Em dois pontos de maior movimento, em frente ao Hipermercado Extra e nas proximidades do Ciatec, a média de tempo para atravessar seis faixas de rolamento é de 20 minutos
A dona de casa Luana do Prado com a filha Laís, de 2 anos: ela esperou mais de 15 minutos debaixo do sol para conseguir fazer travessia (Leandro Ferreira/AAN)
O pedestre que precisa atravessar a Rodovia Governador Adhemar de Barros (SP-340), que liga Campinas a Mogi Mirim, enfrenta um calvário diário. Em dois pontos de maior movimento nos horários de pico, em frente ao Hipermercado Extra e nas proximidades do Centro de Desenvolvimento Polo Alta Tecnologia Campinas (Ciatec), a média de tempo para atravessar seis faixas de rolamento é de no mínimo 20 minutos. Além disso, o risco de atropelamento é iminente, diante principalmente da quantidade de mães com crianças de colo e pessoas de idade que precisam acessar os pontos de ônibus. Após a retirada da passarela em frente ao hipermercado, em julho deste ano, ainda não há um prazo para que moradores e frequentadores daquela região do Parque Fazenda Santa Cândida e Parque Imperador ganhem nova passagem sobre a rodovia. A retirada, de acordo com o Grupo Pão de Açúcar, foi necessária para a construção de uma nova passarela — sua construção ainda está em discussão. Já a concessionária Renovias, responsável pelo trecho, explica que dentro do contrato de concessão não há previsão para mais passarelas, e diz que a responsabilidade para a passagem naquele trecho é do hipermercado. A reportagem do Correio esteve no trecho na manhã e tarde de segunda-feira (5) e acompanhou o drama de pessoas que sabem que precisarão arriscar suas vidas na volta para casa. É o caso de Aparecido Ferreira e Antonio Almeida, colegas de empresa e que precisam atravessar diariamente a SP-340 para pegarem o ônibus a Jaguariúna. “Já fiquei mais de 40 minutos para atravessar. É um desrespeito a retirada da passarela”, criticou Aparecido. “Quando morrer alguém eles vão colocar a passagem?”, indagou o colega. Jaqueline Silva Santos recorda do acidente do marido há pouco tempo, ao tentar atravessar a pista no sentindo Interior. “O carro atropelou ele no acostamento. Ele quebrou a tíbia e a fíbula, e está em casa se recuperando. Na volta da escola minha filha foi atravessar pelo retorno, mas tinha um rapaz no carro seguindo ela. O local é perigoso e o caminho fica muito maior”, relata. O retorno está a um quilômetro do local. Em uma manobra arriscada, a dona de casa Luana do Prado prefere atravessar do Parque Imperador até a Santa Cândida por uma das alças de acesso que levam à Rodovia Dom Pedro I. Com a filha Laís de dois anos no colo, levou mais de 15 minutos debaixo do sol e diante de veículos em alta velocidade até chegar do outro lado. “Vou até a casa da minha tia no Santa Cândida, e todo dia é esse inferno. Minha filha fica apavorada. Ninguém respeita, não”, reclama. Risco Às 17h de segunda-feira, Rosa da Silva, de 49 anos, enfrentou mais de 15 minutos para atravessar a rodovia, no trecho em frente ao Jardim Miriam, onde mora. Há dez anos é o mesmo drama quando a diarista volta para casa. “Já vi muitos acidentes nesse trecho. A pessoa pensa que dá para atravessar e erra o cálculo”, pontua. Nesse trecho, o pedestre precisa de atenção redobrada pois existe uma faixa extra para quem acessa o polo de tecnologia, e a rodovia fica com quatro faixas. “Está na hora de uma passarela aqui”, afirma Carlos Roberto, que desde 2005 precisa atravessar até o Miriam. Nesta segunda, Carlos teve sorte, e não gastou mais de dez minutos para chegar ao outro lado. A única passarela que existe depois do início da Rodovia SP-340 fica em frente à Faculdade de Jaguariúna (FAJ), cerca de oito quilômetros após o pedágio. IMPASSE O funcionamento do Extra causa impasse desde sua construção, em 2011. Segundo a Prefeitura, o problema começou após o grupo ter construído em uma gleba de terras sem registro do projeto e aprovação da planta pelos órgãos oficiais do Executivo. Na época, era preciso identificar o que seria destinado a ruas, lotes, equipamentos públicos e a própria loja, e não teria sido apresentado qualquer detalhe. O hipermercado ficou embargado por 16 meses e acabou sendo inaugurado em setembro de 2012 após um acordo provisório, com validade de 90 dias, durante a gestão de Pedro Serafim (PDT). No ano seguinte, a liminar foi derrubada pelo MP e o hipermercado chegou a ser lacrado por algumas horas, no entanto outra liminar garantiu que a unidade fosse reaberta. Até julho do ano passado, o Grupo Pão de Açúcar recorreu pelo menos três vezes, perdendo em todas as tentativas, até fechar as portas da unidade em janeiro deste ano. A indefinição da situação do estabelecimento causa atraso na entrega do trevo que liga as rodovias D. Pedro e Adhemar de Barros. A alça está pronta, mas sem ligação com o acesso ao bairro. Solução não deve aparecer em curto prazo O risco a que estão expostos os pedestres parece não ter uma solução a curto prazo. A concessionária Renovias informa que no trecho em frente ao polo tecnológico e ao Jardim Miriam não há qualquer previsão para construir passarelas. A concessionária justificou que nesse trecho existe um radar de controle de velocidade, e que esse dispositivo faria com que veículos desacelerem no ponto onde há uma ponte junto ao canteiro central, utilizada pelos pedestres. A empresa também destacou que o trecho possui iluminação, também para facilitar o trajeto dos pedestres. Esse ponto da rodovia torna-se praticamente intransitável por volta das 8h. Centenas de veículos que vêm de Campinas e fazem o retorno para acessarem o CPqD tomam uma boa extensão do acostamento. Sobre o dispositivo que foi desmontado em frente ao Extra, o Grupo Pão de Açúcar informou que a primeira passarela foi construída para atender de forma temporária a região e, após o período previsto, foi retirada para que a mesma fosse substituída por outra. O assunto está sendo acompanhado pelo Ministério Público, Artesp, Prefeitura e a Renovias e a discussão de como ocorrerá a implantação de outra passarela está em andamento.