O saldo foi de 2.649 vagas geradas no período; indústria foi o setor que mais contribuiu
Laboratório de indústria de insumos biológicos com sede mundial em Vinhedo: recém-inaugurada, unidade gerou 70 novos postos de trabalho (Divulgação)
Após registrar em dezembro queda na oferta de empregos, que encerrou um ciclo de 11 meses seguidos de saldo positivo, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) se recuperou e voltou a ter alta na geração de vagas em janeiro. Puxada pelo setor industrial, essa retomada foi responsável pela criação de 2.649 postos no mês, de acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). As indústrias foram responsáveis pela geração de 2.061 colocações, ou seja, 77,87% do saldo total.
Os setores de construção civil, com 1.171 vagas no geral , também teve saldo positivo. O resultado final foi prejudicado pelo desempenho do setor terciário (serviços e comércio), com o fechamento de 1.267 postos por conta principalmente da sazonalidade. Janeiro é um mês de demissões no comércio por conta do fim das vendas de final de ano, quando ocorre a contratação de um grande número de funcionários temporários.
Para a economista e professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), Eliane Navarro Rosandiski, que realiza estudos nessa área, o desempenho do setor industrial "mostra que há intenção de colocar a máquina para funcionar, o que impacta positivamente a retomada do crescimento econômico". Ela explicou que as contratações nesse segmento, que geraram vagas com salário médio de R$ 2,6 mil, tendem a ter reflexos em toda a economia, como aumento de consumo.
Porém, a pesquisadora do Observatório PUC-Campinas salienta que é necessário aguardar os resultados de fevereiro ou até março para ter um quadro mais definido do que poderá ocorrer ao longo do ano. Isso permitirá entender, por exemplo, se os resultados de janeiro foram uma tendência ou algo atípico.
Desempenho
Apesar do resultado positivo na geração de empregos no primeiro mês do ano, o saldo teve uma queda de 32,1% em comparação a janeiro de 2022, quando foram criados 3.901 postos de trabalho. Eliane explicou que no ano passado a economia ainda estava em um processo de retomada após a forte crise gerada pela pandemia de covid-19. "Agora, com a situação da pandemia praticamente resolvida, estamos voltando ao patamar normal de contratações", afirma a economista. "Mesmo com o saldo positivo, não estamos tão bem quanto gostaríamos", completou.
Entre as empresas que contrataram está uma indústria de insumos biológicos, que está entre as três maiores do setor no país, que acaba de inaugurar sua nova sede mundial em Vinhedo, o que gerou 70 novas vagas. A transferência da unidade de Curitiba (PR) para o município da RMC faz parte de um processo de reestruturação da empresa, que recebeu um investimento de R$ 110 milhões. O valor inclui a instalação de uma nova fábrica entre Jaguariúna e Santo Antonio de Posse, prevista para ser inaugurada em agosto próximo, e a ampliação da planta na capital paranaense.
A nova unidade na RMC será destinada à produção de bioinsumos à base de fungos e bactérias. Ela terá capacidade para produzir 9,5 milhões de litros/ano, com o total da empresa no Brasil chegando a 30 milhões de litros anuais. A indústria tem ainda entre Jaguariúna e Santo Antonio de Posse um centro avançado de pesquisas em tecnologia, inaugurado em 2021.
"A ideia é que possamos desenvolver e produzir todos os produtos à base de micro-organismos do nosso portfólio, já pensando também nos novos produtos que virão, pois continuamos investindo massivamente em inovação", afirma o diretor de Operações da companhia, o engenheiro químico Eduardo Pesarini. Os investimentos estão sendo feito de olho no crescimento do mercado.
Segundo a consultora IHS Markit, o mercado global de biodefensivos no ano passado ficou em torno de R$ 7 bilhões, devendo chegar a R$ 11,1 bilhões em 2025. Ou seja, acumulará um crescimento de 58,57% ao longo de três anos. Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima que, até 2025, o Brasil se tornará o segundo maior consumidor de bioinsumos do mundo, com o aumento dos atuais 3% para 15% na participação do mercado nacional de proteção de plantas.
Cidades
A RMC teve uma participação de 14,19% nas 18.663 vagas abertas em janeiro em todo o Estado de São Paulo. Entre os 20 municípios que compõem a Região Metropolitana, Campinas foi a que registrou a maior criação de vagas, com 1.380 postos. O número é resultado do confronto entre 18.687 admissões e 17.307 desligamentos. Ou seja, as empresas instaladas na cidade foram responsáveis por uma em cada 14 contratações feitas em todo o Estado.
Indaiatuba apareceu na vice-liderança na geração de postos de trabalho, com 393 no total. O top five traz ainda Paulínia (392 vagas), Hortolândia (282), Sumaré (231) e Itatiba (228),
Na RMC, oito municípios tiveram saldo negativo em janeiro, ou seja, o número de demissões foi maior do que o de contratações. Jaguariúna registrou o maior fechamento de postos de trabalho, 221 no total, com Holambra aparecendo em segundo lugar (-214). Americana ficou na terceira colocação nesse ranking (-103), seguido por Nova Odessa (-51), Artur Nogueira (-34), Monte Mor (-29), Engenheiro Coelho (-23) e Cosmópolis (-15).
De acordo com a pesquisadora do Observatório PUC-Campinas, 47% das admissões feitas em janeiro foram de trabalhadores com ensino médio com idade entre 18 e 24 anos. O salário médio para esses novos contratados foi de R$ 1,7 mil. A economista ressalta que esse valor está abaixo do salário médio geral na Região Metropolitana, que é de R$ 2,2 mil. Ela aponta que esse dado reforça a análise de que os empregos gerados são de qualidade inferior, não revertendo em aumento de consumo suficiente para alimentar a cadeia econômica e promover em um crescimento sustentável.
Para Eliane, esse indicador vai ao encontro do grande número de demissões no comércio em janeiro, com o fechamento de 1,2 mil vagas. As demissões podem ser interpretadas como o setor enxergando que o desempenho não será bom no curto prazo, não justificando, portanto, a efetivação dos temporários contratados no final de 2022.
A economista explica que o comportamento do comércio precisará ser acompanhando nos próximos meses, até para identificar se não está havendo uma mudança no comportamento do consumidor, que estaria acelerando o processo de troca das lojas físicas pelas compras virtuais. De acordo com a professora da PUC-Campinas, o país ainda enfrenta um momento difícil, no qual são necessárias medidas para garantir o crescimento econômico sustentável.
Ela citou o caso da taxa básica de juros, que foi mantida pelo Banco Central em 13,75% ao mês em fevereiro. Para a economista, esse é um fator que inibe a criação de novos postos de trabalho. "Essa taxa é muito alta. O empresário não tem como buscar um financiamento que permita investir em seu negócio, o que geraria novos empregos", afirmou.
Porém, Eliane apontou que o governo federal tem adotado medidas que podem contribuir para melhorar o quadro econômico. Entre elas: controle da inflação, recuperação do poder aquisitivo do salário mínimo e programas de transferência de renda. Essas ações, disse, podem aumentar o consumo e aquecer a economia.