FÚRIA DA NATUREZA

‘São Pedro’ dá uma trégua e população de Campinas conta os prejuízos

Chuva derruba árvores no Bosque e outra parte do muro do Cemitério da Saudade

Verônica Guimarães/ [email protected]
14/12/2022 às 09:09.
Atualizado em 14/12/2022 às 09:09
Servidores da Prefeitura de Campinas trabalham na remoção de troncos e galhos de árvores que cairam durante o forte temporal que atingiu o município na última segunda-feira (Rodrigo Zanotto)

Servidores da Prefeitura de Campinas trabalham na remoção de troncos e galhos de árvores que cairam durante o forte temporal que atingiu o município na última segunda-feira (Rodrigo Zanotto)

Embora a intensidade das chuvas tenha diminuído terça-feira (13), os problemas continuaram a atormentar o cotidiano da população em decorrência do solo encharcado e de alguma precipitação, ainda que fraca, localizada em alguns pontos isolados de Campinas. Depois do temporal do começo da semana, com enchentes e pessoas ilhadas em meio à correnteza, 13 ocorrências foram registradas no período da manhã desta terçafeira, incluindo queda de árvores, muros, erosão de vias públicas e alagamento de residências. Enquanto as vítimas contabilizavam os prejuízos, equipes da Prefeitura Municipal foram acionadas para socorrer a população atingida pelas águas nos pontos considerados críticos, principalmente na Avenida Princesa d'Oeste, onde a força da correnteza deixou pessoas em pânico na segunda-feira.

De acordo com o secretário de Infraestrutura, Carlos José Barreiro, a situação preocupa. "Campinas sofre há décadas com a questão (enchentes, alagamentos e inundações) e a atual gestão quer eliminar essas ocorrências nos principais e mais conhecidos pontos da cidade. Atualmente, trabalhamos com três frentes: as preventivas; as da Operação Verão, que ocorrem do início deste mês até o fim de março; e os planos de médio e longo prazos, que são justamente para controlar essas enchentes", conta.

Em relação às medidas preventivas, Barreiro justificou que a Prefeitura tem atuado em prol da população. "A Prefeitura tem investido no desassoreamento de córregos, limpeza de boca de lobos e remoção de entulhos, sempre com o intuito de uma melhor fluidez no auge do período chuvoso. No momento, a Defesa Civil atua em conjunto com algumas secretarias com o intuito de minimizar os danos das chuvas que não estão no nosso controle. Estamos com equipes espalhadas nos mais diversos pontos".

A longo prazo, a Administração trabalha com plano antienchente, anunciado em março. "Estamos em fase final do projeto base, que são os piscinões nos córregos Proença e Orozimbo Maia para a retenção das águas no momento de um temporal. As licitações devem ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano". Segundo disse, "há um investimento pesado de agentes públicos em busca de investidores junto ao governo federal e também no exterior. Temos um custo orçamentário na faixa dos R$ 600 milhões", conclui.

O secretário Barreiro disse que o poder público tem feito o que é possível para minimizar os prejuízos, mas advertiu que a população também precisa colaborar. "A população não se preocupa com a parte dela, com o lixo que joga no chão ou a bituca do cigarro que vai para o bueiro. É preciso uma maior compreensão nesse sentido. É preciso ter consciência de que todos temos o nosso papel".

O vereador Paulo Bufalo (PSOL), que presidiu os trabalhos da Comissão Especial de Estudos Antienchentes, finalizados em novembro, defende a necessidade de grandes obras para a contenção das águas. "Estou articulando para levar (essa demanda) aos membros da equipe de transição do governo Lula, que trata a questão. Embora os relatórios não tenham sido fechados, eles seguem colhendo propostas, diagnósticos e vamos fazer chegar esse material na mão de membros da comissão".

O parlamentar observa que os resultados desastrosos provocados por esses eventos climáticos estão cada vez mais frequentes e intensos e que o desafio deve ser encarado por todos. "É comum (o tema) entre professores e pesquisadores, e vimos agora na COP27, o alerta é esse: os eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes e intensos. Precisamos de uma mudança na concepção das nossas ideias", afirma Búfalo.

Prejuízos

Equipes da Secretaria de Serviços Públicos estão nas ruas para garantir atendimento e manutenção aos espaços e áreas atingidos pelas tempestades, com o acompanhamento e orientação da Defesa Civil. Até a tarde desta terça-feira, não houve registro de desabrigados ou desalojados. Sete foram os alagamentos de imóveis nos bairros Jardim Rossim, Jardim São Pedro de Viracopos, Parque Residencial Vila União, Jardim Yeda, Jardim Planalto de Viracopos, Jardim do Lago Continuação e Jardim Guarani. Houve queda de muros no Bosque, três árvores no Jardim Carlos Lourenço, Jardim Samambaia e Vila Brandina. No bairro Botafogo há um poste com risco de queda.

O Bosque dos Jequitibás, área pública de grande circulação de pessoas, sofreu com a queda de árvores nesses dois últimos dias. Foram seis ao todo, algumas delas de médio e outras de grande porte. As equipes da Prefeitura trabalhavam desde a noite de segunda para a retirada e limpeza dos troncos e galhos. O local permaneceu fechado terça-feira e deve retornar à normalidade hoje. Segundo Douglas Pressotto, chefe de setor do Bosque, "o fechamento é necessário até mesmo pela segurança dos populares".

A força das águas provocou uma erosão na Estrada da Mão Branca, que liga Campinas a Hortolândia, destruindo parte do asfalto, o que prejudicou a circulação de veículos no local. Para contornar a situação, a Secretaria de Serviços Públicos sinalizou o trecho alertando os motoristas sobre a situação precária da pista, cujos trabalhos de recuperação começaram terça-feira e devem prosseguir nesta quarta-feira.

Os centros de saúde do Jardim Ipê e Oziel funcionaram parcialmente terça-feira pela manhã. Somente os atendimentos de emergência e acolhimentos foram mantidos. As consultas agendadas previamente foram suspensas. Por sua vez, a situação foi mais complicada no CS Orosimbo Maia, onde o atendimento teve de ser totalmente interrompido para a manutenção do local atingido pelas chuvas. Até o final da tarde de terça-feira, não havia ainda previsão de quando o atendimento será retomado.

Uma feira livre que acontecia na Avenida Francisco de Angelis, na Vila Joaquim Inácio, foi atingida por uma forte enxurrada no fim da manhã desta terça-feira. Os feirantes contabilizaram mais de R$ 2 mil em perdas entre leguminosos, folhas e peixes levados pela água.

Com parte do centenário muro que cerca o Cemitério da Saudade, destruída pelas chuvas ocorridas em 30 de março, o temporal desta semana voltou a derrubar outro trecho de 20 metros, deixando exposto vários túmulos próximos do local atingido pela correnteza, na Avenida Engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza. Parte do entulho já foi removido e a área destruída será fechada com tapumes. Uma licitação para a construção de um novo muro em toda a extensão do campo-santo deverá ser aberta.

O morador e comerciante Jaime Balbino, do Distrito de Sousas, foi um dos atingidos com o aumento do nível do Rio Atibaia no meio da tarde desta terça-feira. "Foi um susto, a água já estava mais alta desde sexta-feira, mas após a tempestade da manhã de terça-feira o rio começou a subir. Foi tudo muito rápido e só parou de subir perto das três da tarde", comenta. Segundo ele, a margem subiu cerca de cinco metros acima do nível e avançou para as casas e comércios da localidade, próximo ao coreto da Subprefeitura. "Ficamos assustados e impotentes, mas felizmente a água começou a recuar rápido. Por sorte ninguém teve perdas, nem eu e nem meus vizinhos", concluiu.

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