Dados foram divulgados pelo IBGE em mais um recorte do Censo 2022; número é superior ao total de domicílios existentes em 14 das 20 cidades da região
A região também conta com 8.271 imóveis localizados em cortiços ou com a estrutura degradada ou inacabada, como o da família da dona de casa Rosalienne Lamothe, moradora de Campinas (Denny Cesare)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem 45.434 imóveis situados em vilas de casas ou condomínios horizontais, número superior ao total de todos os tipos de moradias existentes em 14 de suas 20 cidades. O número também se aproxima da soma de todos os tipos de domicílios localizados em Vinhedo, Holambra e Morungaba, de acordo com o 14º recorte do Censo 2022 que trata dos tipos de domicílios coletivos, improvisados, de uso ocasional e vagos, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número de imóveis em vilas ou condomínios é 5,49 vezes maior do que 8.271 situados em cortiços e com estrutura degradada ou inacabada em toda a RMC. O levantamento demográfico apontou ainda a existência de 618 imóveis sem banheiro na Região Metropolitana. Campinas é a cidade do maior número de moradias sem esse equipamento, 179, à frente de Sumaré (103) e Valinhos (95). De uma maneira geral, todas as cidades têm uma taxa de 75% ou mais dos imóveis atendidos com água tratada, mesmo que de uma forma adaptada.
O segurança Nelson Santos Ferreira, é morador da Vila Paula, em Campinas, e compartilha a água e energia elétrica com vizinhos. Uma mangueira de jardim enterrada na rua de terra, mas que fica visível em alguns pontos, revela a direção por onde a água segue. Na casa de 30 metros quadrados, de bloco aparente, reside Nelson e dois filhos. “Nós mesmos estamos construindo. Estamos esperando juntar um dinheiro para comprar areia e cimento para rebocar”, explicou o morador. O imóvel tem dois cômodos (cozinha e quarto) e banheiro, mas sem rede de esgoto. Os efluentes vão para a fossa asséptica.
EXPECTATIVA
No entanto, o morador tem a expectativa de ver a melhoria da infraestrutura do bairro em breve. “Já estão previstas a instalação dos postes da rede elétrica, ligação individual de água e da rede de esgoto”, explicou. Com os dados divulgados, “é possível identificar as áreas de maior vulnerabilidade, onde há necessidade de intervenção (do poder público) e propor políticas habitacionais adequadas”, disse a diretora de Geociências do IBGE, Ivone Batista, na apresentação do novo recorte do Censo 2022. “Uma visão geoespacial dessa informação facilita a compreensão”, acrescentou.
“Todo cuidado é necessário, porque as doenças relacionadas com a falta de água e esgoto são muitas. Esquistossomose, malária, hepatite e cólera são apenas algumas delas. Se existem sintomas como diarreia, dores abdominais, enjoos e cansaço, é bom ficar atento e procurar um médico o mais rápido possível”, advertiu o médico Pedro Luiz Tauil, especialista em saúde pública.
De acordo com o estudo divulgado nessa sexta, Monte Mor foi a cidade da RMC a ter o maior aumento no número de domicílios. Os 27.577 identificados em 2022 representaram uma elevação de 62,20% em comparação ao censo de 2010. Também tiveram crescimentos expressivos Paulínia (61,03%), Engenheiro Coelho (60,96%), Hortolândia (56,74%) e Holambra (55,37%).
Campinas foi a terceira entre as cidades com menor elevação. Com 501.951 domicílios no total, a alta foi de 29,28% em 12 anos. Os dados do IBGE mostraram a cidade com 281.885 casas, 132.204 apartamentos, 14.132 imóveis em vilas ou condomínio e 1.322 moradias em cortiços ou estruturas degradadas. Pedreira (24,97%) e Santa Bárbara d´Oeste (26,38%) são os outros municípios que tiveram o menor aumento no total de moradias.
MÉDIA POR CASA
O Censo apontou Holambra como a cidade com maior número de moradores por domicílio, 2,92 pessoas. Campinas foi a cidade com a menor proporção, 2,64 habitantes por imóvel. Essa é uma média muito diferente da realidade da vivida pela dona de casa Rosalienne Victor Lamothe. Ele mora com o marido e cinco filhos em um salão comercial alugado, na Vila San Martin, transformado em casa. Panos presos no teto e nas paredes são a única divisão existente no cômodo e delimitam o quarto do casal, onde cabe praticamente apenas a cama.
O que está fora desse espaço é simultaneamente sala, cozinha e onde ficam os dois beliches onde os filhos, com idade entre 3 e 16 anos, dormem. Há ainda um banheiro. O aluguel do salão é de R$ 650, valor que cabe no salário de operador de empilhadeira do marido. A família se mudou para o local há sete meses. “Antes, a gente morava em uma casa alugada, mas a proprietária pediu de volta para ela morar”, relatou Rosalienne.
O que sobra do salário é para cobrir todas as outras despesas da família. Ela ainda recebe auxílio do Bolsa Família e doação de uma cesta básica por mês. “É uma vida difícil”, resumiu a haitiana. Há 10 anos no Brasil, ela tem a esperança de ver pronta a casa própria em construção a poucas quadras de distância. Iniciada em janeiro passado, ela tem apenas as paredes erguidas e divisão interna, com sala, cozinha, dois quartos e banheiro. “Também vamos ter um espaço para montar uma pequena mercearia para vender arroz, feijão. Vou poder trabalhar para poder ajudar o meu marido”, contou Rosalienne.
Ela abandonou o emprego de empregada doméstica há dois anos depois de ter problemas de saúde que afetaram sua locomoção. “Agora já estou melhor”, afirmou. Futuramente, a família pensa em transformar a casa em construção em um sobrado com mais dois quartos para os meninos, com a filha caçula ficando com um quarto apenas para ele.
COLETIVO
O raio-X domiciliar do IBGE apontou ainda a existência de 1.227 domicílios coletivos na Região Metropolitana de Campinas. São asilos, hotéis, alojamentos, penitenciárias, abrigos, clínicas psiquiátricas, quartéis e ouras unidades compartilhadas. Quase metade deles está em Campinas (568). Em 2022, 837 mil pessoas residiam em domicílios coletivos no país, 0,4% da população total do Brasil. Segundo o IBGE, o tipo com maior número de moradores foi o que abrange penitenciária, centro de detenção e órgãos similares, que abrigavam 479 mil pessoas, o equivalente a 57,2% do total de moradores de domicílios coletivos e 0,2% do total da população brasileira.
“Para o Censo 2022, domicílios coletivos foram definidos como uma instituição ou estabelecimento onde a relação entre as pessoas que nele se encontravam, na data de referência, era regida por normas de subordinação administrativa”, explicou Bruno Perez, analista do IBGE. O segundo tipo mais frequente foi asilo ou outras instituições de longa permanência para idosos, com 161 mil pessoas, 19,2% do total de moradores de domicílios coletivos e 0,1% do total do país.
Os demais tipos foram hotel e pensão (46 mil pessoas), alojamento (30 mil), clínica psiquiátrica, comunidade terapêutica, abrigo, casas de passagem e república assistencial para grupos vulneráveis (ambos com 24 mil), orfanato e similar (14 mil), abrigo, albergue e casa de passagem para população em situação de rua (11 mil), unidade de internação de menores (8 mil), e quartel ou outra organização militar (1 mil). A categoria outro domicílio coletivo registrou 38 mil moradores.
O censo demográfico também mostrou que as regiões Sul e Sudeste concentravam 82,3% dos moradores em asilo. “Esse percentual pode ser explicado pelo fato de serem as duas regiões com as estruturas etárias mais envelhecidas do país”, explicou o pesquisador.