MAIS UMA VÍTIMA

Santo Antônio de Posse confirma morte por dengue e decreta emergência

Região Metropolitana de Campinas (RMC) contabiliza quatro óbitos decorrentes da doença em 2024 e mais quatro estão em investigação

Paulo Medina/ [email protected]
13/03/2024 às 08:43.
Atualizado em 13/03/2024 às 08:43
Agentes de combate à dengue estiveram ontem em ruas da Vila Costa e Silva procurando criadouros do mosquito transmissor da dengue e nebulizando as residências; população ficou do lado de fora das casas enquanto trabalho interno era realizado (Alessandro Torres)

Agentes de combate à dengue estiveram ontem em ruas da Vila Costa e Silva procurando criadouros do mosquito transmissor da dengue e nebulizando as residências; população ficou do lado de fora das casas enquanto trabalho interno era realizado (Alessandro Torres)

Santo Antônio de Posse confirmou a primeira morte por dengue na pacata cidade de 23,5 mil habitantes, a quarta registrada em toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC). Ao mesmo tempo em que confirmou o óbito, o município decretou situação de emergência para a dengue, seguindo a mesma decisão feita por outras três cidades da RMC, Campinas, Jaguariúna e Pedreira. 

De acordo com o governo estadual, a primeira vítima de dengue em Santo Antônio de Posse é um idoso de 77 anos, morador do bairro Vila Rica, com sintomas de febre, cefaleia e mialgia. O óbito ocorreu em 5 de março, às 23h45. Em Posse, são 72 casos da doença, média de um caso para cada grupo de 326 moradores. As outras três mortes confirmadas na RMC foram em Campinas. Ainda há um óbito em Limeira, parte da macrorregião. 

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, além das mortes já contabilizadas, são quatro óbitos que estão em investigação na região, dois em Campinas, um em Americana e um em Vinhedo.

Em relação à situação de emergência em Santo Antônio de Posse, ela autoriza adoção de ações administrativas necessárias à contenção das arboviroses, como a compra de insumos e materiais, a doação e a cessão de equipamentos e bens, contratação de serviços para o atendimento da situação emergencial, a prorrogação de contratos e convênios que favoreçam o combate ao mosquito transmissor dos vírus, entre outras medidas. A Secretaria Municipal da Saúde realocará servidores de acordo com as necessidades apresentadas pelas suas áreas técnicas e vai elaborar diretrizes para a execução das medidas de enfrentamento à doença.

A Pasta municipal adotará ainda medidas excepcionais, como a suspensão de férias e folgas dos agentes de combate a endemias e agentes comunitários de saúde, atuação conjunta desses agentes para realização de visita domiciliar e demais ações de campo, além da entrada forçada em imóveis públicos e particulares que forem identificados em situação de abandono, ausência de pessoas ou recusa.

REGIÃO

Na RMC, são 22.043 casos confirmados de dengue e 14 casos graves da doença, segundo a pasta estadual de Saúde. Há, ainda, 248 casos com sinal de alarme, ou seja, quadros que podem evoluir para a situação mais grave da doença. 
Palco de uma epidemia que se agrava a cada dia, Campinas chegou a 16.431 infecções nesta terça-feira (12), conforme o Painel Municipal das Arboviroses. O Jardim Eulina mantém a disparidade de registros em relação aos outros bairros, com 853 casos. O Jardim Aurélia tem 579 infecções, seguido do São Quirino, com 477, e o distrito de Sousas, com 417. Na terça-feira (12), equipes estiveram na Vila Costa e Silva fazendo nebulização nos imóveis.

A Secretaria de Saúde de Campinas informou que, devido à situação epidemiológica, muitos casos de morte são investigados para dengue, mas a maioria é descartada. “Em geral, os óbitos com suspeita de dengue também são suspeitos de outros agravos, infecciosos ou não. Por isso, o protocolo da Secretaria de Saúde continua sendo o de divulgar apenas os óbitos confirmados por exame e depois da ciência da família.”

AUDIÊNCIA COM TARCÍSIO

Na região, o Parlamento Metropolitano da RMC, formado pelos 20 presidentes das câmaras municipais, solicitou no mês passado uma audiência com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para expor a epidemia regional e solicitar mais recursos para os municípios.

Os pedidos feitos pelo Parlamento da RMC ao governador consideram a alta dos casos, a circulação simultânea dos sorotipos 1, 2 e 3 – os dois últimos que aumentam as chances de óbitos – e restrições da legislação eleitoral para a contratação de pessoal nas prefeituras em 2024, ano de eleições municipais. 

O colegiado solicitou, em ofício, apoio especial do governo para a destinação de recursos que possibilitem a estruturação dos sistemas de saúde municipais e estaduais presentes na RMC a fim de “ampliar a capacidade de atendimento aos pacientes infectados pela doença”.

O Governo de São Paulo informou que, em fevereiro, antecipou o pagamento de R$ 205 milhões do IGM SUS Paulista (Incentivo à Gestão Municipal) para suporte aos 645 municípios paulistas, no enfrentamento às arboviroses urbanas, sobretudo à dengue.

O Estado não respondeu sobre a data da reunião com o governador e não comentou novos investimentos para enfrentamento da epidemia na RMC, nem mesmo para as cidades que já decretaram emergência. Segundo fontes do Parlamento da RMC, ainda não há qualquer resposta do governador sobre o encontro solicitado. A Pasta estadual disse apenas que o repasse para as cidades em emergência vem do Ministério da Saúde, que não respondeu até o fechamento desta edição. 

O governo paulista decretou emergência para a dengue no dia 5 de março depois de alcançar a média de 300 casos por 100 mil habitantes. Tal medida abriu caminho para os decretos municipais.

ESPECIALISTA FAZ APELO

O médico epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic, de Campinas, André Ricardo Ribas Freitas, apelou para que a população regional se previna, com uso de repelente, e receba assistência para evitar a transmissão do mosquito. A respeito da decretação de emergência na região, ele esclareceu que não são os óbitos que influenciam a decisão, mas a junção de casos confirmados com o planejamento interno dos municípios, especialmente no que se refere a processos licitatórios. “O que define a emergência é a necessidade de comprar materiais e serviços não previstos. Vai depender de cada município e do seu planejamento interno. É difícil mudar a situação da epidemia, que está consistente e os vetores estão voando por aí. Agora depende mais da população”, disse Ribas Freitas. Ele acrescentou que as ações deveriam ter sido fortalecidas há meses para prevenir a transmissão da dengue neste ano, e lamentou a "etapa perdida".

A infectologista Ártemis Kilaris frisou que as cidades devem decidir pelo decreto de emergência com base nas estatísticas locais. Para ela, os municípios precisam intensificar o controle do mosquito vetor da doença, colocar mais equipes nas ruas, utilizar drones e atuar em escolas junto às crianças, “tornando-as conscientes da importância de manter as casas e quintais livres do foco do mosquito”.

RMC SE UNE

As 20 cidades da RMC definiram na última sexta-feira sete ações conjuntas de combate à dengue para tentar conter o avanço da epidemia, reivindicar junto ao governo federal doses da vacina contra a doença e evitar o colapso do sistema público de saúde. As medidas foram anunciadas após uma reunião de emergência. As ações envolvem mutirões conjuntos para a eliminação de focos do mosquito transmissor da doença, a criação de um comitê metropolitano de enfrentamento, a mobilização de lideranças religiosas, empresariais e imobiliárias para serem agentes multiplicadores, o reforço às medidas nas divisas dos municípios, onde a conurbação faz com que há pontos em que cada lado de uma rua fica em uma cidade, o uso da telemedicina para o acompanhamento de casos suspeitos e para evitar que as pessoas se encaminhem até prontos-socorros dos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), além de pedido de apoio ao Exército nos mutirões.

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