Moradores do entorno sofrem com a proximidade do aeroporto
O aposentado e ex-motorista de ônibus Francisco Romano, de 64 anos, mora há 30 anos próximo ao aeroporto: voos rasantes assustam vizinhos (Matheus Pereira)
Quando foi inaugurado, em 1960, o Aeroporto Internacional de Viracopos surgiu numa área totalmente inabitada na Zona Sul de Campinas. De lá para cá, um bairro surgiu a cada três anos, em média, na divisa da cidade com Indaiatuba. Hoje, cerca de 50 mil pessoas moram no entorno do aeroporto. São famílias que convivem com problemas de infraestrutura, falta de asfalto, violência, e, claro, com o barulho das aeronaves que passam por cima – e bem perto – de suas casas. Por dia, o terminal campineiro tem cerca de 350 pousos e decolagens. O aposentado Francisco Romano, de 64 anos, mora há 30 na Vila Palmeiras 2, a menos de 6 quilômetros do aeroporto. Em 20 minutos de conversa com a reportagem, cinco aviões passaram em voo rastante a poucos metros de sua residência. “Os aviões passam baixinho, quase pegando as árvores”, diz, com certo exagero. “É isso de 5 em 5 minutos. No começo a gente nem dormia direito, mas agora acostumamos. O complicado é quando eles passam bem perto e estamos assistindo algo na TV. Dá interferência até”, relata. Uma recente mudança de rotas fez com que ainda mais aeronaves passem com frequência por cima de casas como as de Francisco, e nem só de bairros vizinhos a Viracopos, como Jardim Campo Belo 1 e 2, Cidade Singer 1, 2 e 3, ou Jardim Marisa, mas também em áreas urbanas relativamente afastadas de aeroporto, como Swift e Vila Marieta. No fim de 2013, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) implantou alterações em algumas rotas de decolagens do Aeroporto de Viracopos, a fim de ajustar a circulação do terminal à nova circulação da região Sul do País (Projeto PBN Sul). A Navegação Aérea Baseada em Performance (PBN) faz parte do projeto Sirius, que visa aumentar a capacidade do espaço aéreo, reduzir os tempos de voo e também diminuir os ruídos e emissões de gases nocivos ao meio ambiente. A mudança, como não podia deixar de ser, não passou despercebida por moradores vizinhos. Enquanto brinca de soltar pipa num terreno abandonado no Campo Belo, o estudante Kevin Dias, de 12 anos, desvia sua atenção a cada 10 minutos com as aeronaves que sobrevoam a área prestes a aterrizar. “Sempre morei aqui, é normal esse tanto de avião que passa, mas parece está aumentado nos últimos meses”, conta o garoto. O eletricista Valdeci de Jesus Santos, de 48 anos, veio de Salvador para Campinas há seis meses. Mora na Cidade Singer 3, e admite que ainda não se acostumou com a vida de “vizinho do aeroporto”. “Uma vez passou um avião muito baixo. Tremeu toda a louça em casa. Acordei com medo de madrugada, pensei que estava desabando tudo”, lembra. A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos esclareceu, por meio de nota, que não é responsável pela definição das rotas operacionais das aeronaves. “Temos a informação que ocorreram alterações nas rotas operacionais no espaço aéreo de Viracopos, porém, a responsabilidade disso é do Decea. Cabe a Aeroportos Brasil Viracopos elaborar as curvas de ruído aeronáutico, conforme estabelecido no Regulamento Brasileiro da Aviação Civil - RBAC nº 161, considerando as rotas operacionais estabelecidas pelo Decea”, aponta o texto. Em contato com a equipe da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a concessionária foi informada da existência de um Grupo de Trabalho composto pela Anac e Decea com o objetivo de realizar o mapeamento das demandas de ruído aeronáutico em rota em todo o território brasileiro. Deste modo, foi criado um canal para o registro das demandas a serem analisadas pelo grupo de trabalho, por meio de um formulário eletrônico.