FALTA ESPÍRITO COLETIVO

Resistência à máscara em Campinas ainda persiste em locais de risco

Comportamento é facilmente verificado no transporte urbano e por aplicativos

Ronnie Romanini
25/05/2022 às 09:07.
Atualizado em 25/05/2022 às 09:07
Entre os usuários que aguardavam o ônibus no Terminal Central, muitos estavam sem a máscara, enquanto outros a usavam pendurada na orelha: a maioria alega desconhecimento sobre a exigência (Kamá Ribeiro)

Entre os usuários que aguardavam o ônibus no Terminal Central, muitos estavam sem a máscara, enquanto outros a usavam pendurada na orelha: a maioria alega desconhecimento sobre a exigência (Kamá Ribeiro)

Uma das medidas sanitárias para o controle das doenças respiratórias sazonais e combate à covid-19, publicada na segunda-feira (23) no Diário Oficial do Município, por meio de um decreto, é a continuidade da exigência do uso de máscaras em meios de transporte, como nos fretados, ônibus e transporte por aplicativos, além dos locais de acesso, embarque e desembarque. Apesar disso, em visita ao Terminal Central na terça-feira (24) à tarde, foi possível ver pessoas dentro dos ônibus sem o equipamento, embora a maioria estivesse cumprindo a determinação municipal. 

Quem não estava de máscara dentro do terminal se justificou alegando que costuma colocar o equipamento ao entrar no veículo. Outros, relataram desconhecer a regra que exige a proteção, como o jovem Mauro Santiago. 

"Já tomamos a vacina e se ela realmente for eficaz, entendo que não seja mais necessário. No começo, era um pouco pior, tinha muita gente doente, mas, agora, a gente vê que os casos estão diminuindo. É o que vejo, não sei se realmente é verdade, mas me despreocupa um pouco mais."

Entretanto, ao ser informado da existência de um decreto determinando o uso da máscara, ele admitiu que isso muda o seu ponto de vista. "Se é uma lei, é porque precisa ser cumprida. Temos que respeitá-la para o nosso próprio bem. Isso teria que ser mais divulgado. Dá para perceber que as pessoas não se importam muito com a saúde delas, tem muita gente sem máscara."

Por outro lado, há quem ainda se preocupe não apenas com a saúde individualmente, mas também coletivamente. "A gente vê que os mais jovens ficam sem máscara no ônibus. Parece não estão mais ligando em se proteger. Eu ainda uso porque me preocupo, ainda mais na terceira idade. Aí já viu,né?. Estou com as três doses e indo para a quarta. Às vezes, fico incomodada, mas não podemos nem falar nada. Temos que ficar quietos", lamentou a aposentada Alzira Vicente, de 63 anos.

A dona de casa Madalena Marcuçço, de 60 anos, é outra que fica tensa com a quantidade de pessoas sem máscaras dentro dos coletivos. "No momento em que entrei no ônibus, vi muita gente sem. É preciso se e prevenir. Mesmo que a situação tenha melhorado, o surto ainda está por aí. Não tem como não ficar (com medo). Meu marido pegou covid-19 e ficou seis dias internado. Eu continuo recomendando: use máscara!"

Outra usuária do transporte público, Paula de Sousa Fernandes, de 24 anos, lembrou que os avisos indicam a obrigatoriedade do uso. "Eu vi duas ou três pessoas sem no ônibus, mas tem a placa informando que tem de usar. Das pessoas que não usam, a maioria é sem noção. Elas sabem que correm riscos e ainda colocam os outros em risco também."

No transporte por aplicativos, o desrespeito à determinação também é comum. Um motorista, que não quis se identificar, estimou que mais da metade dos passageiros que ele busca não usam o equipamento. Ele contou que isso o incomoda bastante, mas que teme a reação das pessoas caso mencione o assunto. Diante disso, a solução encontrada por ele foi a de abrir as janelas do carro para não confrontar o passageiro e minimizar a exposição ao risco da covid-19. 

Ele recordou o caso que aconteceu em São Paulo na semana passada, quando uma influencer digital, com 18 milhões de seguidores em uma rede social, expôs um desentendimento com um motorista e gerou polêmica. Ela afirmou ter sido expulsa do carro por insistir que o vidro do carro fosse fechado, o que foi negado pelo motorista em função da covid-19.

Com repercussão, noticiou-se que o motorista havia sido desligado da plataforma, o que foi negado pela empresa em uma postagem em rede social, com a justificativa de que o caso ainda está em análise e que o motorista segue ativo na plataforma.

O médico infectologista do Hospital PUC-Campinas, André Giglio Bueno, afirmou que a decisão de manter as máscaras nos meios de transporte, principalmente o público, segue a mesma lógica dos ambientes fechados nas escolas: a presença nesses locais não é uma escolha da população, ao contrário de outros em que o uso da máscara é liberado, como festas, restaurantes e shoppings.

"É o mesmo raciocínio que embasou a nota técnica em relação às escolas. Para boa parte das pessoas não é uma escolha estar no transporte público, é uma situação em que não há alternativa. Então, não tem como depender apenas do bom senso de outras pessoas ou de outras medidas para reduzir riscos. Acho interessante manter a obrigatoriedade nesses casos. Não há como saber quem está vacinado, se alguém está ou não sintomático ou se teve contato recente com alguém com covid-19. Em ambientes com aglomeração, em que alguns não vão ter a escolha de estar ali ou não, faz sentido manter a obrigatoriedade."

Sobre o fato de as pessoas flexibilizarem mais o uso nos locais de acesso, embarque e desembarque do que dentro do ônibus, Bueno comentou que, no caso de um terminal ter uma área aberta e com possibilidade de distanciamento entre as pessoas, a máscara não seria primordial. 

Ele citou que a adesão à medida pode ser prejudicada, uma vez que em alguns lugarres a máscara é exigida mesmo com o ambiente mais arejado e sem aglomeração, enquanto em locais fechados, como restaurantes e bares, o uso não é mais orbigatório. 

A infectologista da Unicamp e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi, lembrou que há aumento de casos de covid-19 e internações, também decorrentes de outros vírus respiratórios. Além disso, com a estagnação da cobertura vacinal contra a covid-19 na população infantil, ela classificou como "corretíssima" a decisão da Prefeitura. "Ela está pensando no bem de todos nós", concluiu.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por