BAÚ DE HISTÓRIAS

Repórter e educador, século adentro

Rubem Costa, que fará 100 anos em abril, é o jornalista vivo mais antigo da cidade de Campinas

Rogério Verzignasse
02/04/2019 às 17:15.
Atualizado em 04/04/2022 às 10:58

Antes de tudo, ele foi professor. Uma carreira brilhante, laureada com prêmios e reconhecimento. Ele foi diretor de colégios tradicionais da região. Assumiu a diretoria regional de ensino e se entregou, a vida toda, ao prazer de escrever. Rubem Costa - que no próximo dia 22 de abril completa cem anos - se tornou escritor, publicou livros e ganhou assento nas academias de letras. Mas, para repórteres, editores, radialistas e apresentadores, ele, há muito tempo, é tratado como imortal. Rubem Costa possui o mais antigo registro como jornalista em Campinas. Entre os profissionais vivos, ninguém começou a trabalhar há tanto tempo. Ele já carregava bloquinhos há oito décadas. O repórter apareceu antes mesmo de existir uma faculdade que formasse gente para as redações. Valia o talento, a paixão pelas letras, o entusiasmo para divulgar notícias e conhecimento. No velho e inesquecível Diário do Povo, por exemplo, ele chegou a manter por anos uma coluna literária, a badalada “Estante e Prelo”. O cidadão - campineiro da gema - não estava preso a cargo, diploma, rotina. Ele mergulhava de cabeça em projetos de vida. O homem já tinha passado das 40 primaveras, por exemplo, quando se formou advogado. Tem mais. Como se ainda fosse um jovenzinho, aos 72 anos ele foi eleito presidente da Academia Campinense de Letras (ACL), lá em 2001, cheio de ideias para modernizar o sodalício e atrair o interesse dos jovens pela leitura. É, ele colaborou para fazer da academia - antigo ponto de encontro exclusivo de literatos e celebridades - um espaço aberto a exposições, músicas, debates. Causos  Quem já teve o prazer de conversar com Rubem Costa ouve causos sensacionais. Histórias que chegam da boca de um homem que foi testemunha ocular de uma Campinas que não existe mais. Ele lembra, por exemplo, do episódio sensacional de 1939, ano em que as comemorações pelo bicentenário da cidade agitavam os meios culturais. Ele andava pela cidade quando testemunhou a colisão entre o bonde e um carro. Quando ele correu para ajudar a motorista, que ficou com as pernas presas, descobriu que ao volante estava ninguém menos que Carmem Miranda, brasileira de fama internacional, que estava na cidade para fazer um show. Outra história impagável. Ele conta que cobria a visita do ex-governador Adhemar de Barros a Campinas, quando, no palanque, o político falou que nos seus bolsos “nunca tinha entrado dinheiro do povo”. Ao que um eleitor na plateia disparou: “Calça nova, governador?” . Pronto. A gargalhada geral virou até capítulo de livro. Ah, o Rubem hoje mora com a Marilene, sua segunda esposa, em um apartamento lá no Taquaral. A dona é dedicada. Fala que o homem - como todo marmanjo - precisa de alguém para dizer que roupa usar ou para dizer que o cabelo está despenteado. Mas ele está muito bem. Caminhando, forte, animado. Reclama um pouquinho. Diz que o ouvido não é mais aquelas coisas, e que ele não tem mais a velha habilidade para se expressar. O pensamento, brinca, é mais rápido que a capacidade de falar. E as palavras, às vezes, somem do discurso. Mas, logo ele lembra. É, aquele cérebro guarda histórias demais. “Quando era adolescente, tirei a menina para dançar no baile, e ela falou que eu era um pobretão e devia me enxergar. Foi a motivação que eu tive para estudar sem parar e me tornar professor.” “Quando fui diretor de ensino, a primeira providência que tomei foi abrir a escola à noite, e garantir estudo para quem precisava trabalhar durante o dia.” “Quando entrei na redação do Diário do Povo, a cadeira tinha só três pernas e a máquina de escrever era de 1918. Só havia homens na redação. Ainda bem que o jornalismo mudou.” História Desde sempre, Rubem Costa procurou fazer da carreira de jornalista uma prestação de serviço social. E isso se deve à sua própria história de vida. Ele nasceu em uma família muito humilde. E, quando foi se matricular no Colégio Carlos Gomes, não tinha terno para usar, o que era uma regra. Foi aí que ele resolveu fundar um jornalzinho e denunciar que os estudantes mais pobres não tinham chance de progredir na vida. Também começou a denunciar a qualidade do ensino. Daí seis meses, ele estava contratado como repórter do Diário. Saiba mais Na carreira de educador, Rubem Costa passou por colégios tradicionais da região: Jovino Silveira, em Serra Negra; Ginásio Estadual de Monte Alegre do Sul, Humberto Piva, de Pedreira; Cardeal Leme, de Pinhal; Emilio Romi, de Santa Barbara, Ginásio Estadual de Amparo, Ataliba Nogueira, de Campinas. Depois ele se tornou inspetor de alunos e, no finalzinho dos anos 60, já era diretor regional de ensino. Elisabete, filha de Rubem, apresenta orgulhosa um histórico repleto de condecorações, medalhas, diplomas e títulos de mérito, oferecidos por instituições civis, militares, públicas e privadas.

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