NO VERMELHO

RMC termina 2022 com recorde de inadimplentes

Total de devedores em dezembro atingiu 1.076.302 e foi o 15º mês seguido de alta

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
07/02/2023 às 09:20.
Atualizado em 07/02/2023 às 09:20
Cliente entrega cartão à caixa em loja: os consumidores priorizam a quitação das dívidas de bancos e cartões porque utilizam esses meios para comprar itens essenciais, como alimentação, aponta levantamento (Rodrigo Zanotto)

Cliente entrega cartão à caixa em loja: os consumidores priorizam a quitação das dívidas de bancos e cartões porque utilizam esses meios para comprar itens essenciais, como alimentação, aponta levantamento (Rodrigo Zanotto)

O número de inadimplentes na Região Metropolitana de Campinas (RMC) fechou 2022 com o recorde de 1.076.302 pessoas, uma alta de 6,41% em relação aos 1.011.467 devedores de janeiro do mesmo ano, o que ilustra a evolução entre o 1° e 12° mês do ano passado. No acumulado até dezembro, 64.835 nomes foram incluídos na lista de devedores, aponta relatório da Serasa Experian, número equivalente a toda a população de Nova Odessa.

Dezembro foi o 15º mês seguido de crescimento, com alta de 8,07% em relação aos 995.950 inadimplentes de outubro de 2021, quando teve início a sequência. O montante das dívidas é de R$ 5,6 bilhões, revelando um aumento de 16,67% nesse mesmo período, de acordo com a empresa de análise de crédito. Em outubro de 2021, o saldo era de R$ 4,84 bilhões. O valor total é equivalente à soma do Orçamento para este ano de quatro das cidades com os maiores “cofres” da (RMC) - Paulínia, Sumaré, Hortolândia e Americana.

Ou seja, é o total previsto pelas prefeituras desses municípios para pagar todas as despesas, incluindo salários de servidores e investimentos. Isoladamente, o montante da inadimplência é maior do que o Orçamento de 19 das 20 cidades da Região Metropolitana. Ficando abaixo apenas dos R$ 9,1 bilhões previstos por Campinas para 2023.

Consumidores

"Está tudo muito caro. Você vai com R$ 500 no supermercado e compra apenas o básico. A mistura fica para o final do mês, mas, quando chega o fim do mês, o dinheiro já acabou", afirma a operadora de caixa Tatiana Maria Antonia. Com o dinheiro curto, ela deixa de lado carne, roupas, crédito para o telefone celular e também atrasa contas, como os cartões de crédito e lojas.

Desempregada há um mês, Tatiana busca uma nova colocação para evitar que esse quadro piore. Ela se encaixa no perfil do devedor de dezembro da Serasa, que aponta os cartões de crédito como a principal fonte de inadimplência, representando 28,70% do total. 

Já a aposentada Luzinete Antunes dos Santos está com as contas de luz e água atrasadas. Para evitar o corte, ela paga uma atrasada e deixa para o futuro o débito do mês.

"O dinheiro é muito pouco. Não tem como pagar em dia todas as contas", lamenta ela, que recebe um salário mínimo por mês, R$ 1.302. As contas de serviços básicos, como água, luz e gás, aparecem em segundo lugar entre as principais dívidas, com participação de 22,25%, de acordo com o relatório da empresa de análise de crédito. O documento aponta ainda que o comércio aparece em terceiro lugar no ranking, com participação de 11,47%. Ou seja, as contas de cartões, serviços básicos e comércio representam, juntas, seis em cada 10 débitos em atraso.

Para o economista Márcio Coutinho, a inadimplência não surge da noite para o dia, porém, mas é uma questão conjuntural que se arrasta pelos últimos anos. "A inadimplência acontece, primeiro, em consequência da perda da renda e, segundo, pelo aumento de preços. Se a renda não aumenta para o trabalhador, ele tem seu poder de compra dificultado. A renda sofre reajuste anual, já o preço dos produtos sofre aumento mensal ou diário, não é como a renda", argumenta.

Para ele, a equação formada por inflação em alta e desemprego cria um cenário complicado para o consumidor. "Chegamos a essa situação pelo índice de desemprego, que continua alto. Se não tem renda, não tem consumo. Esse consumo que existia lá atrás, a pessoa quando perde o emprego vai tentar empurrar isso para frente de qualquer maneira e quando ela não consegue torna-se inadimplente", resume.

Reflexo

Marco Antonio Almeida, gerente de uma loja no Centro de Campinas, filial de uma grande rede, afirma que a inadimplência também prejudica o desempenho do setor. "Hoje, quase todo o comércio trabalha com cartão de crédito ou próprio. Quando o cliente está com dívida, o sistema bloqueia automaticamente a compra parcelada, afastando esse consumidor das compras", explica ele. "Resta a ele, então, comprar a dinheiro, à vista. Mas quando tem, ele vai priorizar a comida e as contas básicas da casa", acrescenta.

Os dados da Serasa apontam que um em cada três moradores da RMC está com o nome negativado por causa de dívidas. O número de inadimplentes representa 33,65% da população de 3,2 milhões da RMC. 

Apesar de alta, a média é inferior à nacional, de 42,76% da população, de acordo com o relatório da empresa. Segundo o levantamento, o estado com a maior média de devedores é o Rio de Janeiro, onde a taxa é equivalente a 51,92% da população.

O Piauí fica com o menor índice, 35,12%. São Paulo aparece em 9° lugar no ranking entre as 27 unidades da Federação (26 Estados e o Distrito Federal). Com uma população estimada em 46,6 milhões de pessoas, o Estado de São Paulo tem uma taxa de inadimplência de 44,62%, o que resulta em um contingente de devedores de 20,8 milhões. Se a relação total de inadimplentes/população na Região Metropolitana de Campinas é inferior à nacional e à estadual, o mesmo não ocorre com o valor médio da dívida. Na RMC, ela é R$ 5.203,00, 15,7% acima da nacional, que é de R$ 4.493,91, aponta a Serasa.

Os dados da empresa indicam que a inadimplência seguiu em alta na RMC, não acompanhando a queda verificada no índice nacional. Em dezembro, o país interrompeu uma sequência de 11 meses de alta consecutiva, quando o total de devedores chegou a 69,4 milhões de brasileiros. O número representa uma pequena queda de 0,574% em relação a novembro de 2022, o que significa que 400 mil pessoas tiraram o seu nome da lista de devedores.

Para a Serasa, o pagamento do 13º salário, empregos sazonais de final de ano e renegociações realizadas no Feirão Limpa Nome contribuíram para estancar o endividamento. "Ao longo de 2022, promovemos inúmeras ações para ajudar o consumidor a recuperar crédito no mercado. O Feirão, ápice dessas ações, estimulou que parte do 13º salário fosse usado para pagar dívidas, reorganizar as finanças, restabelecer a saúde financeira e retomar o crédito", afirma a gerente da plataforma Serasa Limpa Nome, Aline Maciel.

As mulheres foram as que mais renegociaram as dívidas no último mês de 2022, com uma participação de 53,3% do total. Em relação à faixa etária, os consumidores de 31 a 49 anos lideraram o acerto das contas, com 30,6%. Os inadimplentes de 41 a 50 anos aparecem em segundo lugar, com 19,3% dos acordos fechados. Já os clientes de até 25 anos representaram 18,8% do total de renegociações feitas em dezembro.

Dados do Indicador de Recuperação de Crédito revelam que sete em cada 10 dívidas pagas foram relativas aos setores de bancos e cartões. O segmento de utilities - que engloba contas de água, luz e gás -foi o segundo, com 66,5%. Para o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, os consumidores priorizam as dívidas de bancos e cartões porque utilizam esses meios para adquirir itens essenciais, como alimentação. "O setor de bancos e cartões exige que a população limpe seus nomes para continuar tendo acesso ao crédito, uma das ferramentas que têm garantido o custeio de itens primordiais e o fechamento das contas no final do mês."

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