Campinas voltou a ter casos de sarampo após 22 anos sem contabilizar nenhuma ocorrência da doença. Quatro casos foram confirmados em crianças
Campinas voltou a ter casos de sarampo após 22 anos sem contabilizar nenhuma ocorrência da doença. Quatro casos foram confirmados em crianças e outro ainda está sob investigação. O Estado de São Paulo acompanha uma escalada do sarampo, com 484 ocorrências. A Capital concentra 363 dessas anotações, o que representa 75% dos diagnósticos em todo o Estado. Paulínia e Indaiatuba, na região, têm um caso cada uma. A vacinação é a única forma de prevenção. Ontem, a Secretaria Municipal de Campinas confirmou que os quatro casos positivos da doença ocorreram no Centro Municipal de Educação Infantil Ministro Gustavo Capanema, no DIC 6. O outro caso em investigação é da mesma creche. As crianças têm entre sete meses e 1 ano e 5 meses. Uma delas, uma menina de apenas nove meses, segue internada por conta da doença. "Assim que a Secretaria de Saúde foi notificada sobre a suspeição de sarampo na unidade, em 11 de julho, foram tomadas todas as medidas necessárias. Foi realizado o bloqueio vacinal em todas as crianças da Cemei e pessoas com quem as crianças tiveram contato", informou a Secretaria. Valéria Almeida, médica infectologista do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), disse que a situação já era prevista. "A gente está tendo surto de sarampo na Capital, e como temos muitos deslocamentos entre Capital e Interior, era esperado que, eventualmente, surgissem casos aqui. Mas isso não é exclusivo de Campinas. Tem casos em outras cidades também", adiantou. Ela explicou que em situações como essa, a Secretaria de Saúde faz ações de bloqueio vacinal em todas as pessoas que tiveram contato com as crianças, mesmo, antes da confirmação da doença. Como a vacina só pode ser tomada a partir dos 12 meses, as crianças que contraíram a doença ainda não estavam protegidas. Em 2018, a cobertura vacinal de sarampo alcançou 98,15% das crianças de 12 meses. A vacina deve ser tomada em duas doses. A primeira aos 12 meses e a segunda aos 15 meses. Pessoas de até 29 anos devem tomar duas doses da vacina. Dos 30 aos 59 anos, a recomendação é de uma dose. A vacina está disponível em todos os centros de saúde do município. A Secretaria ressalta a importância de se proteger contra a doença, que é extremamente contagiosa, mas pode ser prevenida por meio da vacina. O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave, transmitida por gotículas e aerossóis de saliva, pela fala, tosse e espirro. Os sintomas são: febre alta, acima de 38,5°C; dor de cabeça; manchas vermelhas que, geralmente, surgem primeiro no rosto e atrás das orelhas, e, em seguida, se espalham pelo corpo; tosse; coriza; conjuntivite; e manchas brancas que aparecem na mucosa bucal conhecidas como sinal de koplik, e que antecede de um a dois dias o aparecimento das manchas vermelhas. Exatamente pela alta transmissibilidade é quase impossível saber a fonte da contaminação. "A gente tem que lembrar que as crianças entram em contato com adultos. Uma delas foi a primeira a entrar em contato com a doença, pode ser em evento, numa festa de aniversário, num ônibus, com alguém que veio de São Paulo. Não dá para saber como foi (o contágio)", concluiu. Casos no Estado Em 2019, até o momento, foram confirmados 484 casos de sarampo no Estado de São Paulo. Desse total, 75% se concentram na Capital, com 363 casos. Na cidade de São Paulo, a campanha começou em 10 de junho, com a meta de vacinar 2,9 milhões de pessoas na faixa etária indicada. Embora representem aproximadamente 20% da população paulista, esses jovens respondem por cerca de metade dos casos do Estado. Outros 36 casos (17,5%) abrangeram crianças com menos de 12 meses, público já abrangido na rotina pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), que prevê administração da tríplice viral aos 12 meses, e um reforço aos 15 meses com a tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela). Os profissionais de saúde das redes pública e privada também devem estar imunizados, considerando a possibilidade de contato com pessoas infectadas. Há contraindicação para gestantes e imunodeprimidos, como pessoas submetidas a tratamento de leucemia e pacientes oncológicos. Campanha continua até 16 de agosto A Secretaria de Estado de Saúde mantém a campanha de vacinação contra sarampo, agora realizada em mais nove cidades do Estado de São Paulo devido à circulação do vírus. A ação vai até 16 de agosto e o público-alvo são jovens com idade de 15 a 29 anos, considerada mais vulnerável a infecções devido a menor procura pela segunda dose da vacina. A campanha já estava em curso na capital paulista, Guarulhos, Osasco, São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano do Sul. Agora a ação está em Barueri, Carapicuíba, Diadema, Mairiporã, Mauá, Santana de Parnaíba, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Taboão da Serra. Campinas não faz parte da campanha, mas qualquer pessoa pode procurar os postos de saúde para atualizar a caderneta de vacinação. (Das agências) Baixa cobertura vacinal é uma preocupação mundial Agências da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que 20 milhões de crianças em todo o mundo não foram vacinadas em 2018 contra doenças como o sarampo, difteria e tétano. Os números divulgados na semana passada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) indicam que mais de um em cada 10 menores em todo o planeta não foram imunizados. Em Campinas, porém, a cobertura vacinal em 2018 atingiu níveis acima da média mundial. Em algumas doenças, a vacinação superou a meta estabelecida pelo município e, em outras, ficou próxima dos objetivos fixados pelas organizações de saúde. Segundo a ONU, o nível da cobertura de vacinação com três doses de difteria, tétano e coqueluche, também conhecida como tosse convulsa, e uma dose da vacina contra o sarampo é de cerca de 86% em nível global. Em Campinas, a cobertura vacinal varia entre 91,6% e 98,1% de acordo com a doença. Dados do Programa de Imunização da Secretaria Municipal de Campinas revelam que quatro tipos de doenças estão com níveis de vacinação acima da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A vacina BCG contra a tuberculose atingiu 96,2% do público-alvo de cobertura e a meta era de 90%. A vacina Pneumocócica, contra pneumonia, meninginte, otite e sinusite chegou a 98,1% , nível superior à meta é de 95%. A Rotavírus, contra diarreia, também superou o nível estabelecido com vacinação chegando a 93,8% das crianças, desempenho acima da meta de 90%. Outra vacinação superior à meta foi a da tríplice viral (SCR), contra o sarampo, a caxumba e a rubéola — atingiu 98,1% — acima da meta de 95% estabelecida. Outras três vacinas em Campinas ficaram um pouco abaixo dos 95% de cobertura estabelecida pela OMS e pelo Ministério da Saúde. A Pentavalente, contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite, atingiu 91,6% das crianças. A Meningo C, que combate meningite, sepse e outras infecções, chegou a 91,7%. Já a Poliomelite, contra a paralisia infantil, teve o nível de 93,1%. Gabriela Marchesi, coordenadora do Programa de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, avalia que a cobertura vacinal de Campinas em 2018 teve números satisfatórios. “O ideal sempre é conseguir a vacinação de todas as crianças com idade inferior a um ano para que todas fiquem protegidas, porém, a cobertura vacinal superou a meta contra muitas doenças e ficou um pouco abaixo dos objetivos em outras”, afirmou. A coordenadora destacou a importância de se vacinar para evitar mortes ou a incapacidade das crianças. “Quanto mais efetiva a vacinação melhor para salvar vidas, pois é a forma mais adequada de prevenção”, disse Gabriela. (Gilson Rei/AAN)