DADOS DA SERASA

RMC ganha 28 mil novos inadimplentes em um mês

Aumento contabilizado de dezembro para janeiro na região de Campinas foi de 2,46%, acima da média nacional de 1,48%

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.monteiro@rac.com.br
13/03/2025 às 11:03.
Atualizado em 13/03/2025 às 12:36

Todas as 20 cidades da RMC tiveram aumento na inadimplência no primeiro mês do ano; economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Felipe Tavares, projeta que o endividamento deve continuar aumentando em 2025 (Alessandro Torres)

Após as vendas do final de ano, o número de inadimplentes na Região Metropolitana de Campinas (RMC) teve alta de 2,46% em janeiro, com o total chegando a 1,16 milhão de pessoas, contra 1,13 milhão de dezembro. Em um mês, 28.042 novos cadastros foram incluídos nos registros da Serasa, média de 38 a cada hora. De acordo com a pesquisa mensal divulgada pela empresa de análise de crédito, o setor de bancos e cartões de crédito puxou o crescimento. Esse segmento é o principal entre as dívidas atrasadas nos cadastros da empresa de análise de crédito, com a participação no montante saindo de 27,43% em dezembro para 28,9% em janeiro.

Os débitos com as financeiras também oscilaram para cima, 0,11 ponto percentual, com a participação passando de 17,99% para 18,10%. Por outro lado, os devedores usaram o 13º salário para saldar as contas atrasadas de água, luz e gás, as chamadas utilities. A participação delas caiu de 22,06% para 21,03% no total das dívidas, de acordo com a Serasa. Os serviços também apresentaram uma leve variação negativa, caindo de 11,03% para 10,95%.

O crescimento no número de devedores na RMC ficou acima da média nacional, que foi de 1,48%. O total de inadimplentes no país ficou em 74,6 milhões de consumidores no primeiro mês do ano, contra 73,51 milhões de dezembro. Em comparação a janeiro de 2024, quando eram 1,11 milhão de devedores, o total de inadimplentes na Grande Campinas teve aumento de 4,93%. Em um ano, 54.779 novos nomes foram incluídos nos cadastros da empresa. O crescimento no período entre janeiro de 2024 e de 2025 superou o índice nacional de 3,58%, com o número os devedores no país passando de 72,02 milhões para 74,6 milhões.

TENDÊNCIA

“As nossas projeções mostram que o endividamento deve continuar aumentando ao longo deste ano, com as famílias sentindo mais confiança em utilizar o crédito para o consumo”, afirmou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Felipe Tavares.

“Sempre tenho dificuldade para pagar as contas”, contou o aposentado Lorival Mariano. Ele revelou que prioriza o pagamento das coisas que afetam diretamente o dia a dia. A fatura do gás encanado levou ontem o pouco que havia no saldo da conta corrente. “Quase não deu para pagar”, explicou, com o boleto ainda mão. Apesar de admitir atrasos no pagamento, o aposentado disse tentar evitar essa situação. Quando ocorre, ele procura quitar o débito mais rápido possível. “Pagando as contas já está difícil. Se deixar acumular, aí que fica feio de vez”, justificou Lorival Mariano.

O valor total da dívida na Região Metropolitana teve elevação de 5,23% em janeiro, quando chegou a R$ 7,85 bilhões. Em dezembro, eram R$ 7,46 bilhões. Na comparação com os R$ 7,02 bilhões de janeiro de 2024, o crescimento foi de 11,82%. Todas as 20 cidades da RMC tiveram aumento na inadimplência no primeiro mês do ano. Em Campinas, a elevação foi de 1,8%, com o total de 461.207 devedores, contra 453.038 de dezembro. O valor das dívidas acumuladas cresceu 3,96%, passando de R$ 3,03 bilhões para R$ 3,15 bilhões. A média na cidade é de 4,46 contas em atraso por devedor, de acordo com a empresa de análise de crédito. O valor do tíquete médio do débito por inadimplente é de R$ 6.836,45, o equivalente a 4,5 salários mínimos, que neste ano é de R$ 1.518.

ESSENCIAL

Vinhedo segue tendo o maior valor médio de dívida por devedor, R$ 7.676,87. Em segundo lugar aparece Americana, com R$ 7.434,91. Indaiatuba está na terceira posição, R$ 7,128,28. O crescimento da inadimplência e a alta dos juros e da inflação refletiu na desaceleração do comércio. O setor apresentou uma leve alta de 0,3% em janeiro na comparação a dezembro. Em outubro, a alta foi de 1,9%, caindo depois para 0,7% no mês seguinte, 0,8% em dezembro e fechando com a pequena oscilação positiva no primeiro mês do ano.

“Houve uma desaceleração no ritmo de crescimento nos últimos três meses, refletindo as dificuldades impostas pela inflação mais alta e que começa a impactar o poder de compra da população”, disse a economista Camila Abdelmalack, da Serasa Experian. “A política de elevação de juros, em resposta ao cenário inflacionário, deve provocar um arrefecimento mais evidente das atividades de varejo sensíveis ao crédito ao longo de 2025”, avaliou.

O autônomo Luiz Fábio de Almeida sentiu o impacto do cenário econômico. “A gente vive no aperto. Mal dá para pagar as contas”, lamentou enquanto trabalhava como divulgador de uma loja no Centro de Campinas. Ele cortou todas as despesas extras, buscando manter em dias as contas essenciais. “Ainda não atrasei nenhuma conta, mas está difícil”, argumentou.

PERFIL

Segundo o levantamento da empresa de análise de crédito, as vendas do comércio foram puxadas pelo setor de tecidos, vestuário, calçados e acessórios, com alta de 1,6% em janeiro. Em seguida, ficaram os segmentos móveis, eletrodomésticos, eletrônicos e informática, junto com o de material de construção, com elevação de 0,7%. Os hipermercados, alimentos e bebidas tiveram aumento de 0,1%. Por outro lado, o que apresentou a maior queda foi o segmento de veículos, motos e peças (-3,6%). O segmento de combustíveis e lubrificantes também deve desempenho negativo, -2,4%.

De acordo com a Serasa, as mulheres estão ligeiramente na frente entre os inadimplentes, com participação de 50,3% do total. Os homens representaram 49,7% dos devedores. A faixa etária de 41 a 60 anos tem 35,1% dos inadimplentes e é a com maior participação. Depois aparecem os consumidores de 26 a 40 anos (34%), acima de 60 anos (19,2%) e até 25 anos (11,8%). Essa situação ocorre em um momento de aumento da participação feminina para o sustento da família.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Opinion Box para a Serasa mostrou que 93% das mulheres contribuem financeiramente para pagar as contas da casa. Em 33% das famílias, elas são as únicas responsáveis pela geração de renda. Em 2023, o índice de mulheres que participavam das finanças das casas era de 88%. O desafio é maior para as mulheres das classes D e E, que são as únicas responsáveis financeiras em 43% dos lares. Há uma grande diferença social ao comparar com as classes A e B, quando a responsabilidade feminina pelo sustento familiar cai para 18%.

O destaque delas se reforça em relação ao planejamento econômico: 64% das entrevistadas pelo Instituto Opinion Box afirmam liderar a organização financeira da família. O levantamento feito para o mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, ouviu 1.383 mulheres de todo o país, inclusive da Região Metropolitana de Campinas, entre 14 e 24 de fevereiro passado. A margem de erro é de 1,6 ponto percentual. “Felizmente percebemos o crescimento do papel das mulheres na gestão financeira dos lares, tomando esse papel de garantia de um orçamento familiar sob controle”, analisou a gerente da empresa de análise de crédito, Patrícia Camillo. “Acostumadas a gerenciar a rotina e até situações de escassez, elas conseguem equilibrar as reais necessidades à renda disponível e se mostram mais preocupadas em evitar o endividamento familiar”, argumentou a especialista em educação financeira.

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