Para os brasileiros, as dificuldades e a demora no atendimento, com 37% das citações, são o principal problema do sistema de saúde pública
Pessoas aguardam atendimento no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti: lentidão no serviço público de saúde irrita usuários e sobrecarrega sistema (Matheus Pereira/Especial para a AAN)
Pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a avaliação dos brasileiros sobre os serviços públicos de saúde piorou nos últimos sete anos. O número de pessoas que considera a saúde pública ruim ou péssima subiu de 61% em 2011 para 75% neste ano. A empresa ouviu 2 mil pessoas em 126 municípios entre os dias 2 e 25 de março deste ano. Para os brasileiros, as dificuldades e a demora no atendimento, com 37% das citações, são o principal problema do sistema de saúde pública. Em seguida, com 15% das menções, vem a falta de equipamentos. Em terceiro lugar, com 9% das respostas, a população cita a falta de médicos. Também com 9% das menções, o público reclama de má administração e corrupção. A pesquisa mostra ainda que 64% da população usam principalmente ou somente os serviços públicos de saúde. Apenas 17% utilizam somente ou principalmente o serviço privado. Uma queixa comum dos usuários de serviços públicos e privados é a dificuldade de marcar horários para consultas e exames médicos. Em Campinas, uma rápida conversa com usuários do serviço público da cidade já permite constatar que a insatisfação é geral. A cozinheira Maria José da Conceição, de 40 anos, esteve ontem pela primeira vez no Hospital Municipal Dr. Mario Gatti, e não gostou do que viu. “Já estou há duas horas aqui e nem faço ideia de que horas serei atendida. Estou com vômito, diarreia e dor de cabeça, e preciso saber que doença que pode ser”, reclamou. No mesmo hospital, a estudante Kethelyn Suellen, de 16 anos, que já é mãe de um menino de 1 ano, também criticou os serviços de saúde de Campinas. “Moro na região do Campo Grande e lá os postos de saúde são péssimos. Sempre estão lotados e falta médicos. Já precisei levar meu filho dez vezes ao hospital com gripe e sempre é a mesma demora. Ainda passam amoxicilina sem nenhum exame de raio X, parece que atendem com má vontade”, desabafou. A pesquisa divulgada pelo CNI aponta que, entre as pessoas que utilizam o serviço público, 82% dizem que já deixaram de procurar um médico ou fazer um exame pela burocracia para marcar o serviço. Hospitais Em hospitais, o número de pessoas que usou algum serviço em unidades públicas nos últimos 12 meses subiu de 51% em 2011 para 65% neste ano. Os jovens são os que mais usam os hospitais públicos. Entre as pessoas que têm de 16 a 24 anos de idade, 72% usaram esse serviço nos últimos 12 meses. Entre os que têm 55 anos ou mais de idade, o número cai para 57%. “Isso pode estar relacionado ao fato de os mais jovens procurarem mais os serviços de saúde para cuidados com ferimentos, dor ou doença, cujo atendimento mais frequentemente ocorre em hospitais. A população mais idosa, por sua vez, busca mais exames clínicos e tratamento regular de algum problema de saúde que podem ser disponibilizados em clínicas, postos de saúde e ambulatórios”, afirma o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca. No entanto, a avaliação dos serviços dos hospitais piorou nos últimos sete anos. Na escala de zero a dez, a nota média dada a todos os pontos da estrutura dos hospitais caiu de 5,7 em 2011 para 4,6 em 2018. Também piorou a nota dada pela população aos recursos humanos dos hospitais públicos. A média caiu de 6,3 em 2011 para 5,5 neste ano. Entre os itens melhor avaliados estão a competência e o conhecimento dos médicos, que recebeu nota 6,3 em 2018. A pior nota, de 4,3, foi conferida à quantidade de médicos. SAIBA MAIS Principais reclamações: Demora no atendimento (37%) Falta de equipamentos (15%) Falta de médicos (9%) Má administração e corrupção (9%) Fonte: CNI