CAMPANHA ABRIL VERDE

RMC registra média de 45 acidentes de trabalho por dia

Campinas lidera ranking com 4,9 mil casos na região e 5ª posição no Estado em 2022

Luis Eduardo de Sousa/ luis.reis@rac.com.br
05/04/2023 às 08:56.
Atualizado em 05/04/2023 às 08:56

Levantamento realizado pela plataforma Smartlab, envolvendo cooperação entre órgãos que atuam na fiscalização e investigação de relações trabalhistas, aponta coleta de lixo entre as atividades com mais acidentes (Kamá Ribeiro)

As 20 cidades que compõem a Região Metropolitana de Campinas (RMC) somaram 16.575 acidentes de trabalho em 2022, uma média de 45,41 notificações por dia. Os dados são da plataforma Smartlab, de cooperação entre órgãos que atuam na fiscalização e investigação de relações trabalhistas, como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Campinas lidera o ranking na região com 4,9 mil registros, seguida por Americana (1,8 mil) e Indaiatuba (1,5 mil). A metrópole é a 5ª com mais acidentes no Estado e a 16ª no Brasil.

Entre os 26 estados brasileiros, São Paulo liderou com 35% das notificações, somando 204,1 mil acidentes. Em todo o País foram 612,9 mil.

Dados foram divulgados para promover a campanha ‘Abril Verde’, que chama a atenção para a cultura de prevenção de acidentes e doenças de trabalho.

Para figurar como líder no ranking de registros na RMC, Campinas somou, em média, 13,6 casos por dia. Os setores com mais trabalhadores acidentados são atividades de atendimento hospitalar (8%), atividades de apoio à educação (6%), limpeza de prédios e domicílios (5%), transporte rodoviário de carga (4%) e coleta de lixo (4%).

Já em relação aos tipos de lesões lideram corte e laceração (17%), fratura (16%) e lesão imediata (12%). Partes do corpo mais atingidas foram dedo (22%), pé (7%), mão (7%) e joelho (6%).

São as maiores vítimas de acidente técnicos de enfermagem (8%), faxineiro (6%), alimentador de linha de produção (4%) e coletor de lixo (3%).

Marjorie Montebeller é Engenheira em Segurança do Trabalho e líder da SG4 Gestão Ocupacional, empresa de Campinas que atua na área há 17 anos. Ela analisa os dados e faz um paralelo com a realidade do mercado. “No nosso leque de clientes, o maior número de atendimentos é na Construção Civil. Porque é um setor muito subnotificado. Muitas vezes acontece acidente e os trabalhadores nem são socorridos em unidade hospitalar, passam apenas por atendimento preliminar de enfermaria e são dirigidos para casa”, aponta.

A análise dos dados mostra ainda que os jovens são os trabalhadores que mais se acidentam. Lidera o ranking a faixa etária entre 25 e 29 anos, com 480 registros (9,75%). Na sequência estão jovens, dos 18 a 24 anos, com 449 casos (9,12%). A engenheira observa que a falta de orientação contribui para o aumento de acidentes. Trabalhadores mais jovens – e, portanto, menos experientes – viram alvos, caso as empresas não ofereçam formação de segurança. “O que a gente percebe no trabalho de campo é que muitos acidentes poderiam ter sido evitados com poucas e simples medidas. As vezes a empresa acha que não vai dar nada, que não vai acontecer e é aí que acontece”, conta. No fim do mês passado, Ozael Azevedo dos Santos Júnior, de 35 anos, morreu em Sumaré após um caminhão de transporte de combustíveis explodir enquanto ele realizava uma solda na carreta. Com o impacto, o rapaz teve a cabeça decepada e o membro foi arremessado a pelo menos 100 metros. “Eu não sei do caso em específico, precisaria de uma análise”, diz Marjorie sobre o acidente, “mas um medidor da quantidade de gás, algo que pudesse quantificar o resíduo que estava ali poderia ter salvado a vida desse rapaz”, completa.

O procurador do MPT e professor da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), Silvio Beltramelli, diz que o número é alto e chama atenção para a subnotificação. “O número de 4,9 mil casos em um ano é muito alto e preocupante, mas o que é ainda mais preocupante é que há uma subnotificação muito grande, o que o MPT tenta combater. Em um recorte de dois ou três anos, temos a manutenção de um número elevado de notificações”, explica.

“A nossa legislação no Brasil é muito acima de muitos países. O que contribui tanto para a subnotificação, quanto para o próprio índice elevado de casos. É uma cultura de pouca preocupação com a questão. As leis para comercialização de máquinas e equipamentos, por exemplo, são muito mais avançadas no Brasil que na América do Norte. Mas a questão cultural faz com que, mesmo com a atuação forte da lei, muitas vezes o pessoal altere a máquina, tire equipamentos de proteção e trabalhe normalmente, pela conveniência. A grande questão é a conveniência”, diz Joubert Rodrigues dos Santos Junior, coordenador do curso de especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da PUC Campinas.

Final trágico

A questão mais grave ocorre quando os casos evoluem para morte dos profissionais. Na metrópole, foram 13 óbitos por acidente de trabalho em 2022, sete a menos que no ano anterior. Na série histórica, que compila os números dos últimos 20 anos – desde 2002 -, foram 388 óbitos, uma média de 19 por ano.

Para Silvio Beltramelli, o acidente – que incute na morte - é um caso extremo e a prova de que o cenário organizacional já está incorreto. “A lei é clara e estabelece as obrigações para a empresa que oferece risco: tem que diagnosticar esse risco e buscar formas de evitá-lo. Quando o acidente acontece é porque a empresa já falhou nesse campo”, comenta. O procurador cita ainda os órgãos que realizam fiscalizações, sem deixar de pontuar que os mesmos atuam com “sobrecarga”. “O MPT investiga os casos que são expostos por toda uma rede que atua na identificação de acidentes e irregularidades. Tem os técnicos do Ministério do Trabalho, tem as vigilâncias sanitárias dos municípios, o próprio Sistema Único de Saúde (SUS). O que acontece é que esses órgãos trabalham com uma demanda muito grande, que muitas vezes não é atendida” conclui.

Além de Campinas, figuram na lista de registros de acidente Americana (1.894), Indaiatuba (1.537), Santa Bárbara d’Oeste (1.279), Sumaré (1.032), Itatiba (803), Hortolândia (723), Nova Odessa (719), Valinhos (707), Vinhedo (656), Paulínia (652), Jaguariúna (349), Pedreira (319), Monte Mor (268), Cosmópolis (158), Artur Nogueira (153), Santo Antônio de Posse (126), Holambra (113), Morungaba (109) e Engenheiro Coelho (59).

Abril Verde

Durante todo o mês de abril será celebrada a campanha "Abril Verde", com participação do MPT e de dezenas de entidades e órgãos de atuação nacional, com a finalidade de chamar a atenção da sociedade para a adoção de uma cultura permanente de prevenção de acidentes e doenças no trabalho. No dia 28 de abril comemora-se o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho, em homenagem às vítimas de acidentes de trabalho. Durante todo o mês, o órgão disponibilizará conteúdo temático da campanha em suas redes sociais.

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