ELEIÇÕES

Santinhos virtuais são a nova praga da internet

Vídeos, fotografias e muito blablablá testam paciência dos eleitores

Renato Piovesan
31/08/2018 às 21:45.
Atualizado em 22/04/2022 às 05:52
Professor da Unicamp acredita que assédio nas redes sociais pode ser um tiro no pé, já que a rejeição aumenta (iStock)

Professor da Unicamp acredita que assédio nas redes sociais pode ser um tiro no pé, já que a rejeição aumenta (iStock)

A propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV só teve início sexta-feira, mas há duas semanas, desde a largada oficial da campanha eleitoral nas ruas e mídias digitais, candidatos já têm traçado as primeiras estratégias para angariar votos. Se nas ruas a campanha ainda tem sido tímida, até pelas novas regras que proíbem o uso dos tradicionais cavaletes nas calçadas, por exemplo, é nas redes sociais que os postulantes à Presidência, ao Senado, à Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados mostram mais as suas caras. Diariamente, publicam vídeos e fotos apresentando a rotina de campanha, comentando assuntos de interesse geral e apresentando ideias e propostas. Alguns dos candidatos, no entanto, têm exagerado no tom e incomodado eleitores. Sem pedir permissão, militantes incluem de uma só vez centenas de pessoas em listas de transmissão e grupos de WhatsApp e comunidades no Facebook para compartilhar conteúdos publicitários dos postulantes. Até santinhos virtuais têm sido disparados aos milhares, mesmo em grupos que nada têm relação com política. “Na primeira semana da campanha me colocaram em dois grupos do WhatsApp sem eu ter autorizado. Nem conhecia um dos candidatos. Saí dos dois na hora”, reclamou o empresário Edson Ardito, de 51 anos. “Eles (candidatos) estão perdendo a noção. Fazem convites no Facebook, ficam mandando mensagem todo dia no WhatsApp falando o que estão fazendo. Não é assim que vão conseguir meu voto”, disse a arquiteta Fabiana Martins, de 36 anos. O chefe de Departamento de Ciência Política da Unicamp, Wagner de Melo Romão, acredita que a propaganda abusiva de candidatos nos aplicativos de mensagem e nas redes sociais pode sair como um tiro no pé. “Quando uma pessoa é colocada em um grupo do WhatsApp sem ter pedido, a rejeição pelo candidato pode até aumentar. O político que fica tentando fazer uma propaganda positiva, pode gerar um efeito negativo se sua estratégia começar a incomodar o eleitorado”, comentou. Segundo ele, a população está desacreditada da política nacional, até pela sucessão de escândalos dos últimos anos, o que faz com que a “poluição virtual” para pedir votos não surta o efeito que os candidatos podem esperar. “A rede social é importante e os candidatos com mais recursos podem direcionar suas publicações para determinados públicos, mas a campanha que diretamente fará diferença é aquela entre amigos de confiança mesmo. O eleitorado está bastante desconfiado e percebe quando há uma propaganda patrocinada. É diferente de quando alguém do seu círculo de amizade ou familiar te dá uma indicação”, afirmou Romão. Pela primeira vez no Brasil, as campanhas eleitorais podem pagar para impulsionar propagandas nas redes sociais como Facebook e Instagram. Tal estratégia permite que o candidato coloque dinheiro para expandir o alcance de suas publicações, conforme o perfil de público que almeja atingir. Quanto mais pagar, mais gente verá o que ele posta. Comprar palavras-chave para conseguir destaque nas páginas de buscadores, como o Google, é outra possibilidade permitida este ano. A professora de Ciência Política da Unicamp, Rachel Meneguello, vê as redes sociais como importantes ferramentas para buscar votos, mas ainda acredita na força da propaganda na TV como fator determinante. “A internet já teve um papel importante na eleição de 2014, mas nessas eleições, a sua importância está sobretudo na ampliação do acesso às redes pela população e a ampliação do seu uso político. No entanto, ainda não sabemos o tamanho do impacto que esse recurso político terá sobre a decisão do voto, pois um conjunto de variáveis precisa ser levado em conta, como o uso concreto dos dispositivos móveis para a informação política e o efeito das fake news” , destacou. “Com uma campanha mais curta, é possível que a televisão mantenha a importância que já teve em outros pleitos, pois a TV ainda é um dos mais forte meios de informação política para eleitores de todas as faixas de idade e renda”, completou Meneguello.

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