Ação de professor em Barão cria corrente do bem-estar e leva o exemplo para toda a cidade
Ponto de ônibus, que antes estava cheio de lixo, hoje parece uma sala de espera, com flores, revistas e água potável (Edu Fortes/AAN)
Pequenas ações têm o poder de transformar a sociedade e a vida das pessoas. É nisso que acredita o professor aposentado da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp Ahmed Atia El Dash, de 72 anos, que reformou um ponto de ônibus na Avenida Luiz de Tella, na Cidade Universitária, em Barão Geraldo, Campinas.
O lugar, que antes estava cheio de lixo, hoje parece uma sala de espera, com flores, revistas e água potável. A mudança no espaço vai além de deixar a vida das pessoas mais confortável, tem o poder de multiplicar uma ação e provocar uma “corrente do bem.
“As pessoas ficam até meia hora aqui e, se puderem beber água ou ler uma revista enquanto esperam, imagino que ficarão mais felizes. Chegarão mais felizes em casa e, assim, a sua família pode ficar mais feliz”, acredita.
Ahmed explica que sua motivação foi o amor ao Brasil e à cidade de Campinas. Ele conta que cresceu em um país onde o amor à pátria vinha em primeiro lugar.
“No Egito, o país vem em primeiro. A família vem em segundo e os amigos, em terceiro. Eu percebo que no Brasil não é assim”, diz. E como o Brasil é sua pátria de coração, quer transformá-lo.
“Eu gastei muito pouco (cerca de R$ 1 mil) para melhorar isso aqui e as pessoas estão felizes. É o que importa. Se cada um fizer um pouco, a cidade melhora”, diz.
Os mais próximos a Ahmed duvidaram que a iniciativa fosse dar certo. “Diziam que eu era louco, que as pessoas não iriam cuidar. Mas está dando certo”, conta. Faz duas semanas que as intervenções começaram e o local deixou de ser um depósito de lixo. “É surpreendente e espero que os vândalos não venham”, diz o pedreiro Gentil Ferreira.
A iniciativa do professor despertou a atenção dos moradores do bairro. “É uma boa ação que melhorou muito a vida de quem usa o ponto”, considera a universitária Renata Silveira.
E ganhou repercussão também na cidade, mostrando o poder multiplicador das iniciativas cidadãs. A reportagem sobre a transformação publicada pelo Correio ganhou força nas redes sociais e foi replicada com comentários exaltando a iniciativa de Ahmed.
“Um exemplo a ser seguido”, escreve o internauta César Rodrigues, que divulgou a notícia em sua página.
O ponto se tornou atração no bairro. Muitas pessoas passaram pelo local só para conferir e tirar fotos. O professor ganhou notoriedade e foi procurado por outros órgãos de imprensa.
“Tem gente que não acredita no que vê e volta aqui para tirar fotos. O nosso trabalho está fazendo muito sucesso”, diz o pedreiro José Carlos Carvalho, que ajudou a reformar o local.
Ahmed está construindo uma casa em frente ao ponto e isso facilitou as intervenções. Além de pintar o abrigo, ele plantou flores, grama e fez uma instalação hidráulica ligada à rede da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) no muro.
Um filtro oferece água potável, pronta para ser consumida. O professor diz que irá cuidar pessoalmente do espaço. “Vou pagar a conta de água, vou recolher o lixo e colocar o jornal novo todo dia”, conta.
Curiosidade
A identidade do benfeitor ainda permanecia um mistério para muitos moradores do bairro. Um cobrador de ônibus contou que muitos passageiros o indagaram sobre quem teria feito as modificações no espaço. “Está todo mundo querendo saber”, afirmou o funcionário, que não se identificou.
Uma das usuárias do ponto, a ecóloga Carolina de Moraes, classificou a atitude de Ahmed como inspiradora. “Eu não sabia quem tinha feito tudo até você me contar. Perguntei no ônibus e o cobrador disse que não sabia. Adorei e espero que mais pessoas adotem a prática.”
Carolina ficou tão surpresa com a atitude do professor que retribuiu a gentileza com outra gentileza. “Escrevi um bilhete e coloquei no mural para agradecer”, diz. Uma terceira pessoa leu o bilhete e assinou embaixo, fechando o ciclo de gentilezas.