MEMÓRIA

Saga heroica ao longo de 118 anos

Acervo de imagens e equipamentos conta a história do Corpo de Bombeiros em Campinas

Rogério Verzignasse
rogerio.verzignasse@rac.com.br
16/07/2018 às 07:23.
Atualizado em 28/04/2022 às 11:08

Sala de 40 metros quadrados guarda um pouco do passado da corporação; à esq., o tenente coronel, Wilson Lago Filho; abaixo o desfile de 7 de setembro em 1952 e o incêndio da Papelaria Anchieta em 1973 (Thomaz Marostegam)

A ideia de se reunir, no mesmo espaço, materiais alusivos à história do Corpo de Bombeiros em Campinas surgiu lá em 1996. Mas, na época, o acervo se resumia a fotografias antigas. Pouco mais de duas décadas depois, o Centro de Memória toma 40 metros quadrados do piso superior da sede da corporação, na Rua José Paulino. O setor guarda uniformes de época, capacetes, equipamentos de resgate, manuais, medalhas, brasões e quadros. O espaço está ficando pequeno. Ainda precisam ser organizados documentos sobre episódios marcantes: desamentos, incêndios, acidentes, ações socorristas. É um compêndio imenso de informações. Uma mais instigante que a outra. Quem passeia hoje pelo setor já fica impressionado com o material exposto. É um verdadeiro museu. Há sirenes, ressuscitadores, escafandros, extintores, ferramentas, escadas, detectores, bombas de oxigenação, mangueiras especiais … Equipamentos que, década após década, ajudaram a salvar vidas. Pouca gente imagina - principalmente os campineiros das gerações mais novas, que o grupamento campineiro existe há nada menos que 118 anos. Foi fundado em 1900. Antes daquele, só existiam quartéis na Capital e em Santos. A sede operacional está na mesma esquina desde 1909. Diante do sobradinho, resiste até o antigo cocho onde os cavalos bebiam água. É, cavalos. Os primeiros veículos tinham tração animal. Só nos anos 20 os bombeiros foram motorizados. O imóvel e seus anexos têm muitas outras histórias. As repartições da administração, por exemplo – onde fica o Centro de Memória e a sala do comando – funcionam onde no passado havia uma antiga unidade da saúde pública. Era um pequeno hospital. O prédio tem portas, janelas e batentes originais. O espírito do passado está ali, nos cômodos e corredores. O sargento Luís Carlos Dicara, de 50 anos, que hoje responde pelas relações públicas do grupamento, passeia entusiasmado entre os estandes e vai explicando a história por trás de cada imagem. Ele mesmo se emociona ao mostrar, ao visitante, exemplares centenários de manuais e regimentos, onde desenhos ensinavam a montar escadas de incêndio. Se diverte mostrando nadadeiras, calçados, palmilhas… Dicara estufa o peito pra mostrar, orgulhoso, fotos de um episódio onde ele mesmo trabalhou: o incêndio que fez ruir paredes inteiras do Solar do Visconde de Indaiatuba, em 1992. Dicara fala que, atualmente, ele tem um sonho: digitalizar a coleção imensa de documentos. Dentre os mais importantes, está um Termo Oficial da Intendência que previa, ainda em 1976, a inauguração do grupamento campineiro. “A cidade precisa conhecer o acervo. É um prazer imenso receber estudantes, pesquisadores, moradores… Os próprios soldados já aposentados, quando passam por aqui, choram de ver a exposição”, afirma. Orgulho e saudade O comante do grupamento, o tenente-coronel Wilson Lago Filho, de 53 anos, está no cargo desde 2014. E tem um motivo pessoal para cuidar do acervo com tanto carinho. Uma das caixas do material que ainda precisa ser recuperado tem fotos do desabamento do teto do Cine Rink, em 1951. O pai dele, na época um menino de 12 anos, estava dentro do cinema, no momento da tragédia. Ele sobreviveu, mas perdeu amigos que estavam acomodados ao seu lado. O comandante também mostra orgulhoso, pelas paredes, as fotos de soldados que morreram em serviço. “O Brasil ainda não valoriza a história. Eu sonho que um dia isso mude. A cidade precisa cultuar a memória dessas pessoas que, um dia, deram a própria vida para salvar outras”, avalia.

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