Deterioração da obra faraônica também escancara descaso com o dinheiro público no município: obra faraônica virou abrigo permanente de usuários de droga
Sucata de outros carnavais ainda está acumulada em área do sambódromo: sem manutenção (César Rodrigues/AAN)
Palco de desfiles carnavalescos e de eventos temáticos de grande porte, o brilho vivido pelo sambódromo Floriano Ferreira Dóia, no Parque Brasil 500, em Paulínia, está praticamente apagado. Sob suas extensas arquibancadas — que lhe deram o título de maior sambódromo coberto do Brasil — uma estrutura com aproximadamente 60 salas, divididas em dois andares, está deteriorando com o tempo, abrigando usuários de droga e sem qualquer intervenção do poder público. O local já funcionou por alguns anos como um dos campi da Universidade São Marcos e, mais recentemente, abrigou de maneira improvisada e sob muitas críticas, alunos da Escola Estadual Parque dos Servidores, que deixaram as estruturas precárias em 2014. Desde então, a falta de manutenção e de fiscalização provocou a destruição de todas as janelas de vidro e dos forros das salas de aulas, além do furto do cabeamento de energia e de tubos hidráulicos. As salas se transformaram ainda em abrigo permanente de usuários de droga e campo de paintball. A obra faraônica, que custou R$ 50 milhões, foi inaugurada no primeiro mandato do peemedebista Edson Moura, atualmente inelegível por condenações na Justiça Eleitoral. Foi ele também o idealizador dos exóticos quatro portais que recepcionam o visitante na entrada da cidade, e que também sofrem com o abandono. Apesar de uma estrutura invejável, hoje o sambódromo não teria condições de abrigar nenhum evento pela falta de segurança que o local apresenta. O bombeiro civil Deivison Justiniano descia de rapel pela torre da caixa d’água do sambódromo na manhã da última terça-feira. Especialista em resgate vertical, avalia o local como perfeito para treinamentos de pessoas feridas por tirolesa, resgate em espaço confinado e outras técnicas que os escombros do sambódromo passaram a oferecer. “Esse local é perfeito para treinamento com civis. Uma pena não ser aproveitado. Eu adoraria fazer aqui minha escola de bombeiros”, avaliou. No mesmo dia, além de Deivison a reportagem encontrou em uma das salas um rapaz fumando aparentemente crack, e em outro cômodo um morador em situação de rua fazendo suas necessidades. Ambos evitaram questionamentos e ao serem flagrados deixaram o prédio. Colchões rasgados se misturam a urina, fezes, vidros, estruturas metálicas e forros de feltro. O local precisará de alguns meses até ser limpo por completo. Não há nenhuma restrição para a entrada no espaço do sambódromo. O sambódromo faz parte do Complexo Brasil 500, que possui também o Pavilhão de Eventos, a Concha Acústica Maestro Marcelino Pietrobom e a Prefeitura de Paulínia, além de parte do complexo cinematográfico, incluindo o Theatro Municipal e o Centro Cultural. Posição do Executivo A recente crise política enfrentada pelo município, com a cassação do mandato de Edson Mora Junior (PMDB) e entrada de José Pavan Junior (PSDB) no governo, em 2015, praticamente paralisou Paulínia. Esse é, inclusive, um dos argumentos utilizados para justificar o descaso com o sambódromo, juntamente com a questão da crise econômica. “A Prefeitura priorizou neste ano a reforma das escolas municipais e também de outros espaços de maior uso pela população, como o Parque Ecológico. A reforma da arquibancada está prevista somente para o cronograma do biênio 2017/2018”, adiantou a Administração. Por outro lado, o governo informou que analisa conceder o espaço sob a arquibancada do sambódromo para uma instituição de ensino superior. “As tratativas para isso estão em andamento e oportunamente serão informadas à imprensa. Um dos cursos oferecidos poderá ser o de medicina.” A Prefeitura também garantiu que a Secretaria de Obras vai providenciar a limpeza e o fechamento do espaço sob a arquibancada, e que a Guarda Municipal manterá a ronda com viaturas no local. Segundo balanço da corporação, de janeiro a julho de 2016, 55 pessoas foram averiguadas no local e um caso de porte de drogas foi registrado.