Engana-se quem pensa que o problema está resolvido: no maior reservatório do Sistema Cantareira, cenário segue desolador mesmo depois dos aguaceiros de Verão
Moacir Bueno de Souza compara a atual paisagem da represa de Vargem, com a antiga, na foto em que segura ( César Rodrigues/ AAN)
Engana-se quem pensa que o problema da crise hídrica está resolvido. Embora as fortes chuvas em Campinas e região deem a impressão de uma segurança no abastecimento de água, sem necessidade de rodízio, até o fim do ano, não é o que se verifica ao chegar na represa do Jaguari, em Vargem, uma das últimas cidades da Rodovia Fernão Dias (BR-381) em território paulista, antes da divisa com Minas Gerais. O local que há seis meses era barro e solo rachado devido à seca, e onde era possível percorrer com facilidade o terreno visualizando inclusive escombros da vila de operários da antiga Usina das Flores, hoje pode ser considerado um grande ‘pasto’. No lugar da água, há um matagal a perder de vista. O morador Moacir Bueno de Souza, que reside há mais de 35 anos na região, e já viu os barrancos hoje expostos cobertos pela água, afirma que nunca viu uma situação tão crítica e um cenário tão desolador. Para não perder a memória do local, ele guarda fotos da represa transbordando com paisagem exuberante. As condições atípicas nunca vistas na região afastaram turistas e moradores. “Gostaria de ao menos ter a autorização de autoridades para que pudesse limpar o leito da represa”, disse Bueno. O motivo, segundo ele, seria evitar proliferação de animais e sujeira. ImportânciaAs barragens do Jaguari e Jacareí originam a maior, mais distante e uma das mais importantes represas do Sistema Cantareira, que possui seis reservatórios. Localizada a uma altitude de 844 metros acima do nível do mar, ela contribui para a vazão do sistema, por meio de gravidade, com 22 mil litros de água por segundo. É conhecida como o “coração” do sistema.As represas Cachoeira, Atibainha e Juqueri recebem suas águas. Na estação eElevatória de Santa Inês ocorre o bombeamento até o reservatório de Águas Claras e, finalmente, a água alcança a estação de tratamento do Guaraú, onde são produzidos 33 mil litros de água por segundo para abastecer cerca de 8,8 milhões de pessoas da Região Metropolitana de São Paulo. Por ser uma das represas mais “altas” do sistema, é, também, uma das que mais sofrem com a estiagem — a represa não recebe água de outros reservatórios, mas apenas da chuva ou dos rios que a sustentam. Na sexta-feira, o Jaguari-Jacareí operava com apenas 10,1% de sua capacidade total, que é de 800 milhões de metros cúbicos.