INADIMPLÊNCIA

RMC atinge valor recorde de dívidas acumuladas: R$ 7 bilhões

Em apenas um ano, montante cresceu mais de R$ 1 bilhão, ou 17,78%; inflação no período foi de apenas 4,51%

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@monteiro
09/03/2024 às 10:43.
Atualizado em 09/03/2024 às 10:43
Especialistas atribuem aumento das dívidas a compromissos financeiros que se avolumam no início do ano, como compra de materiais escolares e o vencimento de impostos, como IPTU e IPVA (Alessandro Torres)

Especialistas atribuem aumento das dívidas a compromissos financeiros que se avolumam no início do ano, como compra de materiais escolares e o vencimento de impostos, como IPTU e IPVA (Alessandro Torres)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) bateu, em janeiro, recorde de dívidas acumuladas ao atingir a cifra de R$ 7,02 bilhões, de acordo com balançado divulgado pela Serasa. O valor representa um crescimento de 17,78% em comparação aos R$ 5,96 bilhões de janeiro de 2023, enquanto a inflação acumulada no mesmo período foi de 4,51%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As dívidas em atraso nos últimos 12 meses tiveram aumento de R$ 1,06 bilhão, valor equivalente a todo o orçamento da Prefeitura de Valinhos previsto para 2024.

Os dados da empresa de análise de crédito apontam que, em média, a inadimplência aumentou R$ 2,9 milhões por dia entre janeiro de 2023 e igual mês deste ano. O crescimento das dívidas acumuladas, que passou da casa dos R$ 7 bilhões pela primeira vez, veio acompanhado do aumento no número de inadimplentes em janeiro, encerrando um período de três meses de queda. A RMC começou o ano com 1,11 milhão de pessoas na Serasa, alta de 1,07% em relação a dezembro, quando eram 1,09 milhão inscritos. O crescimento foi de 3,28% na comparação com o 1,07 milhão de inadimplentes de janeiro de 2023.

Para o economista Edgard Leonardo, a elevação do montante dos débitos está relacionada a alguns motivos, como o aumento dos gastos com as festas de final de ano. Além disso, as despesas no início de cada novo período devido ao vencimento de impostos, como o sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e Predial e Territorial Urbano (IPTU), e compra de materiais escolares foram citadas. Ele considera que a falta de educação financeira da população, de uma forma geral, contribui para as pessoas não terem a prática de fazer uma reserva para cobrir esses custos extras.

RENDA

O economista avaliou que, apesar do aumento no número de contratações que ocorreu em 2023, os salários ainda estão baixos, reduzindo o poder aquisitivo dos trabalhadores. “O resultado dessa equação traz um baixo rendimento médio, em torno de pouco mais de R$ 2 mil, sendo um fator negativo para nossa realidade”, afirmou. A Região Metropolitana de Campinas fechou o ano passado com o saldo positivo de criação de 31.003 postos de trabalho, mas o Mapa do Emprego, do Observatório PUC-Campinas, apontou que as pessoas estão sendo contratadas ganhando menos do que as que foram demitidas.

A média salarial dos admitidos ficou em R$ 2.237,55, contra R$ 2.370,74 dos que foram dispensados, diferença de 5,61% no valor absoluto, sem contar a queda do poder aquisitivo gerada naturalmente pela elevação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial e fechou o ano passado em 4,62%. O cenário é pior se considerar que 74,42% do saldo de emprego, o que representa 23.075 das novas vagas, foram ocupados por jovens de 18 a 24 anos com ensino médio completo e com contratos com salário inicial de R$ 1.837,31, como mostram os dados do Observatório da PUC-Campinas.

Para Edgard Leonardo, a redução da inadimplência ocorrerá “através de políticas públicas que gerem emprego de melhor qualidade e formalizem o mercado de trabalho, o que fará com que a renda das famílias possa ser aumentada”. O economista apontou que a disposição do governo federal de incentivar a retomada dos investimentos por partes das indústrias poderá trazer esses benefícios.

REFLEXOS

Carlos Henrique Zacarias conhece bem essa realidade do mercado de trabalho que ajuda a alimentar a inadimplência. “Quem não tem dívidas?”, questionou, enquanto circulava pelas ruas do Centro para tirar fotocópias do currículo para distribuir. Ele tem dívidas com cartão de crédito e tem conseguido apenas empregos com salários baixos. No último quadrimestre de 2023, Zacarias ocupou a vaga temporária de metalúrgico em uma indústria, mas sem carteira registrada.

Em seguida, conseguiu trabalho como jardineiro, mas o tão sonhado emprego com registro durou apenas dois meses. “Eu fui demitido esta semana, mas, para Deus, nada é impossível”, afirmou, com a esperança de conseguir uma recolocação a curto prazo. Carlos Zacarias justificou que depende de um emprego com salário melhor para conseguir saldar as dívidas.

Vera Lúcia Gonçalves, que está tentando se aposentar há seis meses, chegou a renegociar dívidas atrasadas no ano passado, mas agora enfrenta dificuldades para fazer o pagamento das parcelas e contraiu outras dívidas, com contas de água e energia elétrica atrasadas. Ela está incapacitada para trabalhar por causa de uma hérnia de disco, conseguindo andar com o apoio de bengala. “Não posso mais trabalhar e não consigo aposentar. Cada vez o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) dá uma desculpa”, afirmou.

MAIS DADOS E DESENROLA

Todas as 20 cidades da Região Metropolitana registraram alta no número de inadimplentes e no total das dívidas em janeiro, de acordo com o balanço da Serasa. Campinas atingiu o número de 443.563 consumidores com débitos, o equivalente a um a cada 2,56 moradores da cidade. O total representou um crescimento de 0,76% em relação aos 443.563 de dezembro. Em comparação aos 424.638 nos registros da empresa de análise de crédito em janeiro de 2023, a alta foi de 3,67%, abaixo da média regional. No município, o valor médio das dívidas por inadimplente é de R$ 6.518,64, enquanto a média dos débitos ficou em R$ 1.520,93.

O aumento de inadimplentes na RMC acompanhou o quadro se repetiu no país. O número de devedores no Brasil em janeiro foi de 72,07 milhões, crescimento de 1,4% em relação da dezembro, quando foi de 71,1 milhões. Na Região Metropolitana, o maior tíquete médio de dívidas por inadimplente no primeiro mês deste ano foi registrado em Valinhos, R$ 7.291,10. Na cidade, a média de cada débito é de R$ 1.826,18. Esses valores estão acima da média nacional. Em janeiro, o valor médio por pessoas ficou em R$ 5.311,96, enquanto o de cada dívida ficou em R$ 1.410,73.

Segundo o Mapa da Inadimplência, o Rio de Janeiro lidera o ranking dos Estados com população que mais tem contas em atraso, com um índice de 53,46%. Aparecem na sequência Mato Grosso (52,6%) e Distrito Federal (52,41%). O Estado de São Paulo está na oitava posição, com 46,25%.

Desde o início desta semana, o Feirão Limpa Nome promovido pela Serasa traz ofertas do Programa Desenrola Brasil, do governo federal, para tentar reduzir a inadimplência. A renegociação com até 96% de desconto envolve mais de 700 empresas, entre bancos, financeiras, comércio varejista, operadoras de telefonia e securitizadoras. Concessionárias de água e energia também fazem parte do mutirão para facilitar a quitação de contas básicas. Ao todo, mais de 550 milhões de ofertas estão disponíveis no MegaFeirão. “Nunca fizemos uma ação de tamanha grandiosidade a abrangência”, disse o vice-presidente da Serasa, Pedro Dias Lopes.

As renegociações de dívidas podem ser feitas nas agências dos Correios, através dos aplicativos da empresa de análise de crédito para aparelhos celulares Android e IOS, do site www.serasalimpanome.com.br ou do WhatsApp (11) 99575–2096. “Tudo é mega, como o percentual de descontos, o número de empresas reunidas, os benefícios acima da média e a quantidade de ofertas”, afirmou Pedro Lopes.

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