degradação

Sebo Casarão esvazia área cultural

Sem conseguir arcar com o aluguel de R$ 8,5 mil em meio à crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19, o tradicional Sebo Casarão vai mudar

Daniel de Camargo
23/06/2020 às 07:51.
Atualizado em 28/03/2022 às 22:42
Parte do acervo composto por cerca de 100 mil itens ficará guardada em outro local, porém as vendas e compras ocorrerão apenas pela internet (Leandro Ferreira/AAN)

Parte do acervo composto por cerca de 100 mil itens ficará guardada em outro local, porém as vendas e compras ocorrerão apenas pela internet (Leandro Ferreira/AAN)

Sem conseguir arcar com o aluguel de R$ 8,5 mil em meio à crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19, o tradicional Sebo Casarão vai mudar de local depois de funcionar por 15 anos em um sobrado antigo na Rua Sacramento, no Centro, em Campinas.  Um dos sócios da loja, Gilberto de Almeida, popularmente chamado de Giba, afirmou que a expectativa é encontrar, nos próximos dias, um imóvel em que o aluguel gire em torno de R$ 2 mil. O espaço, prioritariamente, deverá ser na mesma região, “onde as coisas acontecem”. A principal finalidade do local físico será a captação de produtos, mantendo a sistemática de compra, troca ou venda. Parte do acervo com cerca de 100 mil itens, entre discos e livros, ficara lá. Contudo, enfatiza, o futuro do negócio está nas vendas pela internet. “Estamos nos adaptando”, disse. Por ainda não ter um site próprio, a comercialização ocorre por meio das plataformas Estante Virtual e Mercado Livre. Desde o início do isolamento social, que permite apenas o funcionamento do comércio essencial, como farmácias e supermercados, Giba lamentou já ter demitido seis dos nove funcionários da empresa. “Perdemos os R$ 1,2 mil que vendíamos diariamente, em média, no balcão, faturando somente os R$ 300 oriundos da internet”, revelou. “Houve sábados em que vendemos R$ 6 mil no balcão. O golpe foi duro”, completou. Nesse período, por exemplo, o empresário destacou que perdeu a compra de clientes fiéis e importantes: os lojistas da Galeria do Rock, que funciona em São Paulo, e também estão com as portas fechadas. Todavia, garante que, pouco a pouco, as coisas irão voltar ao normal. Ainda sobre os bons momentos do Sebo Casarão, Giba recorda a loja cheia, quando recebia discos produzidos na Alemanha ou na Espanha. “Lá eles são melhores prensados. Eu trocava com o pessoal de lá, mandava Bossa Nova pra eles e recebia os de Rock. Então, fazia, no máximo, quatro ligações e a noticia se espalhava. Os DJs e colecionadores conversavam entre si e, rapidamente, a gente lotava”, falou. A relação, extremamente sentimental, do empresário com o negócio, surgiu em 1995, quando se aposentou, após trabalhar por aproximadamente 30 anos, como químico. Apaixonado por discos, optou pelo ramo. “Depois de 20 anos numa fábrica decidi brincar de lojinha”, destacou. Teve outras lojas, em pontos distintos, antes de do Sebo Casarão, aberto em 2005. Pandemia evidencia abandono A pandemia atingiu em cheio o comércio do Centro de Campinas. Acelerou e escancarou o processo de degradação que já mostrava as primeiras “feridas” no ano passado. Os reflexos estão visíveis na região mais tradicional do município. Lojas atuantes há mais de 50 anos, principalmente as localizadas próximas à praça Carlos Gomes, ao largo do Rosário e ao largo das Andorinhas, encerraram as atividades. Em uma rápida passagem pela região, há cerca de duas semanas, o Correio Popular identificou pelo menos 35 comércios com avisos de Aluga-se em suas portas. Entre os comércios atingidos, está Laticínios Lima, instalado há 50 anos na Rua Barão de Jaguara. Márcio Lima, proprietário da rotisseria, resumiu que as vendas caíram muito e não bastavam mais para manter o negócio. Porém , eles continuam suas atividades em outro endereço. Outro exemplo é a Ironia Dance, que vendia seus produtos na Rua Irmã Serafina, em frente à praça Carlos Gomes, por mais de 35 anos. Não há previsão sobre um possível retorno.

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