Região de Campinas deverá ser protagonista na jornada a caminho da 4ª Revolução Industrial
“Os empresários estão entre fascinados e apreensivos”, diz o diretor titular do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, ao comentar sobre a Indústria 4.0 — um conceito que une as principais inovações tecnológicas dos campos da automação, controle e tecnologia da informação, e a internet das coisas. Tudo isso, aplicado simultaneamente a processos de manufatura. Por isso, vem sendo chamada de 4ª Revolução Industrial e que, segundo especialistas, deverá promover um impacto maior — e mais rápido — que todas as anteriores. Essa nova modalidade de indústria, diz Thiago Lemos, gerente de produção da ABB, empresa líder global em inovação e tecnologia, vai transformar para sempre os meios de produção. O diretor — que esteve esta semana em Campinas para uma conversa sobre o assunto com empresários do setor — lembrou que a Indústria 4.0 vai criar fábricas inteligentes, em ambientes cada vez mais automatizados, com o emprego de robôs. Além de exigir investimentos em máquinas autônomas, lembra ele, será preciso implementar sistemas de computação em nuvem, de forma a garantir o fornecimento de serviços como armazenamento, banco de dados, softwares e servidores por meio da internet. A tecnologia 5G, por exemplo, vai tornar as antenas de celulares equipamentos obsoletos dentro de muito pouco tempo. Isso tudo, lembra ele, vai alterar drasticamente as atuais relações de trabalho. Vai extinguir funções tradicionais, mas também vai criar novas e inéditas ocupações. O gerente cita como exemplo, que já há testes avançados para carros e ônibus autônomos; drones tripulados, transações comerciais antes intermediadas exclusivamente por bancos, sendo realizadas por meio de aplicativos embarcados em um telefone celular. “A Uber transformou o sistema de mobilidade; a Netflix mudou o jeito de as pessoas consumirem mídia e a Airbnb virou referência em hotelaria sem possuir um quarto sequer”, exemplifica. “Estamos vivendo o início de um momento revolucionário”, avalia Lemos. Segundo ele, em todo o mundo, já há movimentos característicos da Indústria 4.0 como nos mercados de mídia e financeiro, varejo — com o comércio eletrônico —, além da mineração, setores petroquímico e de papel celulose. Para ele, o mundo vive o período da tecnologia disruptiva — que resume a ideia de inovação tecnológica que provoca ruptura nos padrões até então estabelecidos. O conceito da Indústria 4.0, diz o gerente da ABB, vem se consolidando em países como Alemanha (onde surgiu), China ou Estados Unidos. Começa agora a chegar ao Brasil e tem a região de Campinas como uma de suas principais portas de entrada. RMC Segundo a ABB, a região metropolitana de Campinas deverá ser protagonista nessa jornada por sua “vocação natural” pela pesquisa e desenvolvimento tecnológico, além de contar com a base já delineada em setores como o de produtos eletrônicos; de alimentos, confecções, metal mecânica e de softwares. Lemos que a região é composta por cidades que respondem por 2,7% do PIB nacional e abriga empresas que já dispõem de altos níveis de automação, como o setor químico, petroquímico, papel celulose, além de dispor de 12 centros de pesquisa e desenvolvimento, entre eles, o Ciatec (Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas), o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e o Techno Park, por exemplo. Investimentos O diretor do Ciesp José Henrique Toledo Corrêa, reconhece que a Indústria 4.0 vai exigir investimentos e que isso pode ser um problema para determinados setores, em especial em períodos de crise como a que o País atravessa. Ainda assim, não vê possibilidade de recuo. “Vai ser uma virada de botão, só que numa velocidade muito rápida. E a questão nem será a de definir se vamos ou não nos adequar. Trata-se de um movimento irreversível. É um caminho sem volta”, resume Corrêa. Ele prevê que o choque de tecnologia que as empresas terão de ser submetidas vai impactar no uso da mão de obra. “Alguns empregos certamente desaparecerão, mas haverá outros. Vamos ver uma transformação”, avalia.