DEPENDÊNCIA

RMC enfrenta déficit comercial há 20 anos

Nesse período, as importações triplicaram em relação às exportações

Renato Piovesan
25/06/2018 às 09:30.
Atualizado em 28/04/2022 às 13:49
Em 2007, São Paulo apresentou superávit, com US$ 3,31 bi de exportações a mais que importações, fruto do crescimento do agronegócio  (Cedoc/RAC)

Em 2007, São Paulo apresentou superávit, com US$ 3,31 bi de exportações a mais que importações, fruto do crescimento do agronegócio (Cedoc/RAC)

Em duas décadas, as importações triplicaram em relação às exportações na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Estudo inédito elaborado pelo Observatório PUC-Campinas mostra que, ao contrário do Estado, a RMC só aumentou o déficit de sua balança comercial entre 1997 e 2017, expondo, de um lado, sua forte vocação industrial, que demanda a aquisição de insumos e equipamentos, mas, por outro lado, sua total dependência do mercado estrangeiro para conseguir produzir. Em números exatos, divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), e sem contar as mudanças nas taxas de inflação e cotação de moedas, a pesquisa feita por professores observando dados das 20 cidades da RMC mostra que, ao longo dos últimos 20 anos, as exportações saltaram de US$ 1,52 bilhão para US$ 4,04 bilhões, enquanto as importações cresceram de US$ 3,46 bilhões para US$ 11,68 bilhões em 2017. Responsável pelo estudo, o professor do Centro de Economia e Administração, Paulo Ricardo da Silva Oliveira, diz que são números alarmantes. “É de se preocupar. Em outra ótica da pesquisa, a gente vê que as exportações cresceram 5,26% ao ano, mas partindo de números já baixos, enquanto as importações aumentaram um pouco mais, de 6,6% ao ano, e mostrando bem claramente a característica estrutural da RMC, que convive há 20 anos com déficit consecutivo na balança comercial”, explica o especialista em comércio internacional. “Esse padrão é gerado a partir do momento em que as fábricas se instalam aqui e passam a importar muito, mas compram seus insumos e máquinas lá fora, seja pelo preço mais barato, ou principalmente pela falta de produção nacional desses insumos e equipamentos. Estamos falando de um problema do Brasil como um todo, que tem a sua indústria bastante dependente do fator externo", complementa Oliveira. Enquanto a RMC só elevou o déficit de sua balança comercial ao longo de 20 anos, com as importações superando as exportações, o Estado de São Paulo seguiu direção contrária. Em 1997, por exemplo, o Estado tinha déficit de US$ 10,4 bilhões na balança, sendo 18% deste valor protagonizado somente por Campinas e suas vizinhas. Dez anos depois, em 2007, São Paulo já apresentou superávit, com US$ 3,31 bilhões de exportações a mais que importações, fruto do crescimento do agronegócio no Estado, fora das regiões metropolitanas. Neste ano, no entanto, a RMC seguiu "no vermelho" , com déficit quase igual ao superávit do Estado, de US$ 3,17 bilhões, o que correspondeu a -95,66% da participação na balança comercial paulista. Já em 2017 a discrepância bateu recorde. Enquanto São Paulo teve déficit de US$ 4,63 bilhões, a RMC apresentou quase o dobro do déficit: US$ 7,64 bilhões (164% da participação da balança comercial estadual). “Uma economia que se constitui desta maneira, se constitui com fragilidades, sem elos competitivos com empresas nacionais. O Brasil poderia ter mais empresas e mais renda se conseguisse produzir aqui o que as nossas indústrias precisam comprar” , avalia o professor da PUC-Campinas.

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