OBSERVATÓRIO PUC-CAMPINAS

RMC ganhou 22,8 mil vagas de emprego no 1° semestre

Saldo do último mês foi negativo, mas número acumulado é positivo

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
29/07/2023 às 10:54.
Atualizado em 29/07/2023 às 10:54
O único setor da RMC que registrou crescimento na oferta de vagas no mês foi o de serviços, com a criação de 1.450 postos; “mas não foi suficiente para cobrir o fechamento dos outros”, afirmou a responsável pelo estudo (Alessandro Torres)

O único setor da RMC que registrou crescimento na oferta de vagas no mês foi o de serviços, com a criação de 1.450 postos; “mas não foi suficiente para cobrir o fechamento dos outros”, afirmou a responsável pelo estudo (Alessandro Torres)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) fechou o primeiro semestre do ano com a criação de um novo posto de trabalho a cada 12 minutos. De janeiro a junho deste ano, o saldo acumulado é de 22.880 vagas de empregos criadas, de acordo com estudo divulgado pelo Observatório PUC-Campinas, que utilizou os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. 

O número é o resultado das 290.810 contratações e 267.930 demissões ocorridas nos primeiros seis meses do ano. Com isso, a RMC chegou a junho com o estoque de 1.039.846 empregos com carteira registrada, alta de 3,63% em comparação aos 1.003.413 do mesmo mês de 2022. A alta de 36.433 postos no estoque é como se a soma de toda a população de duas cidades da RMC, Holambra e Engenheiro Coelho, tivesse conseguido emprego.

Apesar do resultado positivo, o desempenho de junho acendeu o alerta que a economia da RMC não está tendo fôlego para manter a alta no mercado de trabalho, alerta a economista Eliane Navarro Rosandiski, responsável pelo estudo do Observatório PUC-Campinas. No mês passado, a Região Metropolitana registrou o fechamento de 788 postos de trabalho, em função da 45.695 demissões e 44.907 contratações, indo da contramão do saldo positivo verificado no Estado de São Paulo e no país. 

O resultado interrompeu a sequência de cinco meses de saldo positivo na criação de emprego na RMC. “O resultado foi péssimo em junho porque tivemos uma queda”, afirma Eliane Rosandiski, que também é professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. A Região Metropolitana teve uma queda de 30,44% na geração de empregos em comparação com as 32.895 vagas abertas entre janeiro e junho de 2022.

NOVA ODESSA

O único setor da RMC que registrou crescimento na oferta de vagas no mês foi o de serviços, com a criação de 1.450 postos, “mas não foi suficiente para cobrir o fechamento dos outros”, disse a economista. O industrial teve o fechamento de 363 vagas; comércio, outras 67; a construção civil, -54; e o de agropecuária, -1.754.

O setor de serviços foi justamente o responsável pelo aumento nas contratações em Nova Odessa. De quatro novas empresas que se instalaram no município no primeiro semestre, que geraram em torno de 780 empregos, três são de prestação de serviço. Foram duas de logística e uma central de preparação para venda de veículos. A exceção foi um frigorífico. 

“São ao menos 12 grandes novas empresas atraídas para a cidade desde 2021”, comemora o prefeito de Nova Odessa, Cláudio Schooder, o Leitinho (PSD). Ele atribui os novos investimento à Lei de Incentivo do Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Econômico de Nova Odessa (ProdeNO) modernizada há três anos. As mudanças incluem a concessão de incentivos fiscais por dez anos, período que pode ser prorrogado, para as empresas que instalem ou façam a expansão de suas atividades na cidade, incluindo os impostos Predial e Territorial Urbano (IPTU), Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), além de taxas municipais.

O maior número de contratações foi gerado pela instalação de um centro de logística de uma empresa de distribuição de medicamentos e itens de higiene pessoal. O investimento em um prédio de aproximadamente 34 mil metros quadrados e capacidade inicial para armazenar até 8 milhões de produtos, a segunda maior unidade do grupo no país, criou 500 vagas, número que aumentará. 

A companhia está com processo de seleção em andamento e prevê a abertura de outros nos próximos meses, fechando o ano com a criação de 650 empregos diretos e indiretos. “Escolhemos Nova Odessa pela excelente malha viária, que consegue atender todo o interior e até São Paulo, se necessário. Daqui fazemos a distribuição para outras localidades. A cidade tem uma localização estratégica”, explica o diretor de Logística da empresa, Marcelo Rocha. Já a abertura de central de preparação de veículos gerou outros 180 postos de trabalho. 

FATORES

Para a economista Eliane Rosandiski, o desempenho do mercado de trabalho na Região Metropolitana no primeiro semestre foi marcado pela alta taxa de juros no país, que inibe novos investimentos, e fatores sazonais. Foi assim em fevereiro, o melhor mês do ano, com criação de 8.422 postos de trabalho, influenciado principalmente pelas contratações na área de educação em função do início do ano letivo.

Os segmentos de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais foram responsáveis pela abertura de 3.064 vagas, o equivalente a 38,36% do total. Ou seja, praticamente duas em cada cinco vagas criadas foram nessas áreas.

Em relação ao mês de junho, o saldo negativo no mercado de trabalho foi puxado principalmente pelo fechamento de 1.654 postos de trabalho em Holambra. O número é quase 4 vezes superior as 431 vagas suprimidas em igual mês de 2022 no município. Este ano, foi o segundo mês seguido que a cidade teve o pior desempenho na RMC. Em maio, Holambra já havia registro o fechamento de 995 vagas.

De acordo com a pesquisadora e professora da PUC-Campinas, o desempenho no município acontece em função das demissões ocorridas no setor agrícola. Em dois meses, a cidade teve o encerramento de 2.649 vagas, número equivalente a 17,52% de total a população, que é de 15.119 habitantes, de acordo com o Censo 2022. 

Entre as 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas, outras cinco também tiveram o total de demissões maior do que o de contratações no mês passado: Americana (-145), Cosmópolis (-44), Pedreira (-155), Santo Antônio de Posse (-34) e Vinhedo (-273). Campinas registrou o saldo de 358 vagas criadas em junho, mas o número é 81,72% menor do que os 1.958 empregos criadas em igual mês de 2022.

Para Eliane Rosandiski, o resultado do mercado de trabalho mostra que “as empresas não enxergam uma retomada da economia e a dificuldade de um crescimento sustentado”. A economista explica que o perfil do trabalhador contratado na RMC mostra esse quadro. Apenas as faixas até 17 anos, com 447 novos postos, e de 18 a 24 anos, com 823, tiveram saldo positivo na criação de vagas. As demissões superaram as admissões em todas as outras.

Além disso, o estudo do Observatório PUC-Campinas revela que os trabalhadores contratados em junho receberão um salário menor. O valor médio no mês passado foi de R$ 1.781,89, 17.58% a menos do que os R$ 2.192 pagos em junho de 2022.

Na comparação por nível de escolaridade, apenas os novos contratados com ensino fundamental incompleto receberão mais do que os que foram demitidos com o mesmo nível de ensino, R$ 1.852 contra R$ 1.794. A maior queda no valor pago foi para quem tem ensino superior completo, 5,54%. Nesse caso, a remuneração média foi de R$ 4.846, enquanto que os trabalhadores que foram dispensados recebiam R$ 5.130. 

“Essa queda nos salários não permite um aumento de consumo que resulte num ciclo virtuoso de retomada do crescimento econômico”, afirma a professora da PUC-Campinas. Ela acrescenta que a geração de vagas se concentrou em junho na faixa etária de 18 a 24 anos, com salário médio de R$ 1.834, valor 19,98% inferior a média regional, que é de R$ 2.291,67. “Com esse valor, o salário vai praticamente para cobrir as despesas com alimentos. Não sobra para o consumo”, diz a pesquisadora.

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