Acidente em Rio Preto faz conselho voltar a pressionar por ações preventivas nas ferrovias
O acidente ferroviário em São José do Rio Preto no final da tarde de domingo, que deixou oito mortos e oito feridos, trouxe de volta a discussão sobre a falta de segurança nos trilhos que cruzam a Região Metropolitana de Campinas (RMC). O presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC, Milton Serafim (PTB), afirmou que o assunto voltará à pauta na reunião do conselho hoje em Santa Bárbara d’Oeste. “Vamos cobrar novamente da ALL (América Latina Logística) e do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) melhorias na segurança da rede ferroviária que passa pela região”, afirmou Serafim.Segundo ele, antes de ampliar a rede na região, é imprescindível reforçar a segurança no trecho urbano. Entre as medidas apontadas estão a construção de cercas em trechos com grande concentração de pessoas, intensificação da manutenção nos trilhos e dormentes e a construção de viadutos para substituir as passagens de nível.Alguns especialistas, no entanto, defendem a retirada dos trilhos das áreas urbanas, desviando o atual trajeto das ferrovias — como vai ser feito com a ampliação do aeroporto de Viracopos. O presidente do conselho afirmou que Hortolândia já manifestou interesse na viabilização do contorno ferroviário para evitar mais acidentes. Segundo o prefeito, a solução não é simples, mas o conselho pretende apoiar as iniciativas e sugestões das cidades.Muitos municípios do Interior se mobilizaram para retirar os trilhos da área urbana. Uma ação do Ministério Público Federal (MPF) na região de Araraquara, por exemplo, pediu a alteração do traçado da ferrovia para evitar acidentes. As regiões de Bauru e de Rio Preto — onde ocorreu a tragédia — também se mobilizam na mesma direção. Segundo o deputado Orlando Bolçone (PSB), Rio Preto fez um Estudo de Viabilidade Técnico-Ambiental (EVTA) de um contorno ferroviário que tirará os trens do centro urbano. O projeto foi aprovado pelo Dnit em 2009, que abriu a licitação para a elaboração de projeto-executivo, orçado em R$ 2 milhões. Conforme o parlamentar, a obra, estimada em R$ 200 milhões, passaria por quatro cidades e construiria 23 km de novos trilhos.O deputado acredita que a medida poderá ser solicitada por outras cidades do Interior que sejam cortadas por ferrovias. Ele defende a manutenção e expansão da linha férrea, que apresenta muitas vantagens econômicas e ambientais, mas ressalta a importância de garantir a segurança da população no processo.A ALL afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que todo projeto que altere o traçado da ferrovia deve ser feito e discutido com o Dnit. A reportagem procurou o Dnit para saber se há previsão para a construção de contornos ferroviários na região, mas a assessoria de imprensa não respondeu à solicitação até o fechamento desta edição.O professor da Unicamp e especialista em trânsito Creso de Franco Peixoto diz que a manutenção nos trilhos e dormentes é fundamental para evitar descarrilamentos e outros acidentes. Segundo ele, a construção de guarda-corpos de concreto, aliada à colocação de contratrilhos nas ferrovias poderiam evitar tragédias. “Outra medida que deve ser adotada para evitar os atropelamentos é o fechamento das passagens de nível e a colocação de câmeras de monitoramento”, afirma. PerigoEm Americana, a má conservação dos dormentes e da linha férrea, somada à proximidade das casas junto à linha ampliam a sensação de insegurança. A dona de casa Solange Barão mora há 15 anos em uma residência localizada a menos de dois metros da linha férrea. “Agora já me acostumei ao barulho e não tenho medo de morar aqui. A situação era pior quando os meus filhos eram pequenos.”A Prefeitura de Americana afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que o imóvel em questão pertence à extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e que a Secretaria de Habitação iniciou um processo para a regularização dessas casas. A pasta irá discutir com técnicos e a Defesa Civil a necessidade de desocupação.