público consumidor, é perto de São Paulo e ainda conta com o Aeroporto de Viracopos, um baita de um aeroporto que opera no interior do Estado. Esse é um grande diferencial, porque podemos trazer grandes eventos para o interior via Campinas, mas para isso ainda precisamos desenvolver mais a rede hoteleira. Temos aqui um potencial enorme para a inovação, para o turismo. Transformar Campinas em uma Detroit, uma Buenos Aires, mas, repito, temos aqui uma imensa falta de mais hotéis, inclusive cinco estrelas, pois é uma cidade que já comporta essa estrutura.

Qual seria a chave para que o turismo consiga impulsionar as economias locais?

Para desenvolver mais esse turismo nós precisamos que as pessoas circulem. Se existe um evento grande, como um rodeio, você tem que fazer com que as pessoas frequentem as atrações da cidade e das cidades vizinhas. Para isso, é preciso também que as cidades entendam a importância de investir no paisagismo. O turista olha a beleza do lugar, os parques, as praças, os jardins bem cuidados. Veja o exemplo do Central Park em Nova Iorque. É um parque, mas ele é cuidado tão bem que as pessoas sentem vontade de visitar, virou um símbolo. Por isso temos que criar essas narrativas e financiar esses projetos estruturais. Na Itália, o turista não visita apenas Florença, ele também vai para as cidades do entorno. Aqui em Campinas nós temos esse potencial, pois estamos muito próximos dos circuitos das Águas e das Frutas. O turismo em São Paulo está crescendo, já chegou a por volta de 10% do nosso PIB, então a minha aposta é a criação desses centros de turismo.

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