CAMPINAS

Secretaria de Saúde resgata seo Dito do abandono

Equipe levou Benedito Fumbela, de 80 anos, para tratamento no PA da Vila Padre Anchieta

Rogério Verzignasse
19/03/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 14:44

A dedicação dos vizinhos valeu a pena. Menos de uma semana depois dos moradores da Ponte Preta terem denunciado ao Correio a situação de abandono em que vivia, o seo Benedito Fumbela, de 80 anos, foi recolhido da edícula onde vivia e transferido para o Pronto Atendimento da Vila Padre Anchieta, onde será submetido a um tratamento intensivo de saúde, com o acompanhamento de médicos, psiquiatra e assistentes sociais. Depois, deverá ser acolhido em uma casa de repouso. No momento em que seo Dito era embarcado na ambulância do Serviço de Atendimento Móvel e Urgência (Samu) para o encaminhamento, os moradores da Rua Vicente Gagliardi, que tomavam a calçada, se emocionaram. As famílias ao redor se sentem aliviadas de saber que seo Dito terá assistência digna.Fumbela está desidratado, desnutrido, tem visão deficiente e um certo desequilíbrio mental. Não tinha consciência, por exemplo, de que vivia em um cômodo imundo, tomado por fezes, urina, restos de comida, garrafas vazias, roupas pelo chão. Eventualmente, assumia comportamento agressivo. Diversas vezes foi visto andando nu pela rua.O processo de demência foi constatado ontem pela psiquiatra Meylin Chiú de Santis, que o visitou na edícula. O senhorzinho tinha uma consulta marcada com ela no Centro de Saúde do Santa Odila cedinho, mas não compareceu. Um vizinho — o advogado Hélio Siqueira — o levaria de casa até lá, mas seo Dito se negou a sair da cama. Siqueira foi sozinho até o CS, contou a situação e pediu que a equipe formada pela médica e enfermeiros se deslocassem até a casinha. A reportagem acompanhou a visita.O cenário encontrado pelo pessoal do CS era chocante. Sobre o fogão improvisado no quintal, havia marmitas cheias, abandonadas há muito tempo. O banheirinho era impraticável. O quintal se tornou um depósito de entulho: potes, violão velho sem cordas, tubo de televisão. As paredes do casebre, com rachaduras imensas, davam a impressão que iam ruir a qualquer momento. E seo Dito estava lá, sozinho na cama, pelado, todo sujo e cheirando mal. Resmungava que não tinha dormido um minuto sequer à noite. ResistênciaNo começo da visita, o homem falou que não queria ver ninguém. Depois, com habilidade, a psiquiatra o acalmou, e arrancou dele as frases que provocavam lágrimas de quem ouvia. Dito falou da roça, do pai José, da mãe Maria, dos 13 irmãos. Falou que havia até um casal de gêmeos. Contou que, na época de pedreiro, se meteu em uma confusão no boteco e acabou na delegacia. Mas algumas perguntas não tiveram resposta. Se calou quando a médica perguntou se ele se sentia feliz, se tinha vontade de viver, se acreditava em Deus. Ele emburrou de repente, e não falou mais nada.A psiquiatra Meylin decidiu chamar o Samu na mesma hora. “Os transtornos mentais serão tratados na hora certa. Agora, o cuidado clínico é emergencial. Seo Dito não se alimenta bem, precisa de curativos, precisa de ajuda”, disse a médica. A decisão da psiquiatra antecipou uma internação que estava prevista mais para o final de semana. É que a equipe médica tinha marcado para quinta-feira (20) uma reunião para o confronto de relatórios técnicos dos profissionais que acompanharam o caso. “Não havia como esperar. Seu Dito não pode ficar sozinho”, falou.O encaminhamento ao PA foi comemorado por vizinhos como o advogado Hélio Siqueira. “Do jeito que estava, em condições desumanas, o Dito corria o risco de morrer aqui, abandonado no casebre. Felizmente, o poder público nos atendeu”, falou.

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