RIQUEZA REGIONAL

RMC tem 5 entre as 20 cidades de SP com maior nível de renda

De acordo com estudo da FGV, Vinhedo aparece na primeira posição na região em termos de rendimento médio da população

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
19/03/2023 às 09:32.
Atualizado em 19/03/2023 às 09:32
Portal de entrada de Vinhedo: renda média da população é superior à dos demais moradores da RMC por causa dos empregos gerados pela indústria (Alessandro Torres)

Portal de entrada de Vinhedo: renda média da população é superior à dos demais moradores da RMC por causa dos empregos gerados pela indústria (Alessandro Torres)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem cinco municípios entre as 20 cidades cuja população detém o maior nível de renda no Estado de São Paulo. A liderança regional é de Vinhedo, com o valor médio per capita atingindo R$ 3.750,30, de acordo com o estudo Mapa da Riqueza no Brasil, realizado pela Fundação Getúlio Vargas |(FGV), que considera os dados da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física de 2020. A cifra, que coloca o município no quarto lugar do ranking estadual e em 11º no nacional, é equivalente a 2,88 vezes o valor atual do salário mínimo, que é de R$ 1.302 e passará para R$ 1.320 a partir de maio.

Na RMC, a segunda colocação é ocupada por Valinhos, com renda médica per capita dos moradores de R$ 3.228,60, o que põe a cidade na 16ª posição no cenário nacional. Em seguida, surgem Holambra (R$ 2.852,31), Campinas (R$ 2.693,35) e Paulínia (R$ 2.502,45), que é a 38ª cidade em todo o Brasil. 

Para o economista Gildo Canteli, assessor econômico e financeiro da Prefeitura de Vinhedo, o grande número de moradores que trabalham em indústrias explica a primeira colocação da cidade no ranking regional de renda. A política de atração de investimentos nesse setor para o município, segundo ele, "faz com que Vinhedo proporcione mais empregos na indústria, o que resulta em salários melhores e maior renda", analisa.

De acordo com os dados de janeiro passado do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (NovoCaged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), dos 42.309 trabalhadores com carteira assinada em Vinhedo, quase a metade atua no setor industrial. O segmento emprega 19.477 funcionários, o equivalente a 46,04% do total. O serviço é o segundo a gerar mais vagas, com 14.139 postos (participação de 33,42%); vindo depois o comércio, com 7.457 (17,63%); construção civil, com 1.159 (2,74%); e agropecuária, com 77 (0,18%).

O Mapa da Riqueza mostra que a renda dos habitantes de Vinhedo é maior do que a dos moradores do Distrito Federal, que é a unidade da federação com média mais elevada (R$ 3.147,51) e é 1,79 vez superior à do Estado São Paulo (R$ 2.093,34), que aparece na vice-liderança nacional. Canteli aponta outros indicadores que mostram o potencial do município, que aparece entre os maiores da RMC em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e arrecadação de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Qualidade de vida

O assessor econômico da Prefeitura aponta que a maior renda reflete na frota do município, que tem a média de 825 veículos para 1.000 habitantes, maior que a de outro município da RMC no top 5 do Mapa da Riqueza, Paulínia, que tem 758 veículos para cada 1.000 moradores. "A renda maior permite que as pessoas comprem mais carros", explica o economista.

Mas essa riqueza também cobra seu preço. Para o metalúrgico Rafael Lopes da Silva, de 27 anos, nascido em Vinhedo, o custo de vida no município é alto, puxado principalmente pelo aluguel. "Você faz a compra no supermercado, paga o aluguel e não sobra muito", diz. "Uma parcela da população ganha muito e puxa a média para cima. A outra, nem tanto", avalia o operador de injetora Wender Robson Ferreira, 40 anos, também natural do município.

Funcionário de uma indústria fornecedora de peças para automóveis, ele diz que o salário mensal dele não atinge a média do município. Porém, o assessor econômico da Prefeitura considera que toda a cidade ganha com a renda média maior, pois isso gera maior arrecadação tributária. Com um orçamento de R$ 679,9 milhões no ano passado, argumenta, a Administração destinou de seus recursos próprios 15% a mais para a saúde do que a legislação obriga. Para a educação o excedente foi de 20%. "Isso resulta em boa educação e saúde para todos", justifica Canteli.

Outros dados

Para este ano, o orçamento previsto para Vinhedo é de R$ 682,7 milhões. "Mas, diante dos resultados obtidos em 2022, devemos atingir R$ 740 ou R$ 750 milhões", projeta Canteli. Levando em conta o que foi aprovado pela Câmara Municipal, o valor médio de recursos por morador ficará entre R$ 8.326 e R$ 9.146. A população do município é composta por 82 mil habitantes. Esse valor é maior do que o médio dos campineiros - R$ 7.583 per capita, para um orçamento de R$ 9,1 bilhões.

O Mapa da Riqueza aponta também que, entre os 20 municípios da Região Metropolitana de Campinas, seis têm renda média inferior a R$ 1 mil por mês. O menor valor é em Santo Antonio de Posse, com R$ 874,43, ou seja, 32,84% inferior a um salário mínimo. Também aparecem na parte inferior do ranking da RMC as cidades de Cosmópolis (R$ 902,89), Hortolândia (R$ 916,10), Monte Mor (R$ 929,69), Morungaba (R$ 952,64) e Artur Nogueira (R$ 994,20).

Além de liderarem na Região Metropolitana, as cinco cidades que aparecem no topo ocupam lugar de destaque no cenário nacional, estando entre as 40 do país com maior renda. O Mapa da Riqueza elaborado pela FGV Social traz dados das 5.570 cidades brasileiras. A com maior renda média no país aparece Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com R$ 8.897. Depois surge Santana do Parnaíba/SP (R$ 5.791), São Caetano do Sul/SP (R$ 4.698), Florianópolis/SC (R$ 4.214,67) e Niterói/RJ (R$ 4.192).

"Esse exercício mostra que a desigualdade brasileira é maior do que o imaginado. É 7,6 vezes maior quando se leva em conta a renda dos mais ricos", explica o diretor da FGV Social e coordenador do estudo, o economista Marcelo Neri. Para ele, que é uma das principais referências no Brasil quando o assunto é desigualdade social, o levantamento permite a elaboração de políticas públicas que busquem reduzir as diferenças. "Isso permite melhores políticas de Imposto de Renda e imposto sobre o patrimônio", explica.

O Mapa da Riqueza mostra que, além de liderar em renda, Vinhedo também ocupa o primeiro lugar na Região Metropolitana de Campinas em patrimônio líquido médio, que no município é de R$ 176.618,47. Este valor é 28 vezes maior do que a média do Maranhão, estado brasileiro com a menor declaração de patrimônio por habitante - R$ 6,3 mil. Nesse quesito, Campinas supera Holambra e a ordem se inverte no ranking.

Em sequência descrente, na RMC aparecem Valinhos (R$149,7 mil), Campinas (R$ 114,3 mil), Holambra (R$ 107,7 mil) e Paulínia (R$ 82,1 mil).

Neri aponta que a pandemia de covid-19, identificada no país no início de 2020, fez oscilar para cima a desigualdade da renda no país. "Ao contrário do que se acreditava, a desigualdade de renda não caiu na pandemia no Brasil. O auxílio emergencial foi insuficiente. Na verdade, houve um pequeno aumento", diz. De acordo com o economista, os maiores perdedores foram os integrantes da classe média brasileira, que registraram entre 2019 e 2020 uma queda na renda de 4,2%, enquanto que para os mais ricos, que representam 1% da população, a redução foi de 1,5%.

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