Comportamento de risco das crianças favorece disseminação do coronavírus entre os familiares
Ao mesmo tempo em que podem ser local de transmissão do vírus, as escolas são fundamentais aos pais que trabalham fora de casa (Cedoc/RAC)
Creches e pré-escolas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) poderão não retomar as atividades a partir de 8 de setembro. Os prefeitos temem que o retorno possa colocar em risco as crianças, que até agora, com o isolamento social, estão protegidas em casa da disseminação do novo coronavírus. A principal preocupação é porque que elas têm comportamento de risco: brincam, trocam brinquedos, se abraçam. A coordenadora da Câmara Temática de Educação da RMC, que reúne os secretários de educação das 20 cidades, Claudicir Brasilino Picolo, informou que há quase um consenso de que a faixa de até cinco anos é complexa para qualquer modelo de retorno às aulas. Mas há outro lado da questão. Famílias sempre contaram com escolas e creches para deixarem os filhos em segurança durante o expediente de trabalho e, com o retorno gradual das atividades, muitas não têm com quem deixá-los no período de trabalho, com risco de perderem os empregos. O retorno das aulas em todo o Estado ainda é incerto, porque depende do avanço do Plano SP e do aval da área da saúde, segundo o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares. Na sexta-feira, o governador João Doria (PSDB), anunciará o calendário de retomada - uma das exigências atuais é que a confirmação da reabertura das escolas no dia 8 de setembro depende da permanência de todas as regiões do estado na fase amarela (fase 3) do plano de flexibilização da economia, por pelo menos 28 dias. O prefeito Jonas Donizette (PSB) disse que ainda há um horizonte para a decisão, que será tomada com responsabilidade e cuidado. "Se precisar esperar, não teremos problemas, desde que a vida das crianças esteja resguardada. Muitas famílias precisam dessa volta e vamos pesar tudo isso na balança", afirmou. Em Campinas, está previsto o retorno das creches municipais e particulares credenciadas pela Prefeitura no início de setembro, com um protocolo que define restrições como não compartilhamento de brinquedos e objetos pessoais; os parques não poderão ser usados; e as mesas passam a ser individuais. Os profissionais terão à disposição álcool gel nas salas de aula e em ambientes compartilhados. A regra estabelece que o retorno será com apenas 20% dos alunos entre 4 e 5 anos, mas para alunos de até 3 anos, está sendo aguardada orientação do Ministério da Educação e do governo do Estado. Apenas na educação infantil municipal há 44,9 mil crianças de 0 a 5 anos matriculadas. O secretário de Saúde, Carmino de Souza, avalia que é melhor não ter pressa nesse retorno, especialmente das crianças menores. Para ele, mesmo que a volta seja alternada, as crianças serão expostas, o que não ocorreu até agora. "A decisão será ainda objeto de muitas reuniões para encontrar um ponto de equilíbrio onde possamos continuar protegendo as crianças e as famílias", disse. O prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), disse que vai lutar junto ao governo do Estado para impedir o retorno das crianças do ensino infantil. "Jaguariúna não tem condições de voltar, é inviável. Ainda temos disseminação crescente do coronavírus. Como vamos ter certeza da segurança das crianças, que vão querer trocar máscaras, brincar com o brinquedo do amiguinho? Ninguém é capaz de responder isso", afirmou. Se depender dele, afirmou, as aulas não retornarão na cidade em 8 de setembro. A complexidade da retomada de creches e pré-escolas é grande. Câmara de Educação fará apontamentos das fragilidades A Câmara de Educação da RMC se reuniu na semana passada, e fará nova reunião dia 10, para elaboração de um documento que será entregue aos prefeitos, em data ainda não agendada, com os apontamentos das fragilidades para o retorno da educação infantil, que é de competência dos municípios, e embasar a decisão que venham tomar. Vão desde dificuldades de atendimento dos protocolos de higiene pelas crianças, como uso de máscaras, lavagens constantes das mãos e passam pelas dificuldades que as cidades, com queda de receitas, terão para arcar com os custos de EPIS por professores e funcionários das escolas. A Câmara Temática pontua também que muitos servidores da educação não retornarão porque estão no grupo de risco - na média, 35% dos servidores. Há cidades, disse Claudici Picolo, que informaram que metade das merendeiras não retornará. "É preciso ponderar, também, que a escola tem função social, porque muitas famílias dependem das pré-escolas para poderem trabalhar e estão fragilizadas socialmente", disse. Além disso, há também a questão econômica nas escolinhas particulares, que com o fechamento, vivem situação financeira grave. "A decisão de retomar ou não terá que levar em conta questões econômicas, de saúde, de aprendizado e especialmente de preocupação com a vida", afirmou. Promotoria instala procedimentos A Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de Campinas instaurou dois procedimentos para acompanhar a execução do Plano São Paulo de retomada das atividades presenciais em escolas públicas e particulares do Município durante a pandemia de Covid-19. O promotor Rodrigo Augusto de Oliveira, no âmbito dos Procedimentos Administrativos de Acompanhamento (PAAs), determinou o envio de ofícios à Secretaria Municipal de Educação e às Diretorias Regionais de Ensino de Campinas para que, em dez dias, informem quanto aos protocolos a serem atendidos para o retorno às atividades escolares presenciais dos alunos. Ele requereu ainda dados a respeito do que já está sendo providenciado e do que ainda falta cumprir, sobre como as escolas pretendem lidar com os casos de pais, responsáveis ou próprios estudantes que não se sintam seguros para o retorno; e também em relação à eventual previsão para a consulta aos estudantes, responsáveis e aos Conselhos de Escola sobre a retomada das atividades escolares. Em relação especificamente às escolas particulares, a Promotoria quer saber se o Poder Público vem acompanhando e fiscalizando os preparativos para o oportuno retorno gradual das aulas presenciais. (Francisco Lima Neto/AAN)