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Rodovias carregam a Covid-19 para Interior

Considerada a melhor e mais eficiente do País, a malha rodoviária de São Paulo acabou se transformando na principal rota de dispersão do coronavírus

Da Agência Anhanguera
12/04/2020 às 09:09.
Atualizado em 29/03/2022 às 16:16

Considerada a melhor e mais eficiente do País, a malha rodoviária de São Paulo acabou se transformando na principal rota de dispersão do coronavírus pelo Interior do Estado, segundo estudo feito pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) divulgado esta semana. O estudo da Unesp analisa a relação entre a geografia e o registro de casos da doença.De acordo com rota de dispersão do vírus, os pesquisadores conseguiram identificar as cidades com maior risco de infecção. E chegaram a 13 cidades polos de maior risco de disseminação da Covid-19 — justamente por concentraram eixos rodoviários importantes. Segundo o estudo, a partir da Capital — onde até sexta-feira havia mais de 5,5 mil casos —, o vírus vai se espalhar pelo Interior do Estado por meio de eixos rodoviários como o de Campinas, por exemplo, onde estão estradas com grande volume de tráfego, como o eixo Anhanguera-Bandeirantes, a e acessos rápidos à rodovias Washington Luis e Castelo Branco. Até a última sexta-feira, a Região Metropolitana de Campinas tinha 13 cidades em estado de calamidade por conta do coronavírus; ao menos 150 casos confirmados e nove mortes registradas. O número de casos confirmados na Região Metropolitana de Campinas cresceu 72% nos primeiros oito dias de abril na comparação com os números do final de março, por exemplo. Segundo o estudo da Unesp, além da região Leste — onde estão Campinas e Piracaba, outra cidade considerado polo de dispersão do vírus — há grande risco de espalhamento da doença em todas as demais. Na região Norte, por exemplo, os especialistas da Unesp apontam as cidades de São José do Rio Preto e Votuporanga. Na região Noroeste, os municípios de Araraquara e Ribeirão Preto. No Oeste, os polos seriam as cidades de Marília, Bauru e Presidente Prudente e, por fim, na região Sul, aparecem as cidades de São José dos Campos, no Vale do Ribeira, e Santos, no litoral paulista. Os caminhos do vírus passam ainda pelas rodovias Marechal Rondon, Presidente Dutra e a Raposo Tavares. O estudo da Unesp mostrou ainda que a malha rodoviária se tornou o principal fator de disseminação do vírus depois que o setor aéreo entrou em colapso, com a suspensão de voos e interrupção quase completa das viagens no setor da aviação civil. Segundo balanço do Ministério da Saúde, na última sexta-feira o Brasil ultrapassou a marca de mim mortes por coronavírus. O estado de São Paulo chegou a 540 mortes. Os casos confirmados da doença no estado são 8.216 — um aumento de 736 de quinta para sexta-feira. Por conta disso, o Comitê Unesp Covid-19 — um órgão instalado na universidade para tratar das questões relativas ao novo coronavírus — reafirmou as recomendações de isolamento social e declarou apoio à decisão do governo do estado de estender a quarentena até pelo menos o dia 22 de abril. “No Interior de São Paulo, temos visto uma progressão da epidemia ainda em uma fase ascendente”, afirmou o professor Carlos Magno Fortaleza, da Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu, médico infectologista e integrante do comitê de contingenciamento do Covid-19 montado pelo governo do estado, assim, que surgiu o primeiro caso no Brasil. Segundo ele, dados de mobilidade medidos por celulares têm mostrado que no Interior existe uma falsa sensação de segurança, o que reduz a eficácia da mensagem de isolamento, fazendo com a que as metas de isolamento social não seja atingida. “Temos estudado na Unesp, junto a modeladores matemáticos e geógrafos da saúde , os modos de dispersão do Estado de São Paulo e percebemos que em alguma cidades-polo precisam de um isolamento ainda maior, de forma a reduzir a interiorização desse vírus e a dispersão pelo estado”, disse o médico. O especialista lembrou que das 24 cidades em que a Unesp está presente, 15 delas têm ao menos um caso confirmado da doença: Araraquara, Araçatuba, Assis, Bauru, Botucatu, Dracena, Franca, Jaboticabal, Marília, Rio Claro, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, São Vicente e Sorocaba. MAIOR RISCO AS TREZE CIDADES Araçatuba Araraquara Bauru Campinas Marília Piracicaba São José do Rio Preto São José dos Campos São Paulo Santos Sorocaba Votuporanga CAMINHO DO VÍRUS AS RODOVIAS Eixo – Anhanguera Bandeirantes Castelo Branco Marechal Rondon Raposo Tavares Dutra Sistema mede adesão ao isolamento O governador João Doria apresentou na última quinta-feira o Simi-SP (Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo) para prevenção e combate ao coronavírus. A parceria com as operadoras de telefonia Vivo, Claro, Oi e TIM usa dados digitais para medir a adesão à quarentena em todo o Estado e também envia mensagens de alerta para regiões com maior incidência da Covid-19. "Com 100% dos usuários de telefonia celular em São Paulo, nós podemos identificar os locais onde as pessoas estarão e onde houver concentração para analisar o percentual de isolamento e também ações de orientação e advertência, se necessário", afirmou o Governador. Doria também fez agradecimentos às direções das quatro operadoras pela parceria sem ônus ao Estado. Com o Simi-SP, o Governo de São Paulo pode consultar informações georreferenciadas de mobilidade urbana em tempo real nos municípios paulistas. Para garantir a privacidade de cada cidadão, o monitoramento é feito com base em dados coletivos coletados em aglomerados a partir de 30 mil pessoas. O cruzamento dos dados das operadoras e dos registros de serviços de saúde permite que o Governo de São Paulo envie mensagens de texto para a população. Os alertas informam se a pessoa está em uma região com índices elevados de casos da COVID-19 — por exemplo, a Grande São Paulo — e um link com informações sobre a importância de medidas de higienização e da quarentena. O Simi-SP também identifica locais com maior concentração de pessoas em pontos estratégicos das cidades. A análise de isolamento social é mapeada em municípios com mais de 30 mil habitantes e também nos bairros de cidades mais populosas por meio de um índice de deslocamento populacional. O monitoramento é feito em um gabinete de mapeamento digital montado no Palácio dos Bandeirantes. As informações serão apresentadas em um modelo de “mapa de calor” que indica mais ou menos concentração populacional por localidade e também em diferentes períodos. A análise estratégica digital indica tendências de deslocamento e aponta a eficácia da quarentena em vigor desde 24 de março. A adesão considerada ideal para controlar a disseminação da Covid-19 é a partir de 70%. Na última quarta (8), o índice estadual era de apenas 49%, enquanto na capital a taxa só atingiu 51%. “Nossas taxas estão bem abaixo das médias dos países que aplicaram a quarentena, todos chegam entre 70% e 80% em algum momento, e a gente nunca passou de 60%”, disse a Secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen. Os dados do isolamento em todas as regiões de São Paulo serão divulgados em um boletim diário. O relatório vai apontar as cidades e regiões com mais ou menos adesão à quarentena e reforço em campanhas de conscientização. “Não é hora de relaxar, é hora de salvar vidas. Não saia de casa”, concluiu o Governador.

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