DURANTE A MADRUGADA

Rota de meteoro que iluminou céu da região de Campinas é investigada

Para pesquisadores, uma rocha espacial entrou em combustão ao chegar na atmosfera

Isadora Stentzler/ [email protected]
04/08/2022 às 08:56.
Atualizado em 04/08/2022 às 11:54
Meteoro foi avistado às 5h09 da madrugada de ontem em várias cidades do Estado de São Paulo e do Sul de Minas Gerais (Sérgio Mazzi/Bramon)

Meteoro foi avistado às 5h09 da madrugada de ontem em várias cidades do Estado de São Paulo e do Sul de Minas Gerais (Sérgio Mazzi/Bramon)

Pesquisadores ligados à área da astronomia buscam identificar a rota do meteoro que cruzou o céu da região na madrugada de quarta-feira (3). O fenômeno foi avistado às 5h09 em diversas cidades do Estado de São Paulo e do Sul de Minas Gerais e é chamado de bólido, devido ao grau de luminosidade. Apesar de ter surpreendido pelo brilho, especialistas afirmam que o fenômeno é comum e pode ocorrer até três vezes ao ano.

O motorista Caio Rigamont, de 34 anos, havia saído de Campinas e estava na rota de um fretamento, em Hortolândia, quando foi surpreendido pelo brilho do meteoro na madrugada. “A impressão é que ele estava caindo muito próximo de onde eu estava. Ao mesmo tempo que fiquei fascinado, também levei um susto. Como eu estava dirigindo, vi só um pouco da queda e a explosão no final”, lembra. 

Segundo o professor titular do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alvaro Penteado Crósta, bólidos, como o registrado na madrugada, são pedaços de rocha espacial que vêm de outro corpo planetário. Quando esses pedaços chegam na atmosfera da Terra, entram em combustão, causando o brilho.

Apesar de ter chamado a atenção, o pesquisador esclareceu que não são eventos raros e ocorrem de forma permanente. “O que é muito raro é que tenha sobrevivido e caído na forma de meteorito. Pelas imagens que analisamos, parece que restaram fragmentos, mas eles podem ter o tamanho de um grão de areia”, esclareceu. 

O astrônomo Julio Lobo, do Observatório Municipal de Campinas, acrescentou ainda que esses fenômenos podem ocorrer pelo menos três vezes ao ano, mas que ele já conseguiu flagrar de quatro a cinco vezes num mesmo ano. A frequência, no entanto, varia de acordo com a quantidade de chuvas de meteoros registradas e a proximidade da órbita da Terra. 

Brilho intenso

Ainda segundo Lobo, conforme as métricas usadas na astronomia, o brilho desse bólido foi de -8. Para critério de comparação, o Sol possui brilho de -26, a Lua de -13 e o planeta Vênus de -4. O meteoro, nesse caso, teve um brilho intermediário entre Vênus e a Lua. 

“A origem, pelas primeiras análises estão mostrando, é de um radiante de uma chuva de meteoros que acontece nesta época do ano, chamada alfa capricornídeos, e que ocorre até o dia 15 de agosto. Geralmente, ela é muito fraca, mas costuma mandar muitos bólidos. E esse radiante de meteoros está associado a um cometa chamado 169 Neat. Então, é um cometa que deixa fragmentos em sua órbita; e a terra, quando cruza a órbita desses objetos, os atrai. Como entram em altíssima velocidade, ele fica quente, pelo atrito, e por isso conseguimos observá-lo”, aponta. 

Agora, os pesquisadores buscam identificar a rota desse meteoro. Segundo Lobo, a estimativa é de que ele tenha entrado pelo Estado de São Paulo, desintegrando-se na região do Sul de Minas Gerais.

O que auxilia nessa identificação é uma plataforma chamada Report a Fireball. Por meio dela, pessoas que tenham flagrado imagens de meteoros podem submetê-las e identificar as coordenadas. A estimativa, de acordo com Lobo, é que a precisão desse trajeto seja obtida até hoje.

Aficionados 

Apaixonados pelo espaço também buscam maneiras de localizar a rota. O astrônomo amador Renato Cássio Poltronieri, membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), cofundador e atual vice-diretor da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), flagrou o fenômeno na madrugada. 

“Quando surge um bólido como esse, cria-se mais expectativa para que façamos uma melhor triangulação do objeto, pois assim conseguimos a órbita, para saber de onde veio e outros dados. Além disso, também podemos calcular a trajetória, caso tenha sobrado algo da massa, e assim encontrar o meteorito que é muto valioso para a ciência”, frisa.

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