Santa Bárbara

Sábado será dia de festa no cemitério

Evento tradicionalmente organizado por descendentes celebra, na cidade, toda a saga dos imigrantes norte-americanos

Rogério Verzignasse
28/04/2018 às 08:52.
Atualizado em 28/04/2022 às 07:07
Valendo-se de um cenário quase cinematográfico, participantes da cerimônia reverenciam a luta de antepassados (Cedoc/RAC)

Valendo-se de um cenário quase cinematográfico, participantes da cerimônia reverenciam a luta de antepassados (Cedoc/RAC)

Música, dança, comida típica e muita alegria. Tudo no meio das lápides do cemitério. É, a cena não é nada comum. Mas, para os moradores de Santa Bárbara d’Oeste e Americana, já é tradição. Como todos os anos, milhares de curiosos devem acompanhar de perto, neste domingo, a Festa dos Confederados, organizada pelos descentes dos imigrantes norte-americanos que, lá no final do século 19, deixaram os Estados Unidos e se estabeleceram no interior paulista. Onda migratória, aliás, que fez nascer e crescer, ao redor da antiga Estação Ferroviária Barbarense, a “Vila dos Americanos”, que é a Americana de hoje. O “Cemitério do Campo” — ou “Cemitério dos Americanos” — fica a 8km da Rodovia Lúiz de Quieroz, a SP-304. Até lá, há uma estrada de chão, poeirenta. Mas vale o sacrifício. A gleba, por si só, é um resgate da saga imigrante. Ali está a capelinha (erguida na época para receber cultos batistas) e os túmulos dos primeiros norte-americanos que, vivendo por aqui, partiram para o andar de cima. Acontece que, na época, protestantes não eram sepultados nos cemitérios mantidos pela Igreja Católica. Quando Beatrice Oliver morreu, lá em 1868, o marido dela (que era o dono do sítio), decidiu enterrar a dona ali mesmo, do lado da capela. E assim foi. Todo norte-americano protestante que morria era sepultado no mesmo lugar. O espaço deixou de ser roça e virou o cemitério oficial da colônia. Até hoje, há descendentes sepultados por ali. O mais curioso, no entanto, é que a propriedade nunca perdeu uma caraterística histórica: ser ponto de encontro para cerimônias religiosas e festas daquelas famílias. Encontro tão bonito que virou atração turística. Desde 1986, o evento é aberto ao público. A Fraternidade Descendência Americana, mantida por anuidades simbólicas, organiza a parada São crianças, adultos e velhinhos, que em comum, têm alguma ligação com os imigrantes do passado. O presidente do grupo, hoje, é o publicitário João Leopoldo Padovesi — de sobrenome italianíssimo — mas que tem uma avó e uma bisavó que nasceram nos Estados Unidos. Ele conta que, neste ano, o visitante vai se divertir a valer, com apresentações de jazz e rock, danças e comida típica (como o imperdível pernil de porco ao molho barbecue, canapés, frango frito e muito cachorro-quente). Show garantido da galera mais jovem, que vai desfilar com trajes de época. Mas o culto ao folclore tem lances brasileiros também. O evento vai ter orquestra de viola e música caipira. A cada ano a festa é mais poliglota, atemporal, diversificada. O que vale é a celebração da paz e da amizade. E o culto à memória de tantos imigrantes que desembarcaram por aqui sem um tostão no bolso, e deram um duro danado para sobreviver. “Esse respeito à história não pode morrer nunca”, diz o publicitário. A Festa dos Confederados começa às 10h do domingo. Uma gleba vizinha tem vagas de estacionamentos para uns 600 veículos. O ingresso custa R$ 20,00, mas crianças até 12 anos não pagam. Para chegar ao Cemitério do Campo, o visitante pode acessar o trevo da Estrada do Barreirinho, no Km 136 da Rodovia Luiz de Queiroz, entre Americana e Santa Bárbara. O trajeto é sinalizado. O começo Foi assim. Os gringos chegaram, cultivaram o chão, abriram comércios. Investiram até na instalação da primeira tecelagem do então município de Campinas, lá nas bandas da foz do Quilombo no Rio Piracicaba. Claro. Na época, com o incentivo do próprio Império, a microrregião recebeu levas de italianos, portugueses, ingleses. Vieram até os alemães, que transformaram a velha Fábrica de Tecidos Carioba em uma potência. Mas os americanos nunca foram esquecidos. Até bem pouco tempo, a imagem dos soldados confederados ornamentava o brasão de Americana. E as cores oficiais do Município — vermelho e azul — remetem à bandeira dos Estados Unidos. Tanto em Americana como em Santa Bárbara ainda resistem muitos sobrenomes que são herança da Guerra da Secessão,que opôs norte-americanos do Norte e do Sul em um sangrento conflito civil, no século 19.

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