RMC tem saldo de 5 mil postos de trabalho criados em abril

Com saldo de 5.005 empregos criados, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou em abril deste ano o segundo melhor desempenho de geração de vagas para o mês dos últimos quatro anos. O resultado ficou 6,34% abaixo dos 5.344 novos postos criados no mesmo mês de 2022, mas é superior às 2.228 vagas do período em 2021 e do saldo negativo de 20.565 trabalhadores demitidos em 2020, que foi o primeiro mês fechado após o início das medidas de isolamento social causadas pela pandemia de covid-19. Os dados são do estudo feito pelo Observatório PUC-Campinas com base nos dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Apesar do resultado positivo, os números apontam para uma estabilidade de criação de empregos, resultado de “um quadro econômico que ainda está buscando uma maneira de voltar ao crescimento, mas ainda não encontrou meios para criar um círculo virtuoso”, explicou na quinta-feira (1º) a economista Eliane Navarro Rosandiski, pesquisadora responsável pelo relatório. Ela, que também é professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, aponta dois fatores como os principais que prejudicam o desempenho econômico que são as altas taxas de juros e o grande endividamento da população.

A Selic, que é a taxa básica de juros, está em 13,75% ao ano, a mais alta do mundo, há dez meses seguidos. Já a inadimplência voltou a bater recorde na RMC, atingindo o total de 1,09 milhão de consumidores em março, de acordo com a Serasa Experian. O número de devedores é equivalente a 34,07% da população de 3,2 milhões de pessoas da região, ou seja, um em cada três moradores tem contas em atraso.

A economista aponta que na Grande Campinas, área formada por 20 municípios, os dados sobre geração de empregos também influenciam para a manutenção da economia estagnada. A maioria das vagas criadas em abril foi ocupada por jovens entre 18 e 24 anos, com ensino médio completo e que receberão salário médio de R$ 1.971. Esse valor está abaixo da remuneração média da RMC, que no quarto mês do ano ficou em R$ 2.248,14.

SETORES

Segundo Eliane Rosandiski, esse recorte mostra que as contratações feitas contribuirão para complementar a renda familiar, mas “as contratações com carteira assinada mostram estabilização, ainda não dão sustentação para aumento de consumo que garantam um ritmo de crescimento econômico futuro”. Ela explica que as novas vagas geradas foram principalmente pelos setores de serviço, com 3.075 novos postos, e agropecuária, com 1.025 vagas. Ou seja, representaram 81,92% do total, uma média de quatro em cada cinco novas vagas. A pesquisadora do Observatório PUC-Campinas lembra que esse segmentos, geralmente, pagam salários mais baixos.

Em abril, o comércio criou 441 novas vagas na Região Metropolitana de Campinas, enquanto a indústria, 570. O único setor a registrar desempenho negativo, com número de demissões maiores do que o de contratações, foi a construção civil, que fechou 106 postos.

No acumulado dos primeiros quatro meses do ano, a Região Metropolitana de Campinas criou 21.127 novas vagas com registro em carteira de trabalho. O número é 7,43% inferior aos 22.823 postos criados entre janeiro e abril de 2022, quando o País passava por um período de recuperação econômica após a fase mais intensa da pandemia de covid-19. A região fechou abril com 1.038.421 empregos com carteira assinada.

Os dados chegam em um momento que o País registrou um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos bens e serviços produzidos, de 1,9% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período de 2022, de acordo com balanço divulgado na quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a professora da PUC-Campinas, esse desempenho e a aprovação do novo arcabouço fiscal do governo federal pela Câmara dos Deputados criam um ambiente favorável para o Banco Central reduzir os juros. O crescimento foi puxado pela agropecuária, que teve alta de 21,6%.

“Isso mostra que o crescimento está setorizado, não se distribui por todos os setores da economia”, afirmou a economista. De acordo com ela, a queda dos juros beneficiaria os investimentos das indústrias, que é o setor que normalmente paga os melhores salários, o que ajudaria a retomada da economia com mais força.

NOVAS VAGAS

Uma das empresas a gerar novos vagas foi um hospital veterinário, com 800 metros quadrados de área construída, inaugurado no Jardim Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, que contratou 80 funcionários. Ele marcou a entrada da rede na região Sudeste do País e faz parte de um investimento de R$ 50 milhões na construção de dez novos hospitais até 2025. As unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro serão inauguradas ainda este ano.

A escolha por Campinas ocorreu após uma pesquisa realizada pela empresa apontar que 64% das famílias com renda superior a R$ 8 mil possuem animais de estimação ou pretendem adotar ou comprar um nos próximos 12 meses. Esse percentual corresponde a mais de 87 mil famílias e, dessas, 96% aprovaram o conceito de plano de saúde pet, que é um outro produto da empresa. “Nossa experiência é que 90% das pessoas que vão aos nossos hospitais contratam o plano de saúde”, disse o sócio e CEO da rede, Antonio Cassio dos Santos.

Outros dados determinantes para a escolha de Campinas para ser a porta de entrada no Sudeste foram o grande número de cães e gatos no município, que chega a 220 mil animais, segundo o último levantamento da prefeitura, e o potencial econômico, que hoje tem o quarto Produto Interno Bruto (PIB) de São Paulo e o 10º do País. A empresa nasceu na região CentroOeste, onde tem hospitais em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Brasília.

Uma empresa de prestação de serviço também fez contratações em Campinas e Americana. As vagas para prospecção de clientes, promotores de vendas e operadores de call center foram pessoas a partir de 18 anos, com ensino médio completo. Criada em 1998, a empresa tem 9,5 mil funcionários em todo o País.

CIDADES

Entre as cidades da RMC, 15 registram crescimento na oferta de vagas em abril. Já Artur Nogueira (-18), Cosmópolis (-10), Morungaba (-24), Santo Antonio de Posse (-1) e Vinhedo (-64) tiveram saldo negativo. Campinas fechou o mês com 2.046 novos postos, o que representou 40,88% do total da Região Metropolitana.

Na cidade, a criação de empregos foi puxada pelo setor de serviços, com 1.594 vagas, seguido por indústria (351) e comércio (125). Já a construção civil registrou o fechamento de 18 postos e agropecuária de seis. Entre fevereiro e abril, a taxa de desemprego recuou dois pontos percentuais com relação ao mesmo período de 2022 e chegou a 8,5%. A taxa é a menor para o período desde 2015, quando foi de 8,1%.

Segundo dados divulgados pelo IBGE, um contingente de 2,3 milhões de pessoas saiu do grupo de desocupados no País em abril, redução de 19% na comparação com o mesmo período do ano passado. Com relação ao trimestre anterior, há estabilidade na taxa de ocupação e na população desocupada, de 9,1 milhões de pessoas.

Pelos cálculos do IBGE, o número de pessoas com carteira assinada no setor privado chega a 36,8 milhões, alta de 4,4% com relação ao desempenho do mesmo período de 2022. O número de pessoas registradas em empregos formais aumentou 1,6 milhão no período. O cálculo do IBGE não inclui trabalhadores domésticos.