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Sanasa: a caminho da regionalização

A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) vai assumir a gestão e ampliar a estação de tratamento de esgoto Capuava, em Valinhos

Maria Teresa Costa
25/06/2018 às 08:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 13:49
Ribeirão Pinheiros, que passa por Campinas e Valinhos: as duas cidades precisavam ampliar e modernizar suas estações (Leandro Ferreira)

Ribeirão Pinheiros, que passa por Campinas e Valinhos: as duas cidades precisavam ampliar e modernizar suas estações (Leandro Ferreira)

A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) vai assumir a gestão e ampliar a estação de tratamento de esgoto Capuava, em Valinhos. Além de tratar 300 litros por segundo de esgoto da cidade, levará para lá parte do esgoto de Campinas, que hoje é tratado na estação Samambaia. O acordo exigirá investimento de R$ 100 milhões em Valinhos e marca o início do processo de regionalização da atuação da empresa de saneamento.  As duas cidades precisavam ampliar e modernizar suas estações. Valinhos não tinha recursos para isso. Com o acordo, que está em vias de ser assinado, Campinas desativará a Samambaia e a Capuava passará a produzir água de reúso, enviando ao Ribeirão Pinheiros, que deságua no Rio Atibaia, próximo do local onde Campinas faz a captação para abastecer 95% da cidade, uma água mais limpa. Além desse negócio, que será remunerado pelo pagamento do esgoto tratado por Valinhos, a Sanasa leva ao prefeito Jonas Donizette (PSB), nos próximos dias, uma nova proposta: construir uma adutora a partir da Estação de Produção de Água de Reúso (EPAR) até o Aeroporto Internacional de Viracopos, passando pelo Distrito Industrial, para oferecer às indústrias e ao aeroporto, água de reúso. Nesta entrevista, o presidente da empresa, Arly de Lara Romêo, detalha os projetos e fala do primeiro lugar ocupado pela Sanasa no ranking das maiores empresas de saneamento do País e da possibilidade de internacionalização da empresa. Uma cidade do Peru, cujo nome não foi informado, está interessada em que a Sanasa assuma seu saneamento básico. Correio Popular - A empresa está mirando novos negócios, como por exemplo, a regionalização? Arly de Lara Romêo - Estamos em negociação com Valinhos para assumir a estação Capuava, que trata o esgoto antes de ser lançado no Ribeirão Pinheirinho. Esse ribeirão deságua no Rio Atibaia, perto da nossa captação. Está nascendo uma parceria, que implicará em Campinas assumir a gestão da ETE. Valinhos precisa ampliar sua estação e melhorar o tratamento, mas não tem recursos para investimento. Nós precisamos fazer o retrofit na nossa estação Samambaia. O dinheiro que iríamos investir na Samambaia, investiremos na ampliação da Capuava. Todo mundo ganha. Ambientalmente será melhor, porque a ETE terá tratamento por membrana, devolvendo água limpa ao rio, o que reduzirá nossos custos de tratamento da água do Rio Atibaia. Valinhos ganha, porque terá um investimento na estação, que está sendo cobrado pela Cetesb, e vai eliminar o mau cheiro no córrego, que gera muitas reclamações. O que será feito com a Samambaia? Nós vamos desativar essa estação e levar o esgoto que ia para ela para a Capuava. Todo esgoto da bacia que vai para a Samambaia terá um interceptor para levá-lo até a Capuava. Um trecho será feito em Campinas, o outro já está construído em Valinhos. Por que não houve a opção inversa, ou seja, trazer o esgoto de Valinhos para Campinas? Porque ficaria mais caro. Seria preciso fazer bombeamento do esgoto de Valinhos. Começamos a conversar, discutimos com Cetesb, Ministério Público, Comitês PCJ, e todo mundo gostou do projeto que apresentamos e estamos finalizando o processo. Qual o investimento necessário para isso? Em torno de R$ 100 milhões. A ideia nossa é discutir com a Caixa para transferir para a estação Capuava, os R$ 50 milhões que já temos aprovados para a ETE Samambaia. O objetivo do dinheiro será o mesmo, tratar esgoto. Já conversamos em Brasília. A Caixa já nos disponibilizou outra carta para completar o financiamento necessário. O recurso, em si não é problema. O que está dificultando o negócio? Estamos trabalhando para definir o modelo jurídico que adotaremos nessa operação, para ter segurança e evitar que, no futuro, surjam questionamentos sobre por que não se fez assim ou assado. Estamos analisando se precisa licitar ou não. Mas a legislação de convênios fala que não precisa. Temos parecer jurídico que pode ser feito consórcio. Estamos fechando isso, com participação do Ministério Público, dos Comitês PCJ. Acredito que em dois ou três meses a gente consiga assinar. Como será a operação da estação nesse modelo? Ela vai tratar 400 litros de esgoto por segundo. Serão 100 litros de Campinas e 300 litros para Valinhos. E a Sanasa será remunerada por Valinhos pelo volume de esgoto tratado. Essa operação é o início de um processo de regionalização da Sanasa? Algumas cidades já nos procuraram. Queremos concluir esse processo com Valinhos para abrir as portas para a região metropolitana. O estatuto da Sanasa permite essa atuação regional. Nós estamos começando a atuar de forma compartilhada. É possível avançar. Uma cidade do Peru também se interessou em parceria com a Sanasa, em tratamento de esgoto. Uma equipe, que participou do Fórum Mundial da Água, veio conhecer nosso trabalho e estamos conversando. A ideia é ter uma equipe da Sanasa lá, para melhorar a situação de abastecimento da cidade. Foi uma primeira conversa, mas a intenção deles é que a Sanasa opere o saneamento lá. Estamos aguardando a visita oficial do ministro. A empresa estava apostando muito, também, na venda de água de reúso, produzida na EPAR. Isso avançou? Nós vamos entregar ao prefeito, nos próximos dias, uma proposta de levar água de reúso ao Distrito Industrial e ao Aeroporto de Viracopos. Já discutimos isso dentro da empresa. Temos a água de excelente qualidade, que será levada por adutora às indústrias e ao aeroporto. Estamos convencidos que precisamos criar as condições para essa água chegar a esses consumidores. Será o primeiro aeroporto a usar água de reúso. Mas já não houve essa discussão com Viracopos? Antes nós estávamos negociando para que o aeroporto investisse na infraestrutura para a água chegar até lá, de forma que o investimento fosse compensado com a isenção da tarifa de água por um período. Mas isso está inviável agora, dentro do quadro em que Viracopos se encontra. Então agora queremos fazer o investimento e depois oferecemos a água. É projeto de cerca de R$ 20 milhões, para ser implantado em dois ou três anos, e conseguiremos fazer. A Sanasa está novamente liderando o ranking das maiores empresas municipais de saneamento da Revista Saneamento Ambiental. Qual sua avaliação? Cada vez mais eles aperfeiçoam a pesquisa. Campinas tem que ser comparada com cidades do mesmo porte e nessa avaliação lideramos o ranking das maiores empresas de saneamento. No ranking geral estamos na 15ª posição. Isso mostra o grau de excelência dos nossos serviços. Isso é fruto de investimentos maciços que ocorreram nos últimos cinco anos. Foram mais de R$ 500 milhões, fizemos substituição de quase 200 quilômetros de rede. O número de ligações de água aumentou significativamente porque levamos rede para regiões que estavam desassistidas. Desde 2013, o número de ligações teve aumento de 15%, beneficiando cerca de 230 mil pessoas, As ligações de esgoto cresceram 26%. Com a inauguração da ETE Boa Vista, prevista para ser inaugurada no fim deste ano, Campinas será a primeira cidade com mais de um milhão de habitantes a universalizar o saneamento. A Sanasa fechou 2017 com um lucro de R$ 119,17 milhões, um crescimento de 51,2% em relação a 2016. Em 2018 fechará novamente com lucro? Nosso balanço mostra que, nesses primeiros meses, a empresa já obteve lucro e a perspectiva é que fecharemos 2018 assim. É preciso ter claro que ter lucro não significa que a tarifa tenha que ser revista. A Sanasa é uma empresa de mercado e precisa ser lucrativa, para responder aos investimentos e às contrapartidas. Nos contratos que assinamos com a Caixa Econômica Federal, de R$ 416 milhões para universalizar o saneamento, tivemos que demonstrar a possibilidade de aportar a contrapartida de mais de R$ 40 milhões e de pagar o empréstimo. Isso sai da tarifa. Quando a Caixa aprovou o financiamento, ela levou em conta que quando essas obras estiverem prontas, a empresa receberá por essas obras, porque vamos aumentar os consumidores levando água e coleta de esgoto onde ainda não tem.

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