MEMÓRIA

Restauro em igreja revela arte colonial de 1780 em Itu

Prospecção na capela-mor da Igreja Matriz chega a pinturas remanescentes da fundação do templo

Rogério Verzignasse
rogerio@rac.com.br
23/02/2015 às 15:29.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:25

Obras que remontam à época de fundação do templo "apareceram" atrás de camadas de tinta e telas ( César Rodrigues/ AAN)

O restauro da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, em Itu, um dos mais importantes monumentos arquitetônicos do Estado, revela imagens que encantam técnicos e visitantes. As prospecções — executadas por especialistas desde o ano passado — encontraram pinturas em elementos de madeira, do forro até o chão da capela-mor. As obras, remanescentes da época de fundação do templo, estavam escondidas por camadas de tinta e por telas artísticas afixadas pelas paredes ao longo do tempo. Foto: Divulgação Uma das pranchas que protegia relógio da Matriz e estará em mostra Algumas figuras mostram cenas de caça e de moradores trocando sacos de moedas. A arte colonial, supostamente, registra a formação dos vilarejos e as relações sociais da época. Pode, também, fazer alusão a passagens bíblicas. As prospecções revelaram até o nome do artista, Mathias Teixeira da Silva, e o ano em que as pinturas foram feitas, 1788, que estavam anotados em tinta. No momento, os desenhos são analisados por historiadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para que as mensagens possam ser interpretadas. Patrimônio raro O templo, construído em 1780 e considerado monumento nacional, é um símbolo da colonização do Interior. Tombada como patrimônio público, a igreja tem altares no estilo barroco e colunas douradas entalhadas. “A Matriz de Itu é um exemplo raríssimo da arte barroca preservada no Estado de São Paulo. A cidade, uma das mais ricas da província no século 18, também foi um dos mais importantes polos brasileiros de produção de arte”, afirma Júlio Moraes, restaurador paulistano, responsável pelas intervenções de restauro. O acervo artístico tem a assinatura de mestres como Jesuíno do Monte Carmelo, considerado o principal pintor colonial paulista. Ele foi o autor de pinturas e esculturas que se também se espalham por outras cidades antigas do Estado, como Santos e a Capital. O forro do presbitério, já recuperado, é obra de José Patrocínio da Silva Manso, e resgata uma cena bíblica importante, onde Maria e José apresentam Jesus no templo. O restauro completo da Matriz consome, desde o ano passado, investimentos da ordem de R$ 6,8 milhões. O aporte de recursos foi feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Prefeitura já assumiu metade das despesas, e agora busca parceiros privados. A ideia é que parte dos gastos sejam bancados por empresas, por meio das leis de incentivo fiscal. As obras foram licenciadas pelo Iphan e são acompanhadas por especialistas do órgão.Por enquanto, 15 restauradores trabalham no altar da capela-mor. A equipe conta com a assessoria estratégica de empresas contratadas para serviços de engenharia e tratamento de madeira. O ambiente, tomado por andaimes, é escondidos dos fiéis por uma cortina afixada no teto, que desce até o chão. Os fiéis que entram na igreja para rezar só conseguem ver, por cima da cortina, a pintura encantadora do forro. O restauro da igreja só vai terminar em 2016. Peças ‘escondidas’ poderão ser vistas em exposição   Moradores de Itu e turistas podem conhecer, a partir do dia 25, quarta-feira, diversas peças artísticas que estavam guardadas na Matriz. O acervo foi descoberto por acaso, no começo da década passada, por historiadores que vasculhavam o prédio. Foram encontradas pranchas de madeira, que protegiam o relógio da fachada. E as tábuas tinham pinturas que, dispostas uma ao lado da outra, formavam cenas bíblicas. Eram obras do mestre Jesuíno do Monte Carmelo.   As pranchas vão permanecer expostas durante o semestre na Casa da Praça, um espaço cultural mantido pela Prefeitura, perto da Matriz. A mostra serve para comemorar os 405 anos da cidade. No mesmo dia 25, acontece no Salão Paroquial “Dom Antônio Joaquim de Mello” o lançamento dos Cadernos do Patrimônio de Itu, compêndio de textos escritos por historiadores que acompanham o restauro.  Foto: César Rodrigues/ AAN Restauração de colunas douradas no interior da igreja, que é exemplo fiel de arte barroca da época colonial   SAIBA MAIS   Itu, localizada a 55 quilômetros de Campinas, nasceu ao redor de uma capelinha construída por colonizadores portugueses, devotos de Nossa Senhora da Candelária. Daquela região, partiram os bandeirantes que, a bordo de canoas, desbravaram o Interior. O Centro Histórico preserva conjunto arquitetônico histórico belíssimo.   Na cidade, aconteceu em 1873 a convenção republicana, quando os fazendeiros e profissionais liberais, organizados em um novo partido, lançaram as bases de uma campanha nacional pela mudança do regime político brasileiro. O sobrado da reunião se transformou em um museu localizado ao lado da Matriz.

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