SEGURANÇA HÍDRICA

Sanasa anuncia investimento de R$ 750 milhões para captar água do Rio Jaguari

Criação do Sistema Produtor Campinas-Jaguari (SPCJ) deve entrar em operação em 2028 e garantir abastecimento na cidade pelos próximos 50 anos

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
03/07/2024 às 09:47.
Atualizado em 03/07/2024 às 14:15
As próximas etapas da Sanasa para captar no Rio Jaguari (foto) preveem início do licenciamento ambiental, definição do financiamento para execução do SPCJ e elaboração do projeto executivo; cronograma estipula que o lançamento da concorrência pública para execução do empreendimento acontecerá em 2025, com o início das obras no ano seguinte (Alessandro Torres)

As próximas etapas da Sanasa para captar no Rio Jaguari (foto) preveem início do licenciamento ambiental, definição do financiamento para execução do SPCJ e elaboração do projeto executivo; cronograma estipula que o lançamento da concorrência pública para execução do empreendimento acontecerá em 2025, com o início das obras no ano seguinte (Alessandro Torres)

A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. (Sanasa) investirá R$ 750 milhões na captação de 2 mil litros de água por segundo (2 mil l/s ou 2m³/s) no Rio Jaguari para tratar, distribuir e garantir o abastecimento pelos próximos 50 anos do município, hoje com 1,13 milhão de habitantes. “Mais do que segurança hídrica, representará a independência de Campinas”, disse ontem o presidente da empresa, Manuelito Magalhães Júnior, ao apresentar o projeto do Sistema Produtor Campinas-Jaguari (SPCJ), previsto para entrar em operação em 2028. Ele tem o objetivo de reduzir a dependência do Rio Atibaia, responsável pelo abastecimento de 99% da cidade, e representará aumento de praticamente 50% na oferta de água tratada.

Atualmente, a Sanasa capta 4 mil l/s no Atibaia, onde a vazão é controlada pelo Sistema Cantareira, formado por cinco represas que entraram em operação em 1972 para abastecer a cidade de São Paulo. O outro 1% é retirado do Rio Capivari. O SPCJ prevê a construção de uma nova Estação de Tratamento de Água, a ETA 5, no bairro Gargantilha, em uma área adquirida pela empresa no ano passado.

O projeto inclui ainda a instalação de uma unidade de captação de água bruta no Jaguari; uma estação elevatória para bombeá-la até a adutora, de 7 quilômetros de extensão por 1 metro de diâmetro, que estará em ponto mais alto e levará o produto até a nova ETA; uma subestação de energia elétrica para alimentá-la; e a construção de subadutora de 16 km de extensão para ligar essa estação até o anel de macrossistema de abastecimento do município, na altura do campus 1 da PUC-Campinas.

Para o prefeito Dário Saadi (Republicanos), o novo sistema produtor é estratégico não apenas para o município, mas para toda a região e também para a capital. “Campinas compete hoje, no Sistema Cantareira, com a cidade de São Paulo. A partir do momento que a cidade tiver esse novo ponto de captação, nós teremos uma alternativa importante”, afirmou. “É fundamental também para a Região Metropolitana (de Campinas, a RMC), porque, em uma eventual crise hídrica, a cidade pode buscar água no novo sistema e liberar mais água” para os outros municípios que dependem do Rio Atibaia.

PRÉ-OUTORGA

De acordo com o presidente da Sanasa, Campinas já obteve, junto ao Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), a Declaração de Viabilidade de Implantação do SPCJ, a pré-outorga do projeto. A licença final será concedida com as conclusões das construções das novas represas de Pedreira e Amparo, previstas para meados de 2026, que aumentarão as vazões dos rios Jaguari e Camanducaia. Esses reservatórios foram projetados após a crise hídrica de 2014, quando muitas cidades da RMC adotaram racionamento de água e multas para evitar o desperdício. A divulgação das vencedoras das licitações públicas e a assinatura do contrato para o término dos empreendimentos estão previstas para acontecer no final deste mês, com as obras programadas para serem retomadas entre agosto e setembro. A conclusão está prevista para 22 meses após o reinício dos trabalhos.

As próximas etapas da Sanasa para captar no Jaguari preveem início do licenciamento ambiental, definição do financiamento para execução do SPCJ e elaboração do projeto executivo. O cronograma estipula que o lançamento da concorrência pública para execução do empreendimento acontecerá em 2025, com o início das obras no ano seguinte. A inauguração do novo sistema de produção está programada para 2028.

Para Magalhães Júnior, a implantação do projeto é essencial para garantir o abastecimento da população, da agropecuária e o desenvolvimento econômico. Ele lembrou que Campinas está em uma região de estresse hídrico, situação em que a procura de água por habitante é maior que a capacidade de oferta de um corpo hídrico. De acordo com a Sanasa, a disponibilidades na área da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde está o município, é de 951 mil litros por habitante por ano, média que cai para 408 mil litros no atual período de seca.

Ou seja, a proporção é entre 2,6 e 6 vezes menor em relação ao preconizado como ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU), disponibilidade superior a 2,5 milhões de litros/habitante/ ano. A média na região é inferior à do Oriente Médio. Um estudo de 2007 do Banco Mundial apontou essa sub-região da Afro-Eurásia (região formada por três continentes, África, Europa e Ásia) como a menor com disponibilidade hídrica (água subterrânea e bacias hidrográficas) por habitante do planeta. Ela concentrava 5% da população mundial, mas contava com 1% da água fresca existente na Terra. Na época, a cota por habitante era de aproximadamente 1,5 milhão de litros, com estimativas apontando que a taxa cairá para 700 mil em 2025, segundo dados do Banco Mundial.

De acordo com a Sanasa, a afluência no Sistema Cantareira caiu de 53 m³/s entre 1980 e 1989, quando atingiu o pico, para menos da metade entre 2020 e 2023 – 25 m³/s. “Nós precisamos garantir o crescimento da cidade com sustentabilidade e segurança hídrica”, defendeu Manuelito Magalhães ao se referir sobre a importância do investimento no novo Sistema Produtor Campinas-Jaguari.

O novo sistema faz parte do Plano de Segurança Hídrica lançado pela Sanasa em dezembro de 2021. O investimento previsto apenas para essa obra é equivalente a 75% do cerca de R$ 1 bilhão já empregado pela empresa em outros três pontos básicos do plano: redução das perdas, atualmente em 19%, enquanto a média nacional é de 50%; ampliação da reservação com a construção de 20 novos reservatórios, ampliando o total para 93 até setembro; e ampliação da água de reúso, processo de conversão de esgoto em água que pode ser reutilizada para outros propósitos, como geração de energia, refrigeração de equipamentos, aproveitamento nos processos industriais e limpeza de ruas e praças.

A implantação do novo sistema produtor depende da conclusão das represas de Pedreira e Amparo, inicialmente prevista para 2020. O prazo depois foi transferido para 2022, também não cumprido. Em virtude dos atrasos, o DAEE cancelou, em julho do ano passado, os contratos com as empreiteiras responsáveis pelas obras. A autarquia estadual, vinculada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, lançou neste ano uma nova licitação, orçada em R$ 976 milhões, para término dos empreendimentos. Atualmente, 13 propostas dos consórcios participantes estão em análise.

O DAEE espera anunciar as vencedoras das concorrências e assinar os contratos até o final deste mês. As obras deverão ter início entre agosto e setembro, com conclusão em 22 meses. O último balanço divulgado pelas empreiteiras responsáveis pelo começo das obras apontou que a barragem de Pedreira teve 42,01% das obras concluídas, enquanto a Duas Pontes, em Amparo, 44,77%. As duas represas ocupam uma área equivalente a 980 campos do Estádio Maracanã e capacidade para armazenar 85,3 bilhões de litros de água, o equivalente a 34 mil piscinas olímpicas.

Os dois novos reservatórios deverão abastecer 5,5 milhões de pessoas de 27 cidades da Região Metropolitana de Campinas e outras próximas. As duas represas aumentarão a segurança hídrica regional por meio da regularização da vazão dos rios Jaguari e Camanducaia. As barragens de Pedreira e Amparo deverão prover vazões de 8,46 m³ de água por segundo e 8,71 m³/s, respectivamente (com 98% de garantia), aumentando as vazões disponíveis nesses mananciais em cerca de 9 m³/s para jusante, possibilitando maior oferta de água para a região. Cada metro cúbico abastece uma população de 250 mil habitantes.

 TÉRMINO DAS REPRESAS

Apesar da atual oferta de água e período de seca, Dário Saadi afastou o risco de desabastecimento. “Este ano não tem possibilidade de crise”, afirmou o prefeito, mas sem descartar a possibilidade do problema ocorrer no futuro diante das mudanças climáticas, novos regimes de chuva e aquecimento global. “Como essa região tem potencial de ter crise hídrica, Campinas dá um passo importante para garantir sua segurança no abastecimento de água”, completou ele ao defender o projeto do SPCJ.

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