FIM DA AGONIA

Ruas do Campo Belo receberão asfalto após 40 anos de espera

Apesar da confirmação, moradores ainda não acreditam que isso seja verdade

Bianca Velloso/ [email protected]
10/02/2023 às 09:39.
Atualizado em 10/02/2023 às 09:39
Ônibus escolar cruza as ruas de terra do Jardim Campo Belo, em Campinas: depois de 40 anos, asfalto finalmente será realidade para os moradores (Alessandro Torres)

Ônibus escolar cruza as ruas de terra do Jardim Campo Belo, em Campinas: depois de 40 anos, asfalto finalmente será realidade para os moradores (Alessandro Torres)

Depois de 40 anos "comendo poeira" e "escorregando na lama", na linguagem popular, finalmente, os moradores do Jardim Campo Belo I, II e III e Parque dos Pomares, na zona sul de Campinas, poderão circular por ruas asfaltadas, conforme plano de pavimentação aprovado pela Prefeitura. A pavimentação de 13,2 quilômetros de vias e implantação de 10 quilômetros de rede de drenagem beneficiarão cerca de 15 mil moradores da região, de acordo com a Prefeitura. No Parque dos Pomares, na zona Leste, as obras de drenagem e pavimentação de 8,4 km de vias começam em 30 dias e custarão R$ 16,9 milhões, beneficiando 2 mil pessoas.

Mesmo assim, alguns moradores do Campo Belo custam a acreditar que tudo isso seja verdade e se mostram reticentes quanto à concretização desse sonho, que se arrasta há quatro décadas. A incredulidade reside no fato deles terem feito inúmeros pedidos de asfaltamento, sem sucesso, ao longo dos 68 anos de história do bairro.

Há 23 anos residindo na região, João Marcos, por exemplo, disse que "essa história de pavimentação" é antiga e que escuta isso desde a infância. "Está mais do que na hora de colocar asfalto aqui. Já faz muitos anos que prometem e nunca fazem", disse o morador, indignado. Segundo ele, a reclamação da falta de asfalto é algo recorrente. "Os moradores pedem o asfalto todo santo dia. Não tem um dia que não reclamem da falta de asfalto", contou.

Quem mora ou precisa transitar pelas ruas de terra enfrenta problemas o ano inteiro. Na época da estiagem, as vias ficam empoeiradas, gerando problemas respiratórios. De acordo com dados do Painel Interativo de Síndromes Respiratórias, desde o começo do ano foram registrados 35 casos relacionados a esse tipo de doença no Centro de Saúde do Campo Belo. Já no período das chuvas, as ruas sem asfalto ficam enlameadas, com buracos e poças d'água por toda a parte, inviabilizando a passagem por elas.

"Meus filhos têm rinite. Quando venta, eles não podem nem ficar aqui fora direito, porque senão eles ficam doentes", relata João. Segundo ele, quando chove, ele não consegue sair de sua residência, constantemente alagada nesse período, estragando imóveis, como geladeira, armário e guarda-roupa. Mesmo incrédulo com o início das obras, João ainda tem esperança de que a situação vai melhorar. "Tá difícil, mas vamos conseguir vencer", disse com um sorriso.

Bruna Silva, esposa de João Marcos, mora no bairro há um ano. "Quando chove, fica difícil passar. Não dá nem para passar. Quando eu vou no mercado, é lama, é poça d'água, suja tudo", relatou. Ela acrescentou que no calor as ruas ficam com um "poeirão", o que provoca as doenças respiratórias dos filhos. "Meu filho mais novo tem um ano e tem asma e rinite. Eu tenho asma e rinite. É complicado", disse com tristeza nos olhos. Bruna espera que a pavimentação melhore a vida de todos. "Vai ficar melhor, não só para mim, mas para todo mundo", disse sorrindo

Um morador, que preferiu não se identificar, conhece o bairro há 20 anos. Ele disse que a situação sempre foi a mesma. "Sempre a mesma coisa. Entra governo e sai governo. E o povo sempre no buraco", ironizou. Ele destacou que os buracos que se formam com as chuvas dificultam a locomoção dos moradores. "Na chuva tem buraco. Quando o tempo está seco, é a poeira e o calor", relatou.

Maíra Nakama, moradora do Jardim Campo Belo, questiona o fato de terem só asfaltado as vias principais no passado. "Eu acho uma vergonha asfaltarem as ruas principais e largarem o resto. Se você for ver, em tempo de chuva, as ruas ficam todas alagadas, não dá para passar, formam poças d'água na frente das casas e não dá para sair. O certo seria asfaltar todas as ruas do bairro", sugere. De fato, as obras, que terão início dentro de 30 dias, preveem a pavimentação de todas as ruas. Maíra acrescentou que em dias chuvosos ela prefere nem sair de casa. "Se tiver chovendo muito, você se suja na rua ou nem sai. No tempo seco tem bastante poeira", relata.

O presidente da Associação de Moradores do Campo Belo, José Honorato dos Santos, detalha esses problemas. "Temos problemas na época da seca e também na chuva. As ruas ficam todas esburacadas e intransitáveis. Tem ruas aqui na região que você não consegue andar nem a pé. E na época da seca fica aquele 'poeirão' que afeta diretamente a saúde da nossa população. Nós temos muitos problemas de saúde, de respiração", reforça.

Há 41 anos residindo no bairro, Honorato conta que foi o seu pai que fez o primeiro pedido de pavimentação, na década de 80, quando ele presidia a associação de moradores do bairro. Ele disse que nunca perdeu a esperança. "Nós esperamos por esse asfalto por muitos anos, foi uma verdadeira peregrinação", comentou, embora confirme que há muita gente descrente no bairro. "Esses dias eu fiz uma live para contar sobre o asfalto e me perguntaram 'ah, Honorato, será que vem mesmo?'. E eu confirmei. Eu tenho certeza, está tudo certinho. O dinheiro já foi liberado", conta Honorato, que esteve no gabinete do vice-prefeito Wanderley de Almeida para acompanhar de perto o processo de licitação da obra que irá custar R$ 43 milhões aos cofres públicos.

Sorridente, Honorato diz com convicção: "Não é promessa, é realidade". Reforçando a convicção de Honorato, o secretário municipal de Infraestrutura, Carlos José Barreiro, garante que a obra irá melhorar a qualidade de vida da população e deverá ser entregue dentro de 18 meses.

Cidade Singer 

Ao contrário da região do Campo Belo, o bairro ainda não tem previsão de pavimentação. "A pavimentação na Cidade Singer não está prevista para ser executada nesse conjunto de obras que fazem parte do Meu Bairro Bem Melhor 2", informou o secretário de Infraestrutura de Campinas, Carlos José Barreiro. 

João Marcolino Verdiano, morador há 19 anos do bairro Cidade Singer, disse que em dias de chuva, o bairro fica um transtorno e que as pedras que se deslocam na rua machucam os pés. "Não tem como andar de chinelo, tem que colocar sapato", relatou. 

Ademir dos Reis Teixeira, que mora mesmo bairro há 18 anos, disse que precisa levar o carro para consertar regularmente, por conta dos buracos. "A cada dois meses eu tenho que arrumar a suspensão do meu carro, porque quebra tudo". Na seca ele enfrenta outro problema, a bronquite asmática, por conta da poeira. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por