De acordo com estudo da FGV, Vinhedo aparece na primeira posição na região em termos de rendimento médio da população
Portal de entrada de Vinhedo: renda média da população é superior à dos demais moradores da RMC por causa dos empregos gerados pela indústria (Alessandro Torres)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem cinco municípios entre as 20 cidades cuja população detém o maior nível de renda no Estado de São Paulo. A liderança regional é de Vinhedo, com o valor médio per capita atingindo R$ 3.750,30, de acordo com o estudo Mapa da Riqueza no Brasil, realizado pela Fundação Getúlio Vargas |(FGV), que considera os dados da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física de 2020. A cifra, que coloca o município no quarto lugar do ranking estadual e em 11º no nacional, é equivalente a 2,88 vezes o valor atual do salário mínimo, que é de R$ 1.302 e passará para R$ 1.320 a partir de maio.
Na RMC, a segunda colocação é ocupada por Valinhos, com renda médica per capita dos moradores de R$ 3.228,60, o que põe a cidade na 16ª posição no cenário nacional. Em seguida, surgem Holambra (R$ 2.852,31), Campinas (R$ 2.693,35) e Paulínia (R$ 2.502,45), que é a 38ª cidade em todo o Brasil.
Para o economista Gildo Canteli, assessor econômico e financeiro da Prefeitura de Vinhedo, o grande número de moradores que trabalham em indústrias explica a primeira colocação da cidade no ranking regional de renda. A política de atração de investimentos nesse setor para o município, segundo ele, "faz com que Vinhedo proporcione mais empregos na indústria, o que resulta em salários melhores e maior renda", analisa.
De acordo com os dados de janeiro passado do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (NovoCaged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), dos 42.309 trabalhadores com carteira assinada em Vinhedo, quase a metade atua no setor industrial. O segmento emprega 19.477 funcionários, o equivalente a 46,04% do total. O serviço é o segundo a gerar mais vagas, com 14.139 postos (participação de 33,42%); vindo depois o comércio, com 7.457 (17,63%); construção civil, com 1.159 (2,74%); e agropecuária, com 77 (0,18%).
O Mapa da Riqueza mostra que a renda dos habitantes de Vinhedo é maior do que a dos moradores do Distrito Federal, que é a unidade da federação com média mais elevada (R$ 3.147,51) e é 1,79 vez superior à do Estado São Paulo (R$ 2.093,34), que aparece na vice-liderança nacional. Canteli aponta outros indicadores que mostram o potencial do município, que aparece entre os maiores da RMC em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e arrecadação de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Qualidade de vida
O assessor econômico da Prefeitura aponta que a maior renda reflete na frota do município, que tem a média de 825 veículos para 1.000 habitantes, maior que a de outro município da RMC no top 5 do Mapa da Riqueza, Paulínia, que tem 758 veículos para cada 1.000 moradores. "A renda maior permite que as pessoas comprem mais carros", explica o economista.
Mas essa riqueza também cobra seu preço. Para o metalúrgico Rafael Lopes da Silva, de 27 anos, nascido em Vinhedo, o custo de vida no município é alto, puxado principalmente pelo aluguel. "Você faz a compra no supermercado, paga o aluguel e não sobra muito", diz. "Uma parcela da população ganha muito e puxa a média para cima. A outra, nem tanto", avalia o operador de injetora Wender Robson Ferreira, 40 anos, também natural do município.
Funcionário de uma indústria fornecedora de peças para automóveis, ele diz que o salário mensal dele não atinge a média do município. Porém, o assessor econômico da Prefeitura considera que toda a cidade ganha com a renda média maior, pois isso gera maior arrecadação tributária. Com um orçamento de R$ 679,9 milhões no ano passado, argumenta, a Administração destinou de seus recursos próprios 15% a mais para a saúde do que a legislação obriga. Para a educação o excedente foi de 20%. "Isso resulta em boa educação e saúde para todos", justifica Canteli.
Outros dados
Para este ano, o orçamento previsto para Vinhedo é de R$ 682,7 milhões. "Mas, diante dos resultados obtidos em 2022, devemos atingir R$ 740 ou R$ 750 milhões", projeta Canteli. Levando em conta o que foi aprovado pela Câmara Municipal, o valor médio de recursos por morador ficará entre R$ 8.326 e R$ 9.146. A população do município é composta por 82 mil habitantes. Esse valor é maior do que o médio dos campineiros - R$ 7.583 per capita, para um orçamento de R$ 9,1 bilhões.
O Mapa da Riqueza aponta também que, entre os 20 municípios da Região Metropolitana de Campinas, seis têm renda média inferior a R$ 1 mil por mês. O menor valor é em Santo Antonio de Posse, com R$ 874,43, ou seja, 32,84% inferior a um salário mínimo. Também aparecem na parte inferior do ranking da RMC as cidades de Cosmópolis (R$ 902,89), Hortolândia (R$ 916,10), Monte Mor (R$ 929,69), Morungaba (R$ 952,64) e Artur Nogueira (R$ 994,20).
Além de liderarem na Região Metropolitana, as cinco cidades que aparecem no topo ocupam lugar de destaque no cenário nacional, estando entre as 40 do país com maior renda. O Mapa da Riqueza elaborado pela FGV Social traz dados das 5.570 cidades brasileiras. A com maior renda média no país aparece Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com R$ 8.897. Depois surge Santana do Parnaíba/SP (R$ 5.791), São Caetano do Sul/SP (R$ 4.698), Florianópolis/SC (R$ 4.214,67) e Niterói/RJ (R$ 4.192).
"Esse exercício mostra que a desigualdade brasileira é maior do que o imaginado. É 7,6 vezes maior quando se leva em conta a renda dos mais ricos", explica o diretor da FGV Social e coordenador do estudo, o economista Marcelo Neri. Para ele, que é uma das principais referências no Brasil quando o assunto é desigualdade social, o levantamento permite a elaboração de políticas públicas que busquem reduzir as diferenças. "Isso permite melhores políticas de Imposto de Renda e imposto sobre o patrimônio", explica.
O Mapa da Riqueza mostra que, além de liderar em renda, Vinhedo também ocupa o primeiro lugar na Região Metropolitana de Campinas em patrimônio líquido médio, que no município é de R$ 176.618,47. Este valor é 28 vezes maior do que a média do Maranhão, estado brasileiro com a menor declaração de patrimônio por habitante - R$ 6,3 mil. Nesse quesito, Campinas supera Holambra e a ordem se inverte no ranking.
Em sequência descrente, na RMC aparecem Valinhos (R$149,7 mil), Campinas (R$ 114,3 mil), Holambra (R$ 107,7 mil) e Paulínia (R$ 82,1 mil).
Neri aponta que a pandemia de covid-19, identificada no país no início de 2020, fez oscilar para cima a desigualdade da renda no país. "Ao contrário do que se acreditava, a desigualdade de renda não caiu na pandemia no Brasil. O auxílio emergencial foi insuficiente. Na verdade, houve um pequeno aumento", diz. De acordo com o economista, os maiores perdedores foram os integrantes da classe média brasileira, que registraram entre 2019 e 2020 uma queda na renda de 4,2%, enquanto que para os mais ricos, que representam 1% da população, a redução foi de 1,5%.