MERCADO DE TRABALHO

RMC tem a maior taxa de ocupação de empregos de SP

Índice de 64% é superior ao do quarto trimestre de 2019, último antes da pandemia

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
22/07/2023 às 09:26.
Atualizado em 22/07/2023 às 09:26
A Região Metropolitana de Campinas registrou saldo positivo entre o número de trabalhadores admitidos e o de demitidos em todos os cinco primeiros meses deste ano (Rodrigo Zanotto)

A Região Metropolitana de Campinas registrou saldo positivo entre o número de trabalhadores admitidos e o de demitidos em todos os cinco primeiros meses deste ano (Rodrigo Zanotto)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) atingiu no primeiro trimestre deste ano a taxa de ocupação de empregos de 64%, a maior do Estado de São Paulo, recuperando-se da crise gerada pela pandemia de covid-19. É o que revela estudo divulgado pelo Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com o índice sendo superior até mesmo ao do quarto trimestre de 2019, o último antes do impacto negativo na economia gerado pela doença, quando foi de 61,7%.

Após a decretação da pandemia em março de 2020, quando tiveram início as medidas restritivas de circulação de pessoas no Brasil e no mundo, 28.715 postos de trabalho no bimestre marçoabril foram fechados na RMC, de acordo com pesquisa feita pelo Observatório PUC-Campinas com base nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Já nos primeiros cinco meses deste ano, a Região Metropolitana registrou a criação de 23.668 nova vagas.

O estudo da fundação ligada ao governo do Estado mostra que apenas três regiões paulistas apresentaram desempenho no primeiro trimestre melhor do que em 2019. Além de Campinas, aparecem a Capital, com taxa de ocupação de 63% contra 62,2% no quarto trimestre de 2019, e a Região Sudoeste do Estado, com a atual ocupação de 61%, acima dos 60,3% de 2019.

O Seade considerou como Sudoeste a união de quatro Regiões Administrativas (RAs), Marília, Bauru, Presidente Prudente e Araçatuba.

Juntas, essas três áreas foram responsáveis por oito em cada dez empregos gerados no Estado no período analisado. Elas responderam pela geração de 625 mil ocupações, o equivalente a 83,22% das 751 mil vagas criadas em territórios paulista, destaca o estudo.

“Este ano o mercado de trabalho está melhor”, diz a atendente de cafeteria Érica Nascimento, que voltou a trabalhar com registro em carteira. A microempresa no Centro de Campinas, onde trabalha, foi inaugurada em setembro passado com quatro funcionários e já elevou o número para seis.

As regiões da Baixada Santista e a Central perderam, respectivamente, 138 mil e 53 mil ocupados, apresentando, junto com o Entorno Metropolitano Oriental, os menores níveis de ocupação no primeiro trimestre de 2023. 

OUTRAS ANÁLISES

A taxa média de ocupação do Estado de São Paulo entre janeiro e março passado ficou em 61%, ligeiramente abaixo dos 61,2% verificados no quarto trimestre 2019. A pesquisa mostra ainda que a RMC registrou entre janeiro e março passado o maior recuo taxa de desocupação (pessoas desempregadas). O índice caiu de 12,6% no final de 2019 para 6,6% no primeiro trimestre deste ano. É a segunda menor taxa do Estado, empatada com a da Região Sudeste e atrás apenas dos 4,6% da Região Noroeste (RAs de São José do Rio Preto, Barretos, Franca e Região Metropolitana de Ribeirão Preto).

“Em todos os estratos geográficos, a taxa de desocupação do primeiro trimestre de 2023 foi inferior à do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia”, destaca o Seade. Porém, duas regiões apresentaram índices superior à média do Estado, que ficou em 8,5%. São as do Entorno Metropolitano Oriental (13,8%) e a Baixada Santista (11,7%).

De acordo com o Seade, a Região Metropolitana de Campinas fechou maio com o estoque de 1,04 milhão de empregos. O número representa 7,81% do total de 13,3 milhões de postos de trabalho do Estado. Em todos os cinco primeiros meses deste ano, as RMC registrou saldo positivo entre o número de trabalhadores admitido e o de demitidos.

REFLEXOS

Esse desempenho se traduz em maior facilidade para as pessoas desempregadas voltarem para o mercado de trabalho. Uma semana após decidir voltar a procurar emprego, a auxiliar de produção e logística Cleudiane Bezerra da Silva saiu na sexta-feira (21) do Centro Público de Atendimento ao Trabalhador (CPAT) de Campinas com o encaminhamento para entrevista em uma empresa.

Após ficar 3 anos e quatro meses no último emprego, fazia cinco meses que estava parada, mas por opção. “Durante esse período, não procurei uma vaga. Vivi com a rescisão que recebi e com o seguro-desemprego”, explicou. Com a esperança de voltar a ter a Carteira de Trabalho assinada, Cleudiane avalia que foi fácil conseguir a indicação para a entrevista, não teve de procurar muito.

“Não está ruim para achar serviço”, disse o auxiliar geral Fábio Júnior Rodrigues Patrício, que também foi indicado pelo CPAT para uma emprego. Ele foi ao órgão em busca de uma vaga e saiu de lá com um encaminhamento no primeiro atendimento. Isso depois de ficar desempregado por dois meses, período no qual se virou com “bicos” que conseguiu.

Entre janeiro e junho deste ano, o órgão ligado à Prefeitura realizou 31.124 atendimentos, entre liberação de segurodesemprego e atendimentos de pessoas a procura de emprego, seja presencial ou on-line. Os resultados positivos na criação de novos postos de trabalho ajudam as pessoas a se animarem para voltar ao mercado, pois voltar para casa com uma resposta negativa é mais difícil.

“Após a crise gerada pela pandemia, as pessoas voltaram a procurar emprego”, diz a coordenadora do CPAT, Camila Garrido Pereira. Apenas o atendimento on-line (chat) do órgão fechou o primeiro semestre deste ano com 9.457 atendimentos, 29,21% a mais do que em comparação aos 7.319 do mesmo período do ano passado. Por meio do atendimento remoto, os trabalhadores têm acesso a diversos serviços usando o computador ou celular, sem a necessidade de se deslocar para atendimento presencial no CPAT.

SETORES

No primeiro semestre deste ano, o CPAT fez, de forma presencial, 10.925 atendimentos de intermediação de mão de obra e 10.805 do seguro-desemprego. Até junho, o CPAT ofertou 3.478 vagas de emprego, média de 580 por mês, aumento de 10,69% em relação a média de 524 do primeiro semestre de 2022. Em 2019, foi de 350 e, nos dois primeiros anos de pandemia, foram 205 e 296 vagas/mês, respectivamente. “Esses dados apontam o aquecimento da economia após a pandemia”, destaca Camila Garrido.

Para a responsável pelo estudo sobre empregos do Observatório PUC-Campinas, a economista Eliane Navarro Rosandiski, o desempenho positivo deve ser comemorado. Porém, ela observa a baixa qualidade do emprego gerado na RMC. A maioria das vagas tem se concentrado na faixa etária de 18 a 24 anos e voltadas para pessoas com ensino médio completo. A média salarial para esse público é próximo de R$ 1,76 mil, abaixo da média geral na Região Metropolitana, que é de R$ 2,19 mil.

“O saldo de emprego por faixa etária mostra que jovens de 18 a 24 anos representaram cerca de 52% dos empregados na RMC em abril. Por outro lado, indivíduos de 65 anos ou mais tiveram um saldo negativo, fechamento de 223 postos de trabalho”, disse Eliane Rosandiski, que também é professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.

Além disso, o setor de serviços tem se destacado na geração de novas vagas. Para ela, esse perfil do emprego não é suficiente para gerar um crescimento econômico sustentado, que gere aumento do consumo e que faça a roda da economia girar com maior velocidade. De acordo com a economista, para isso, é necessário aumento da oferta de emprego no setor industrial, que normalmente paga os melhores salários. Porém, explica, a alta taxa de juros no país inibe o aumento dos investimentos do setor.

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