ESFORÇO REGIONAL

RMC terá ações conjuntas de combate à dengue

Cidades da região discutiram estratégias para enfrentar a doença no mesmo dia em que Campinas confirmou a circulação dos sorotipos 2 e 3 na cidade

Paulo Medina/ paulo.medina@rac.com.br
08/02/2024 às 08:54.
Atualizado em 08/02/2024 às 08:54

O diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidney Furtado (em pé), avalia que 2024 pode ser o ano com mais casos na história do município, superando os 65,7 mil de 2015 (Rodrigo Zanotto)

Um dia depois do governo do Estado decretar a criação do Centro de Operações de Emergências (COE) de combate à dengue, as defesas civis da Região Metropolitana de Campinas (RMC) se reuniram na quarta-feira (7), na sede da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), em Campinas, para a montagem e estruturação dos chamados “COEs municipais” para o enfrentamento da doença. As defesas civis da RMC passarão a atuar com ações de nebulização, vistorias em imóveis e fiscalização por drones nos municípios, a exemplo do que acontece em Campinas, em ações conjuntas promovidas com as secretarias municipais de Saúde. No mesmo momento em que a reunião acontecia, a Secretaria de Saúde de Campinas confirmou os primeiros casos de sorotipos 2 e 3 da doença na cidade, que são os mais graves, aumentando os riscos de morte no município.

O diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidney Furtado, alertou para a dimensão do problema. Na visão dele, 2024 pode superar o recorde de 2015 em Campinas. Naquele ano, a cidade contabilizou 65.754 casos. Sidney Furtado avaliou como grave a situação da dengue e vê o cenário atual “um pouco pior” em relação a 2015, período da maior epidemia de dengue da cidade. Até o momento, Campinas confirmou 1.949 infecções em 2024, ainda sem óbito confirmado, e teve o janeiro com mais casos registrados em sua história, superando o primeiro mês de 2015.

“A questão das arboviroses é uma realidade, uma situação grave e muito semelhante a 2015. O cenário me parece até um pouco pior. Se não houver trabalho de coordenação, vamos ter muita dificuldade, principalmente se for decretada a situação de emergência”, comentou. Ele citou que a Prefeitura de Campinas ficará à disposição para orientar as cidades da RMC nas questões de saúde devido à “experiência” do município em ter enfrentado epidemias.

SOROTIPOS EM CIRCULAÇÃO

É a primeira vez em que três sorotipos da dengue circulam de maneira simultânea em Campinas, do 1 ao 3. A Secretaria de Saúde confirmou que os sorotipos 2 e 3, que não circulavam desde 2021 e 2009, respectivamente, foram identificados no município.

As amostras de sangue dos pacientes foram analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz, na capital paulista. Antes dessa confirmação, Campinas só havia registrado o sorotipo 1.

Os grupos mais vulneráveis para os sorotipos 3 e 4 são crianças, adolescentes e adultos que não tiveram contato com a doença e com estes sorotipos. Há risco maior de dengue grave quando uma pessoa é infectada por tipo diferente ao anterior.

As pessoas diagnosticadas com os sorotipos 2 e 3 da dengue foram atendidas por serviços de saúde particulares em Campinas e já evoluíram para cura, de acordo com a Saúde. Registraram sorotipo 2 uma mulher de 39 anos, que fez a coleta de exame em 3 de janeiro e mora na região Sudoeste da cidade, e uma mulher de 37 anos que efetuou a coleta de exame no dia 10 de janeiro. Ela mora na região Leste de Campinas. Em relação ao sorotipo 3, uma adolescente de 14 anos, da região Suleste, foi infectada. Ela realizou a coleta do exame no dia 18 de janeiro.

A Prefeitura explicou que como o Instituto Adolfo Lutz avalia somente alguns casos para saber o sorotipo, não é possível afirmar se estas foram as primeiras infecções em Campinas para os subtipos 2 e 3, nem precisar a quantidade de casos de cada um.

“Esta é a primeira vez em que três sorotipos da dengue circulam de maneira simultânea em Campinas, o que aumenta o risco de casos graves e de as pessoas se infectarem com um vírus que elas não têm imunidade”, analisou a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea von Zuben.

O coordenador do Programa de Arboviroses, Fausto de Almeida Marinho Neto, apelou novamente para moradores permitirem a entrada de agentes de saúde nas casas e eliminem os focos de dengue nos imóveis. “É importante que a população abra cada vez mais suas portas para os agentes da Saúde e colaborem fazendo sua parte na eliminação semanal de focos de água parada e potenciais criadouros para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Além disso, que procure de maneira correta assistência médica se apresentar sintomas. Queremos evitar casos graves da doença e que Campinas tenha vidas perdidas”, disse.

Segundo a Saúde, ainda não há identificação do sorotipo 4 do vírus da dengue em Campinas. Tal sorotipo não é verificado na cidade desde 2014, mas já causou infecções em outros municípios.

CENTROS DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIAS

Na região, a reportagem apurou que 12 das 20 cidades da RMC já deram início à implantação dos COEs municipais. Campinas tem a estrutura em operação desde 2015. Começaram o projeto Americana, Artur Nogueira, Holambra, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Pedreira, Santa Bárbara d'Oeste, Sumaré e Vinhedo. As demais cidades, como Hortolândia, Santo Antônio de Posse, Engenheiro Coelho, Valinhos, Cosmópolis, Paulínia e Indaiatuba ainda precisam enviar a documentação para a Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp), órgão que faz a interlocução entre o governo estadual e a RMC, para a montagem dos centros de emergência.

A capitã Lidiara Beatriz Kaurachi Lenarduzzi, da Defesa Civil estadual, destacou que o órgão atuará nos municípios com o trabalho de campo, na parte administrativa e na gestão de todo o sistema. A capitã afirmou que será necessária a ação dos coordenadores municipais de Defesa Civil junto aos prefeitos da RMC.

“A gente espera que os coordenadores municipais de Defesa Civil integrem esses comitês, procurem os prefeitos municipais para integrar essa gestão na RMC, para que eles possam construir a atuação da Defesa Civil e ser um braço para auxiliar a Secretaria de Saúde nesse momento (…). Aqueles que não têm o COE instituído (deve ser) praticamente imediata a instituição”, declarou.

O diretor-executivo da Agemcamp, Eliziário Ferreira Barbosa, explicou que o trabalho para montagem dos COEs deve ser de “convencimento”. “Os municípios estão se adequando e existe um projeto para que isso (operação dos COEs) aconteça. Existe uma frase impactante: se você quer a paz, se prepare para a guerra. Isso tem que ser feito. Queremos a sociedade livre da dengue e temos de estar preparados. Agora é o momento de ação, o bicho está pegando”, disse ao explicar, porém, que não há um prazo determinado para a implantação dos COEs, uma vez que, segundo ele, “cada cidade deve ver onde está seu calo”. “Não vamos ficar inertes, vamos pressionar as prefeituras.”

A primeira medida adotada no âmbito do COE estadual foi o anúncio de R$ 200 milhões do tesouro estadual às prefeituras dos 645 municípios paulistas para o enfrentamento direto ao mosquito. Campinas, porém, informou que não foi oficialmente comunicada sobre a verba e o respectivo montante a ser repassado.

PREOCUPAÇÃO DA POPULAÇÃO

Um dos 20 novos bairros de Campinas em alerta e com elevado risco de dengue, o Jardim Guanabara tem realidade preocupante na opinião de moradores. Entulho, papelão e embalagens plásticas e de isopor podem ser vistos pelas ruas do bairro. Uma praça está cercada pelo lixo.

“Temos a praça aqui que está cheia de mosquito o dia todo. Acho que é mosquito de dengue. Estou matando mosquito toda hora aqui. Minha mulher está com suspeita de dengue desde segunda-feira, sentindo um gosto amargo na boca”, disse o comerciante do bairro, Marco Antonio Simão, de 61 anos. Ele já pegou dengue há cinco anos e a recordação é a pior possível. “Tive moleza, fiquei sem paladar, tive febre alta e fiquei afastado três dias do serviço.”

O comerciante Marcio Carlini, de 49 anos, criticou a sujeira na praça. “As pessoas vêm comer aqui e jogam copo descartável no chão. Tenho preocupação. Comecei há uns 20 dias a espalhar vinagre aqui no meu quiosque para tentar prevenir. Ajuda, viu”, relatou.

Sentado em frente a um lago ornamental instalado na Praça das Cerejeiras de Gifu, o auxiliar administrativo Pedro Paulo, de 16 anos, contou que trabalha no Guanabara e disse que a empresa está cheia de mosquito. Ele também demonstrou preocupação. “No meu trabalho tem muito mosquito, mesmo com a pessoa da limpeza fazendo o trabalho dela. Vou me cuidar e passar repelente”, disse. O lago, que atualmente está sem água, acumula lixo e embalagens diversas.

ÓBITO EM INVESTIGAÇÃO

Embora ainda não exista confirmação de morte por causa da dengue em 2024, consta no Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde um óbito em investigação em Campinas. A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que devido à situação epidemiológica, são muitos os casos de morte investigados para dengue, porém a maioria não se confirma. “Em geral, os óbitos com suspeita de dengue também são suspeitos de outros agravos, infecciosos ou não. Por isso, o protocolo da Secretaria de Saúde continua sendo o de divulgar apenas os óbitos confirmados por exame e depois da ciência da família”.

A Secretaria de Estado da Saúde informou que o registro de óbitos suspeitos passa primeiro pelo município que, por sua vez, notifica o Estado sobre os casos. O Estado não recebeu nenhuma notificação até o momento. A reportagem tentou contato com o Ministério da Saúde, mas a Pasta não retornou até o fechamento da matéria.

Com os 1.949 casos confirmados de dengue em 2024, o aumento em apenas uma semana foi de 62%. Do total de diagnosticados com a doença, 3,9% precisaram de hospitalização. Desde o início do ano, 76 pessoas foram internadas em Campinas em decorrência da dengue.

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